Reino Unido

Ministro britânico renuncia contra condução de negociações do Brexit

Boris Johnson é o terceiro do Gabinete de Theresa May a pedir demissão em dois dias; ele foi um dos principais líderes da campanha no referendo de junho de 2016

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30
O ministro do Exterior do Reino Unido, Boris Johnson, renunciou ao cargo de ministro do Exterior
O ministro do Exterior do Reino Unido, Boris Johnson, renunciou ao cargo de ministro do Exterior (Boris Johnson)

LONDRES - O ministro do Exterior do Reino Unido, Boris Johnson, apresentou carta de renúncia ao cargo ontem. Ele é o terceiro a pedir demissão em dois dias: o titular da pasta encarregada de supervisionar a saída do país da União Europeia, David Davis, e o secretário de Estado do Brexit, Steve Baker, fizerem o mesmo no domingo. A decisão dos integrantes do gabinete da primeira-ministra Theresa May vem como um protesto contra a forma como o governo tem administrado as negociações com o bloco europeu, cedendo muito à UE e desagradando os partidários do chamado "hard Brexit" (Brexit duro).

Ex-prefeito de Londres e conhecido pelo comportamento mercurial, Johnson foi um dos principais líderes da campanha pró-Brexit no referendo de junho de 2016, que aprovou por pequena margem a saída do Reino Unido da UE, a ser concretizada em março do próximo ano.

"Esta tarde, a primeira-ministra aceitou a renúncia de Boris Johnson como secretário do Exterior", disse a porta-voz de May em um comunicado. "Sua substituição será anunciada em breve. A primeira-ministra agradece a Boris por seu trabalho".

May defende

Na sexta-feira, 6, May evitou uma rebelião ao alcançar um acordo com seus ministros sobre a futura relação do Reino Unido com a UE. O consenso no Gabinete veio após a premier conseguir convencer os membros mais pró-Brexit a apoiar uma proposta de laços econômicos mais estreitos com Bruxelas por meio de uma zona de livre comércio.

Boris Johnson disse que o governo britânico "adiou decisões cruciais, incluindo preparações para uma saída do bloco sem acordo". O agora ex-ministro disse que, diante do plano de May, o Reino Unido "está caminhando para o status de colônia" da UE.

"Parece agora que a oferta inicial de nossas negociações envolve aceitar que não conseguiremos realmente fazer nossas próprias leis", disse Johnson em carta de renúncia. "Estamos realmente caminhando para o status de uma colônia, e muitos terão dificuldade em ver a vantagem econômica ou politica desse acordo em particular".

A nove meses da oficialização da saída da UE, em março de 2019, o novo ministro do Brexit, Dominic Raab, assume o desafio de finalizar grandes questões nas negociações dentro do governo britânico sobre o Brexit, como o futuro das relações comerciais ou a fronteira entre as duas Irlandas, que passará a ser a única fronteira terrestre entre Reino Unido e UE, já que a República da Irlanda continuará no bloco.

Em pronunciamento ao Parlamento nesta segunda-feira para falar sobre os pontos acordados na sexta-feira, May disse que os dois modelos apresentados pela UE são inaceitáveis, pois separariam as duas Irlandas com uma fronteira física e fariam com que o Reino Unido continuasse a pagar grande montantes à Europa se permanecesse no mercado único e na união alfandegária.

Ela afirmou que a livre circulação de produtos é a única forma de evitar uma fronteira entre Irlanda do Norte (Reino Unido) e Irlanda (UE) e de proteger as cadeias de fornecimento. A premier disse que as regulações europeias que o Reino Unido teria de aceitar da UE passariam por aprovação do Parlamento. Ela reiterou que, caso negadas, haveria consequências ao país.

No entanto, ela disse que se a UE se mantiver no atual curso de resistência à proposta britânica, o processo poderia acabar sem um acordo de separação: "O que estamos propondo é desafiador à UE", disse May, sustentando que não há recuo no Brexit.

Queda de apoio

Uma pesquisa divulgada ontem.9 mostra que a aprovação do eleitorado britânico à condução da negociação do Brexit por May caiu para 29%, o menor nível desde o início dos levantamentos em novembro de 2016, segundo o instituto ORB International. O índice chegou a 55% no começo de 2017, mas vem recuando desde então.

Segundo a sondagem, que consultou 2 mil pessoas, 56% dos eleitores não estão confiantes de que May conseguirá um acordo correto para o Reino Unido, enquanto 26% acreditam que o resultado será favorável ao país.

"May perdeu seu ministro do Brexit, mas também está perdendo cada vez mais a confiança de eleitores", afirma Johnny Heald, diretor-gerente do ORB International.

Já uma pesquisa do instituto YouGov mostra que, entre defensores da saída da UE, 52% acreditam que ela está sendo uma boa premier, ante 73% em setembro de 2017. Já entre os que são favoráveis à permanência no bloco, 78% apoiam May, o que representa um crescimento ante 70% em setembro do ano passado.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.