Lava Jato

Decisão sobre liberdade de Lula expõe posicionamento políticos dos agentes da Justiça brasileira

Plantonista do TRF-4 manda soltar ex-presidente e provoca manifestação contrária do juiz Sérgio Moro e do relator da Lava jato no próprio tribunal; polêmica levou à nota da presidente do STF

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30

BRASÍLIA - Uma decisão do desembargador federal plantonista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), Rogério Favreto, de mandar soltar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba (PR), desde abril, expôs ontem o conflito de interpretações, ideologias e o posicionamento político da Justiça brasileira.

Fraveto determinou a soltura de Lula por volta das 10h. Mas o juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, que está de férias, se recusou a cumprir a ordem e protelou, até que o relator da Lava Jato no TRF-4, João Pedro Gebran Neto, revogasse a decisão do colega de tribunal. O plantonista voltou a ordenar a soltura do ex-presidentepor volta das 16h – aelgando estar no pleno exercício de suas competências – e deu uma hora para o cumprimento da decisão. Mais uma vez a decisão não foi cumprida, até que, por volta das 19h30, o presidente do TRF-4, desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores, cassou novamente a decisão, mantendo Lula preso.

O posicionamento de Rogério Fraveto repercutiu imediatamente em todo o mundo, e gerou forte debate na mídia e nas redes sociais, levando, inclusive, a uma manifestação da presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, que pregou o respeito à hierarquia das decisões judiciais e aos ritos processuais.

Em ambas as decisões, o plantonista do TRF-4 alegou estar decidindo sobre fatos novos. O recurso da defesa de Lula foi protocolado na última sexta-feira, levantando um fato novo para a liberdade do ex-presidente: o fato de ele ser pré-candidato a presidente da República. Em seus despachos, Fraveto entendeu que a Constituição dava o direito a Lula de ser candidato em igualdade de condições e que a prisão o impedia de exercer seus direitos políticos.

"Desse modo, já respondo a decisão (Evento 17) do eminente colega, Des. João Pedro Gebran Neto, que este magistrado não foi induzido em erro, mas sim deliberou sobre fatos novos relativos à execução da pena, entendendo por haver violação ao direito constitucional de liberdade de expressão e, consequente liberdade do paciente, deferindo a ordem de soltura", diz trecho da segunda decisão publicada por Rogério Favreto, já se referindo à interferência do colega de tribunal.

Férias

O juiz Moro está em férias, mas, segundo a assessoria da Justiça Federal do Paraná, "por ser citado como autoridade coatora no habeas corpus, ele entendeu possível despachar no processo".

Em nota assinada pelo advogado Cristiano Zanin Martin, a defesa do ex-presidente se manifestou sobre a determinação da soltura de Lula. O texto, elencado em cinco pontos, diz que o juiz Sérgio Moro não poderia impedir o cumprimento da determinação de Favreto por estar em férias.

Além disso, considera incompatível a atuação de Moro, e acrescenta que ele trabalha em parceria com o MPF de Curitiba. Por fim, a defesa sustenta que o petista sofre perseguição política e reforça que usará todos os meios legais para provar que a prisão de Lula é "incompatível com o Estado de Direito".

Mais

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, criticou por meio de nota a Polícia Federal pelo não cumprimento da ordem de soltura dada pelo desembargador plantonista Rogério Favreto. Ela também criticou o juiz Sérgio Moro, o desembargador João Pedro Gebran Neto e o presidente do TRF-4, desembargador Thompson Flores, por não acatarem a decisão de Favreto. Gleisi também criticou os tribunais superiores que, segundo a nota, deveriam agir. E exigiu que a decisão seja cumprida. O petista foi condenado no processo do triplex, no âmbito da Operação Lava Jato, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele está preso desde abril deste ano em Curitiba.

Veja as decisões de domingo

Pela manhã, o desembargador federal plantonista do TRF-4, Rogério Favreto decidiu conceder liberdade a Lula.

Em seguida, o juiz Sérgio Moro afirmou que o desembargador plantonista não tinha competência para mandar soltar Lula.

Logo depois, Favreto emitiu um novo despacho, reiterando a decisão de mandar soltar o ex-presidente.

No início da tarde, o Ministério Público Federal pediu a reconsideração da decisão sobre o pedido de soltura.

O desembargador federal João Pedro Gebran Neto, relator dos processos da Lava Jato em segunda instância, determinou que não fosse cumprida a decisão de Favreto.

Em resposta ao relator, o desembargador federal plantonista do TRF-4, Rogério Favreto voltou a ordenar a soltura do ex-presidente Lula.

Advogados pedem prisão

do juiz Sérgio Moro

Entidade representativa da categoria diz

que magistrado descumpriu ordem judicial

Sérgio Moro tomou decisões e se manifestou mesmo de férias
Sérgio Moro tomou decisões e se manifestou mesmo de férias

Uma entidade de advogados pediu ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região a prisão do juiz federal Sérgio Moro e do diretor-executivo da PF no Paraná.

Eles alegam que ambos teriam descumprido alvará de soltura emitido pelo desembargador plantonista Rogério Favreto em face do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Conforme consta do despacho da autoridade coatora, e Magistrado - notoriamente gozando férias em Portugal, e, portanto, sem jurisdição em sua própria vara, o juiz de primeiro grau ordenou que a Polícia Federal descumpra a ordem emanada por este Tribunal Regional Federal, nos termos abaixo transcritos", afirmam.

STF

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, afirmou em nota neste domingo (8) que a Justiça é "impessoal" e que os ritos do Poder Judiciário devem ser "respeitados".

A nota foi divulgada em meio à polêmica causada pela decisão do desembargador federal plantonista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), Rogério Favreto, que determinou a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Sem citar o petista, Cármen Lúcia diz que a democracia brasileira é "segura" e que os órgãos judiciários competentes de cada região devem "atuar para garantir que a resposta judicial seja oferecida com rapidez e sem quebra da hierarquia".

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