Poder

Sánchez, o articulador da queda do chefe de governo da Espanha

Líder socialista precisou formar aliança instável para obter apoio para moção que depôs Mariano Rajoy

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31

MADRI - Derrotado nas últimas duas eleições e depois expulso da liderança do seu partido antes de regressar pela porta da frente, o socialista Pedro Sánchez saiu vitorioso com uma última e arriscada aposta que o levou ao poder na Espanha. Liderando uma onda de indignação pela condenação judicial do Partido Popular do agora ex-chefe de governo Mariano Rajoy em um caso de corrupção, Sánchez foi recompensado por sua obstinação ao obter o apoio para aprovar, na sexta-feira, 1º, uma moção de censura que o colocou no lugar de Rajoy.

" Abre-se um novo na política espanhola (...) e estendo a mão a todos os grupos parlamentares", disse Sánchez, na sexta-feira, 1º, pouco antes de o Congresso dos Deputados o empossar como substituto do conservador.

Na quinta-feira, 31, ao expor seu plano de governo, Sánchez já contava com o afastamento do líder do PP, dizendo que "Rajoy já faz parte de um tempo passado", que o país está "prestes a mudar" e que o melhor para a Espanha "é olhar para o futuro sem medo".

" A sorte lhe deu a chance de poder desempenhar um papel central", afirmou o cientista político Fernando Vallespín, da Universidade Autônoma de Madri, para quem Sánchez fez "uma aposta mais do que arriscada" e "um pouco desesperada".

Segundo ele, foi uma jogada decidida também no momento em que o Partido Socialista Operário da Espanha (PSOE) se encontrava "muito afastado da linha de frente da discussão política", ocupada pelo PP, pelos liberais do Cidadãos e pela esquerda radical do Podemos, acrescenta o especialista.

Retorno

Com apenas 84 cadeiras de 350 vagas na Câmara Baixa, Sánchez, que não é deputado, viu-se obrigado a formar uma coalizão pela moção de desconfiança com a esquerda radical do Podemos, os separatistas catalães e os nacionalistas bascos. Uma maioria tachada como "coalizão Frankenstein" pelo PP, e que antecipa um governo muito instável e que pode encurtar a permanência de Sánchez no Palácio da Moncloa.

Ex-professor de economia de 46 anos, o líder socialista pretende adotar medidas sociais rapidamente para "impulsionar a popularidade do PSOE", indica Antonio Barroso, analista do gabinete Teneo Intelligence, para chegar fortalecido a eleições antecipadas, nas quais as pesquisas davam o Cidadãos como ganhador.

" É um político audacioso e não excessivamente reflexivo e que pensa mais em termos de curto prazo", aponta Vallespín.

Nascido em 29 de fevereiro de 1972 em Madri, cresceu em uma família de boas condições, de pai empresário e mãe funcionária pública. Ao mesmo tempo que dedicava muitas horas ao basquete (mede 1,90 m), estudou Economia, primeiro em sua cidade e, depois, em Bruxelas.

Amante da política desde jovem, segundo seus companheiro de classe, foi vereador em Madri de 2004 a 2009, quando se tornou deputado, e sua carreira decolou.

Em 2014, foi o primeiro líder do PSOE a ser eleito pelos militantes, mas seu enfraquecido partido chegou atrás de Rajoy nas eleições de dezembro de 2015. Tentou formar governo com os partidos emergentes Podemos e Cidadãos, mas a iniciativa naufragou.

Nas eleições em junho de 2016, o PSOE registrou seu pior resultado desde o restabelecimento da democracia espanhola em 1977. Sánchez foi duramente criticado por uma rebelião interna de seu partido, que o culpava pelos maus resultados nas urnas. Voltou em grande estilo em maio de 2017, quando os militantes lhe devolveram a liderança do partido.

'Judas' da da direita

Embora tenha feito uma frente comum com Rajoy nos últimos meses contra a tentativa separatista na Catalunha, Sánchez será lembrado pelo PP como aquele que conseguiu derrubar um chefe de governo que sobreviveu a inúmeras crises prévias.

Sánchez "entrará para a história da Espanha como o Judas da política", disse recentemente Fernando Martínez-Maillo, número três da sigla conservadora. Rajoy, agora chefe da oposição, criticou-o na quinta-feira, 31,no Câmara dos Deputados, por realizar um "exercício de oportunismo a serviço de uma ambição pessoal".

Denunciando um "líder devorado pela ambição", o jornal "El Mundo" publicou na quarta-feira uma charge, na qual ele aparece praticando seu discurso diante de um espelho.

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