Risco de vida

Apesar de alerta da Defesa Civil, moradores ficam em áreas de risco

Famílias ouvidas por O Estado, e que estão com imóveis sob ameaça de deslizamento de terra, não querem sair dos imóveis por falta de condições financeiras e, com isso, têm de aprender a conviver com o medo

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31

[e-s001]Apesar dos avisos dados in loco pela Defesa Civil Municipal, que apontam riscos de deslizamento de terra em várias partes de São Luís, moradores dessas localidades se recusam a deixar os imóveis, alegando falta de condições financeiras. O drama de algumas famílias sensibilizou responsáveis pelas campanhas nas redes sociais em prol dessas pessoas.

A situação mais grave registrada por O Estado em relação a riscos de desmoronamento de terra é na Vila Dom Luís, localidade da área Itaqui-Bacanga, em São Luís. Segundo dados da Defesa Civil, o bairro é um dos que apresenta registro de áreas de risco e, recentemente, técnicos do órgão estiveram em alguns dos imóveis para isolá-los das barreiras. O isolamento foi feito com sacos plásticos que, de acordo com a Defesa Civil, podem conter a erosão de terra agravada pelo excesso de chuvas, que deixa o terreno frágil e mole.

Mesmo com o trabalho da Defesa Civil, famílias vizinhas das barreiras contaram parte de seus dramas. As pessoas convivem com o medo e ameaça de vida constante.

Uma delas é Maria do Socorro Araújo, que reside na Rua da Mangueira, na Vila Dom Luís, há mais de 30 anos. Ela conta com tristeza a situação de sua casa, que está próxima a uma barreira. “Eu nunca tive tanto medo de morar aqui como estou agora”, disse.

Ela, que vive no imóvel com outras sete pessoas – sendo duas crianças –, disse que está sem opção de moradia, caso tenha de sair da residência. “A gente vive com dificuldades e não tem para onde ir”, confirmou.

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O aposentado Antônio Ribamar Pereira, cuja casa está fixada na Vila Dom Luís, também lamentou a situação. “Todo período de inverno [chuvoso] é assim. A gente não sossega enquanto não acaba essa chuva”, disse.

Mas a situação mais dramática na Vila Dom Luís está na residência de Jacenilde Garcia, dona de casa. Ela mora com os pais em uma casa no bairro há 20 anos, e que está fixada a poucos metros de uma grande parede de terra. Na parte de cima da parede, há um imóvel que ameaça, com a chuva, vir abaixo. “Não dá para ter tranquilidade morando aqui”, disse.

Ela confirmou que a Defesa Civil esteve, há alguns dias, em sua casa para colocar sacos plásticos na parede de terra para conter a erosão. Mesmo com a medida, a dona de casa não considera o problema resolvido. “Das duas, uma. Ou a gente deveria ter uma proteção melhor aqui ou deveria se mudar para um outro imóvel mantido pela Prefeitura [de São Luís]”, afirmou.

[e-s001]Na Vila Embratel, também na área Itaqui-Bacanga, outras casas também estão sob o risco de desmoronamento. Uma delas é a do pintor Ironilson Silva Rodrigues. “A situação está melhor, mas ainda perigosa. A gente fica aguardando a resposta das autoridades públicas”, afirmou. A situação também é grave na rua São Raimundo, na Vila Lobão. Um trecho da via está parcialmente cortado e ameaça cair exatamente na rua situada mais abaixo.

Defesa Civil monitora áreas de risco e orienta famílias

A Defesa Civil Municipal monitora as áreas de risco da capital maranhense, especialmente durante o período chuvoso. O objetivo é fazer um trabalho preventivo para evitar os riscos de desmoronamentos, especialmen­te nas localidades com solo mais frágil. De acordo com o órgão, localidades como Anil, Novo Angelim, Isabel Cafeteira, Pão de Açúcar, João de Deus, Vila Progresso, Cantinho do Céu, Vila Marinho, Fé em Deus, Pirapora, Cohama e Turu foram verificadas.

Além de verificar a situação do solo, a Defesa Civil também checa as condições do imóvel para minimizar os riscos de desmoronamentos. “As famílias recebem recomendações sobre medidas preventivas que reduzem riscos, como, por exemplo, não colocar lixo na base da encosta, ação simples que preserva a vegetação da área e evita a sedimentação das barreiras, uma das causas dos deslizamentos”, disse a superintendente da Defesa Civil do Município, Elitânia Barros.

Para o trabalho de orientação à população, a Defesa Civil conta com a parceria de outros órgãos municipais e estaduais. Inclusive, para executar medidas preventivas junto às famílias que necessitam de ajuda, foi montado um plano de contingência. A ideia, com o trabalho, é evitar tragédias, como a registrada no dia 11 de abril de 2009, quando duas pessoas identificadas, na ocasião, como José Luís Melo Amorim, de 25 anos, e sua companheira, Maria da Glória, morreram soterradas no bairro Salina do Sacavém, em São Luís.

Fique atento

Ajuda para o interior
A Cruz Vermelha, em parceria com outras entidades, auxilia no envio de donativos (entre roupas e alimentos) para os desabrigados do interior do estado, em virtude de fortes chuvas. De acordo com o órgão, até sexta-feira (20), foram recolhidas quase quatro toneladas de mantimentos, que deverão ser levadas às famílias a partir da próxima semana. Segundo a assessoria da Cruz Vermelha, o primeiro município beneficiado será Marajá do Sena, um dos mais atingidos pelas precipitações.

Localidades com riscos
Levantamento feito pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) – empresa pública vinculada ao ministério das Minas e Energia – apontou que o Maranhão apresenta atualmente 245 áreas de risco de deslizamentos de terra distribuídos em 86 municípios do estado. Em São Luís, segundo a entidade, existem áreas sujeitas a deslizamentos nos seguintes locais: Vila Nova, Prainha, Sol Nascente, Bonfim, São Francisco, Ponta d’Areia, São Marcos, Calhau e Olho d’Água.

Telefones
Outras informações acerca de áreas de risco ou para chamado de equipes, basta ligar para os seguintes números da Defesa Civil Municipal: 3212-8473 ou 153

SAIBA MAIS

Localidades com riscos de deslizamentos:

Vila Nova
Prainha
Sol Nascente
Bonfim
São Francisco
Ponta d’Areia
São Marcos
Calhau
Olho d’Água

Fonte: Serviço Geológico do Brasil (CPRM)

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