Fontes podem secar

A água que não se vê e que pode se tornar inutilizável em três décadas

Além das fontes superficiais, reservas subterrâneas exigem proteção dos poderes públicos nos próximos anos e, em especial, na região metropolitana; vários fatores contribuem para a diminuição da capacidade de absorção

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32

“Águas que movem moinhos. São as mesmas águas que encharcam o chão. E sempre voltam humildes pro fundo da terra”. O trecho da música “Planeta Água”, do cantor e compositor Guilherme Arantes, retrata o que seria o ciclo normal de extração de água no planeta, ou seja, o uso no ambiente externo e a volta para o subsolo. No entanto, devido a fatores relacionados à modernidade (desmatamento, ocupação indevida do solo urbano, descarte irregular de resíduos, entre outros), o ciclo natural sofre interferências e compromete as reservas que ficam armazenadas debaixo da terra, ou seja, as chamadas fontes subterrâneas. Assim como em outras partes do mundo, na Região Metropolitana de São Luís as fontes do subsolo estão, em sua maioria, comprometidas e - de acordo com pesquisas recentes - podem se tornar inutilizáveis em até 30 anos.

Atualmente, de acordo com dados da Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) e de pesquisas catalogadas no livro “Gestão das Águas do Maranhão”, do doutor e engenheiro civil e ambiental Lúcio Macêdo, existem aproximadamente 400 poços perfurados em diferentes pontos da Ilha. Somado a esse total, há os chamados lençóis freáticos - que são grandes extensões de água abaixo da superfície do solo, com parte da água doce do planeta. Mas, para a manutenção dos poços - que extraem água dos lençóis - e dos lençóis propriamente ditos, é necessário possibilitar ao ambiente as condições favoráveis para que essa água, oriunda das reservas de água doce (bacias hidrográficas, por exemplo) e das chuvas, possa ser escoada.

É aí que está o problema da possibilidade de inutilização destas fontes em um futuro próximo. Por causa da formação de unidades habitacionais de maneira desenfreada e sem planejamento, o solo - que antes tinha uma capacidade x de extração de água - diminui a capacidade, dependendo das condições urbanas, em até 60%. “Quando se ocupa um solo indevidamente e que deveria estar aberto, para puxar essa água você diminui gradativamente essa possibilidade de que esta fonte de água tenha utilidade, ou um proveito ao menos próxima do ideal”, disse o doutor em Saneamento Ambiental Lúcio Macêdo, em entrevista a O Estado.

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Além da construção de unidades habitacionais em excesso (necessárias também devido ao crescimento desordenado da
população da Grande Ilha), outros fatores contribuem para a diminuição da capacidade de absorção das fontes subterrâneas na Ilha, como desmatamento, condições particulares do solo e assoreamento das reservas hidrográficas. “Quando você não contribui para a formação de áreas verdes no entorno dessas reservas subterrâneas, fica ainda mais difícil para a água descer e permanecer no solo. A ajuda, neste caso, das árvores seria fundamental, por motivos óbvios”, ressaltou o doutor, que lembrou a vigência de uma determinação, na capital, de que pelo menos 20% do solo urbano ocupado seja destinado à colocação de uma área verde.

Questionada sobre a política de responsabilidade de gestão das águas subterrâneas, em nota, o Governo do Estado informou que o programa Água para Todos, lançado em 2015 pelo Governo do Estado, tem como meta aumentar oferta de água tratada, visando melhorar o serviço prestado e, principalmente, a qualidade de vida das pessoas. Segundo o Governo, no total, a Caema disponibiliza 760 poços, os quais complementam abastecimento nas regiões em que o sistema não chega.

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