Negociações de paz

Há talibãs dispostos a negociar, diz secretário da Defesa dos EUA

Há duas semanas, o presidente afegão, Ashraf Ghani, propôs negociação de paz sob algumas condições. Jim Mattis viajou para visita "surpresa" ao Afeganistão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32

ESTADOS UNIDOS - O secretário americano da Defesa, Jim Mattis, afirmou ontem que há alguns talibãs interessados nas negociações de paz propostas pelo presidente afegão, Ashraf Ghani, há duas semanas. Ele viajou para Cabul para fazer uma visita "surpresa".

A ida de Mattis ao Afeganistão - a 3ª dele como secretário da Defesa - foi organizada em meio a um grande sigilo. Em setembro, os insurgentes dispararam foguetes contra o aeroporto da capital afegã após sua chegada.

"Talvez todos os talibãs não venham de imediato. Seria ir longe demais. Mas alguns deles estão claramente interessados nas discussões com o governo afegão", disse Mattis aos jornalistas que viajavam com ele em um avião militar rumo ao Afeganistão.

No final de fevereiro, Ashraf Ghani propôs conversas de paz aos talibãs, sob certas condições. Pelo Twitter, o movimento respondeu que a oferta parecia uma exigência de "rendição".

Depois disso, os insurgentes pediram uma conferência sobre este assunto em Jacarta, na Indonésia. O governo afegão é "ilegítimo" e suas propostas de paz "decepcionantes", dizia um comunicado divulgado na semana passada.

Ghani estabeleceu como condições para as conversas um cessar-fogo e o reconhecimento da Constituição de 2004 em troca da admissão dos talibãs como um partido político.

Já os talibãs, que classificam o governo afegão como uma "marionete" dos Estados Unidos, convocaram o governo americano para "discutir" diretamente com seus representantes no Catar, ignorando as autoridades afegãs.

'Vitória' no Afeganistão

Graças ao processo de paz, "nós nos dirigimos para uma vitória no Afeganistão", afirmou Mattis, acrescentando que será "uma reconciliação política, não uma vitória militar".

O próprio Jim Mattis havia reconhecido em junho passado que os Estados Unidos "não estavam ganhando" dos talibãs. No final de novembro, o comandante das forças americanas no Afeganistão, o general John Nicholson, chamou a situação de "ponto morto".

Apesar da presença de 100 mil soldados americanos, de um total de 140 mil militares internacionais no momento de maior presença da coalizão sob bandeira da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), os talibãs nunca foram derrotados e, desde que terminou essa operação em 2014, não param de ganhar terreno.

Uma agência do governo americano calculava em outubro que 43% do território estava sob controle talibã, ou era disputado entre os insurgentes e as forças regulares.

No ano passado, o presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou o aumento dos bombardeios contra os talibãs, em especial sobre seus laboratórios de produção de drogas e sobre seus campos de treinamento.

Atentados em alta

Nos últimos meses, chegaram ao Afeganistão mais de 3.000 militares americanos para aconselhar e treinar as forças regulares afegãs, somando 14 mil homens, enquanto que, nos últimos dias do mandato de Barack Obama, eram 8.500.

O número de atentados cometidos pelos talibãs também não para de aumentar, em resposta à estratégia de Trump, com uma quantidade cada vez maior de vítimas civis.

Os talibãs são o grupo armado mais poderoso do Afeganistão: apenas em janeiro reivindicaram 472 ataques, segundo o grupo de pesquisa sobre o terrorismo TRAC, com sede em Washington. Trata-se de um número significativo, sobretudo, levando-se em conta que a temporada de combates costuma começar mais tarde, quando as temperaturas são mais brandas.

As forças de segurança afegãs impediram alguns ataques, celebrou Mattis, que espera, porém, que tenham "uma atitude mais ofensiva" nos próximos meses.

Segundo o secretário da Defesa, o Paquistão mudou de atitude desde que Donald Trump acusou Islamabad de abrigar talibãs afegãos em seu território.

"Há operações das Forças Armadas paquistanesas nesse exato momento, enquanto eu falo com vocês", garantiu.

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