Há muito que a maçonaria deixou de ser secreta para se tornar discreta. A mudança de postura vem ao encontro dos bons ventos democráticos e devido à relação amigável com reis e rainhas, príncipes e mandatários mundo afora. Durante a consolidação das Cruzadas, a organização era restrita e hermética. As ordens dos Hospitalários e a dos Templários - ordem dos “Cavaleiros Pobres de Cristo e do Templo de Salomão” - foram iniciativas precursoras que ajudaram a formatar o modelo de seita iniciática como conhecemos hoje, a maçonaria (pedreiros construtores de igrejas). Entre elas, os Templários se tornaram ricos, poderosos e recebiam doações da nobreza, que gerou atritos e dissabores com o clero.
Num determinado período constituíram-se como os grandes financistas e banqueiros da região. Tornaram-se, em certa proporção, uma “igreja dentro da igreja”, e entrando em rota de colisão com o papa Bonifácio VIII. Em 1307, por ordem do rei Philippe, a Inquisição mandou prender todos os membros da ordem. Alguns presos foram obrigados a confessar atos contra a Igreja e após esses episódios, foram proibidos e perseguidos pelo papa em toda a cristandade. Em 1314, mesmo alegando inocência, Jacques de Molay, grão-mestre da ordem templária, e seu grupo foram queimados diante da multidão que assistia ao processo. A perseguição aos maçons virou uma regra. Como, por exemplo, no documento In Eminenti Apostolatus Specula (1738) o papa Clemente XII expediu uma bula nesse sentido. Por isso, as iniciações de novos maçons passaram a ser feita sob sigilo, secretamente. Até 1983, no Brasil, havia restrições religiosas que poderiam excomungar associados da Maçonaria, Agora, não mais!
De acordo com o jornalista Carlos Nobre no artigo “A Maçonaria e a abolição da escravatura”, Luiz Gama fundou a sociedade secreta “Os Caifazes,” cujos membros eram recrutados em lojas maçônicas de São Paulo com o objetivo de retirar à força escravos das fazendas paulistas que eram levados para viver livres no Quilombo do Jabaquara, em Santos/SP. Outra ação política importante foi a do médico Francisco de Montezuma, que chegou a ser a maior autoridade maçônica do seu tempo, já que ocupou, também, o cargo de grande comendador soberano do Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês. No setor cultural, merece destaque o maestro Carlos Gomes e o escritor Machado de Assis, fundador da Academia Brasileira de Letras. Na área de saúde vale recordar o nome do cearense Bezerra de Menezes, o “médico dos pobres”. Já no governo, o ícone da abolição é Rodrigo Augusto da Silva, Ministro da Agricultura, que assinou a Lei Áurea, junto com a princesa Isabel, em 1888.
Além dessas personalidades, há outras da família maçônica que contribuíram para a luta racial brasileira, como Quintino Bocaiúva, Ministro das Relações Exteriores (1889), Baldino do Amaral, prefeito do Rio de Janeiro (1897), ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Banco do Brasil, e Antônio Coruja, tesoureiro do Instituo Histórico e Geográfico Brasileiro (1839). Odálio Botelho em “A abolição da escravatura e os maçons” é enfático nessa articulação da maçonaria em apoio às lutas negras: “Os maçons engajados na luta pela abolição da escravidão, batendo de frente com a poderosa aristocracia escravagista, contam-se às centenas, maçons ilustres e maçons humildes, mas todos, objetivando uma causa comum, a extinção dessa mancha da humanidade”.
Alexandre Braga
Presidente da Unegro-União de Negras e Negros Pela Igualdade - Minas Gerais
E-mail: bragafilosofia@yahoo.com.br
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