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Caduco, mas já foi importante!

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32

Há 170 anos, no dia 21 de fevereiro de 1848, era publicado pela primeira vez, o “Manifesto do Partido Comunista”, documento que expressa os propósitos da então Liga dos Trabalhadores, escrito pelos teóricos fundadores do socialismo científico, Karl Marx e Friedrich Engels.

O documento, escrito em meio ao conturbado processo de lutas urbanas que ficou conhecido como “As Revoluções de 1848”, também conhecida como “Primavera dos Povos”, processo revolucionário de quase um ano que atingiu os principais países europeus e tinha como foco principal fazer uma análise crítica profunda sobre a Revolução Industrial, que estava em seu apogeu naquele momento. Duas das maiores reivindicações contidas naquele documento eram as reformas sociais e trabalhistas e o voto universal, mesmo que naquele momento, apenas para os homens.

Os principais pontos do manifesto eram: abolição da propriedade da terra e a proibição de arrendamento; tributação progressiva; extinção dos direitos sobre a herança; centralização do crédito pelo atacado nas mãos do Estado em apoio à cooperativas de microcrédito; estatização total das empresas de transporte e comunicação; estatização dos meios de produção, da agricultura e das fábricas; a igualdade entre todas as formas de trabalho além da criação de um corpo de funcionários públicos voltados para a agricultura; integração completa entre campo e cidade; educação infantil universal em escolas públicas; proibição do trabalho infantil; e integração entre mundo fabril e mundo escolar.

Visto em retrospectiva, quase tudo o que foi defendido pelo Manifesto Comunista era correto e justo, pois havia algumas incoerências do ponto de vista jurídico, como a total abolição do direito à propriedade e à herança. Taxar propriedade e herança é uma coisa aceitável, extinguir esse direito é um absurdo!

Ocorre que há 170 anos, tudo aquilo que foi sonhado e idealizado por pessoas de mentes extraordinárias, naquele momento era necessário, mas envelheceu! O verbo envelhecer aqui usado não tem nenhuma conotação negativa além de seu próprio significado, algo que o tempo de apogeu já passou. O comunismo envelheceu graças ao sucesso primário das ideias basilares difundidas e absorvidas pela sociedade, pelos filósofos que as idealizaram e propagaram. O comunismo como ideologia política se provou manco e caolho, mas como plataforma de conquistas de direitos das pessoas e das comunidades, se mostrou indispensável e eficaz.

Como regime político institucionalizado, o comunismo nunca, em nenhum lugar em que foi implantado, teve o sucesso projetado por seus idealizadores, pois há uma diferença enorme entre a tese filosófica elaborada por gênios como Marx e Engels e a executabilidade delas por políticos autoritários, antidemocráticos, sectários e maniqueístas como Lenin, Stalin, Mao ou Fidel.

Reconheço a importância das ideias filosóficas em que se baseia o comunismo, mas repudio peremptoriamente a aplicação delas de forma prática, como regime político, como forma de governo.

Muitos dos pensamentos e dos anseios de Marx e Engels, a maioria das coisas pelas quais eles lutavam para conquistar para o proletariado eram coisas pelas quais valiam à pena e precisavam ser conquistadas. Não estamos mais em 1848, as circunstâncias sociais não são mais as mesmas, mesmo que a lógica do mercado e da sociedade não tenha mudado em sua essência, e é por isso que o comunismo como idealizado há 170 anos não tem nenhum sentido. Quem insiste nessa utopia nem pode ser chamado simplesmente de doido, mas deve ser reconhecido como embusteiro.

A luta pelos direitos civis, sociais e comunitários das pessoas é bela e nobre, mas não pode ser realizada com messianismo, coisa que não existia da parte dos ateus idealizadores do comunismo.

Joaquim Haickel

Membro das Academias Maranhense e Imperatrizense de Letras e do IHGM

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