Praias ainda sujas

“Língua negra” ressurge e despeja esgoto em trecho da orla de SL

O Estado comprovou o problema, que vai na contramão da propaganda do Governo do Maranhão, ao garantir uso irrestrito da orla, com exceção da Ponta d’Areia; trecho onde o esgoto escorre para o mar está próprio, conforme placa

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h33
Esgoto in natura escorre direto para o mar na orla de São Luís, em local próprio para banho
Esgoto in natura escorre direto para o mar na orla de São Luís, em local próprio para banho (lingua negra)

A “língua negra” - fenômeno caracterizado por especialistas como o despejo de esgoto in natura na orla da Ilha - voltou a aparecer no Rio Calhau, ao lado do parquinho da Avenida Litorânea, em pleno período de férias. O Estado comprovou o problema, em registro feito na tarde de ontem, 15. Procurado, o Governo do Maranhão não se pronunciou sobre o assunto, até o fechamento desta edição.

Devido ao lançamento de resíduos em um trecho apontado pelo Governo por meio da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) como “próprio” - conforme atestam a placa fixada pela pasta no local e o laudo expedido pelo órgão ambiental no dia 11 deste mês -, o mau cheiro incomodava a quem passava próximo. “É uma vergonha a gente ver essa praia nesta situação”, disse o autônomo Raimundo Aguiar, que esteve na praia ontem, tentando aproveitar as férias dos seus filhos.

A mancha escura era mais visível por causa do movimento de vazante da maré, quando a faixa de areia apresentou uma extensão maior. A primeira denúncia acerca da existência do despejo de resíduos em um dos trechos mais frequentados da orla da cidade foi registrada em 2015, quando uma foto aérea da “língua negra” viralizou nas redes sociais. Após a repercussão e vários compartilhamentos, técnicos da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semmam) começaram a monitorar o trecho.

Em março de 2016, os representantes da pasta municipal compareceram ao local para recolher amostras. De acordo com a Semmam, um relatório acerca das impurezas constatadas na água seria divulgado em até 15 dias. Ao ser confirmado o despejo de impurezas, que foi justificado à época pela Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) devido à uma falha técnica “na estação elevatória de esgoto do bairro Cohajap, que atingiu o Rio Calhau”, o Município informou ainda que a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) seria multada. A pena, à época, seria de aproximadamente R$ 45 milhões. Nem o Município e nem a Caema confirmaram se foi feito o pagamento da multa.

Apesar de justificar o despejo com um problema “pontual”, a “língua negra” voltou a aparecer em novembro do mesmo ano. Em resposta, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) constatou o “lançamento de esgoto na foz do Rio Calhau” em direção à praia. A pasta se prontificou, na ocasião, a coletar amostras da água e entrar em contato com a Caema, que não justificou o porquê do novo despejo de esgoto.

Problema já denunciado
Não é a primeira vez que O Estado alerta para os problemas na orla da Ilha. Em sua edição de ontem, 15, foi publicada reportagem que confirmou o veto, pelo Governo, de aproximadamente 80% da praia da Ponta d’Areia, considerada a mais poluída da cidade, de acordo com o último laudo da Sema. Mesmo diante da constatação, vários banhistas usaram o mar na manhã de domingo, 14.

Em setembro de 2016, a Comissão de Assuntos Municipais e de Desenvolvimento Regional da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão (AL) realizou uma audiência pública em que especialistas de diversas áreas questionaram os métodos utilizados pela Sema na coleta de amostras que geram os laudos.

No mês seguinte, funcionários da Estação de Tratamento de Esgoto do Vinhais, entregue pela atual gestão do Governo do Maranhão, informaram que à época a unidade de saneamento apresentava uma capacidade de purificação da água inferior à 50%. Ninguém do Governo se pronunciou sobre o problema. O Estado voltou a questionar ontem, 15, o governo estadual sobre o atual funcionamento da Estação do Vinhais. No entanto, não obteve resposta.

Números
11
foi o dia de liberação do resultado do último laudo de balneabilidade, expedido pela Sema
R$ 45 milhões foi a multa aplicada pela Semmam à Caema, após comprovação da “língua negra”

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