SÃO LUÍS-No fim de 2017, no Teatro Porto Seguro, centro de São Paulo, deparei-me com o belo. Se existe ou não uma crise acerca dos novos conceitos sobre a beleza clássica e o que deve ser apreciado como tal, isso pode ser revisto.
Uma das minhas referências literárias do que seja belo, faz-se diante a obra do escritor irlandês Oscar Wilde, que nasceu no século 19 e graças a sua inteligência e sofisticação tornou-se um dos maiores escritores da humanidade. O bom gosto é sua marca, mas dentre tudo que escreveu, são suas peças, suas comédias de costume que deliciosamente se destacam.
Assim como o Dandi, autor de obras-primas como “O Retrato de Dorian Gray” e da peça “A Importância de ser Prudente”, Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde tem sua equivalência no Brasil com a mesma pompa e circunstância. Tendo também em cartaz três espetáculos teatrais encenados ao mesmo tempo. A essa façanha temos então o polivalente Miguel Falabella, reencarnação de Wilde. Uma dessas provas incontestes refere-se há um de seus trabalhos em cartaz no momento, “O Som e a Sílaba”, fazendo síntese de sua genialidade, criatividade e poder com as palavras.
“A peça foi escrita e concebida por Miguel Falabella especialmente para Alessandra Maestrini e Mirna Rubim, cantoras-atrizes com registro lírico. Retrata a história de Sarah Leighton, uma mulher com diagnóstico de autismo altamente funcional – uma savant, com habilidades específicas em algumas áreas (entre elas, a música), e sua relação com Leonor Delis, sua professora de canto. Após a morte dos pais, Sarah busca alguém que lhe ajude a dar algum sentido à sua vida. A jovem tem consciência de suas limitações nas relações pessoais e sabe que precisa romper as barreiras da síndrome para se ajustar ao mundo lá fora. Em sua busca por autonomia, ela lista suas habilidades, entre elas, o cantar. Ela sabe cantar.” , de acordo com o release divulgado pelo espetáculo.
Alessandra Maestrini é leve e agradável; um mimo na condução do autismo de sua Sara. Evolui diante dos nossos olhos e ganha a simpatia do público no decorrer da trama. As piadas de humor refinado são inconfundíveis falas do autor, intercalando-se aos seus números musicais. Que voz linda, que soprano, domina tudo a sua volta com um olhar que parece, às vezes, querer saber o que se passa na mente de seus cúmplices, a plateia.
Mirna Rubim é outra diva; com uma coluna... uma postura... Irretocável! Sua voz densa e encorpada de meio-soprano nos leva às alturas. “É absurdo dividir as pessoas em boas e más. As pessoas ou são encantadoras ou são aborrecidas”. Oscar Wilde. Você Mirna e sua Leonor são encantadoras.
Feliz a arte gráfica que as coloca como peças de um quebra-cabeça. Complementares!
Mas o sucesso desta obra também se faz por colaboradores à altura. E assim, o bom gosto se mostra na minúcia. No início, com a gravação do autor e diretor Falabella que nos informa que todas as músicas do espetáculo são realizadas ao vivo. Pois poderiam facilmente passar por um belo playback, de Maestrini e Rubim cantando obras de Giacomo Puccini, Charles Gounod e Leo Delibes. A cortina então se abre, e o cenário, assinado por Zezinho Santos e Turíbio Santos, se mostra como a visão do bom gosto. Um piano de cauda, veludos, um chão de tapetes persas, móveis garimpados, portas cenográficas e, escondidinho numa das estantes da sala, uma pata branca, certamente fazendo referência à “Bozena”, personagem vivida por Maestrini no programa Sai de Baixo/Rede Globo. A luz de Wagner Freire dança maestralmente conforme os dias vão passando, acentuando a mudança de figurino das atrizes. Figurinos também garimpados misturados a outros sob medida, são de Ligia Rocha e Marco Pacheco, extremamente lindos e coadjuvantes da beleza delas.
Termino por aqui minha opinião do que presenciei, e quem tiver oportunidade de assistir a esse show, não perca. Pode ser o espetáculo da sua vida, como até agora foi o meu.
Bravo!!!
Falabella: “O público é muitíssimo tolerante. Ele perdoa tudo, menos o gênio.” Oscar Wilde
O belo e o sensível podem ser reinventados!
* É formado em Artes Cênicas, diretor Artístico da Tramando Teatro e professor do IFMA/Alcântara l
Armando Veras é formado em Artes Cênicas, diretor Artístico da Tramando Teatro e professor do IFMA/Alcântara
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