Cotidiano

A tradição de se morar no Centro Histórico

Quase um terço dos imóveis do acervo tombado serve de moradia e moradores relatam a sensação de residir nas vias que retratam os primeiros capítulos da cidade

Atualizada em 11/10/2022 às 12h34
Moradores do Centro Histórico gostam da tranquilidade do local
Moradores do Centro Histórico gostam da tranquilidade do local (Patrimônio)

A modernidade que trazem consigo problemas graves de insegurança obrigam os cidadãos a buscarem locais mais seguros de moradia. Neste aspecto, os condomínios fechados são uma tendência no mercado imobiliário. Na contramão deste fenômeno, muita gente ainda procura residir em locais considerados ainda “pacatos”. Um deles é o Centro Histórico que, apesar de registrar a presença de usuários de drogas em alguns pontos, ainda é considerado um trecho agradável para se viver.

Em São Luís, de acordo com dados do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), existem cerca de 1.460 imóveis protegidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Deste total, cerca de 500 (ou seja, aproximadamente um terço das construções) serve oficialmente de moradia, excluindo neste caso aqueles imóveis que porventura foram “invadidos” por ex-moradores de rua. Um número que poderia ser ainda maior, caso os proprietários de boa parte destes casarões – que serviram de moradia para os herdeiros dos fundadores da cidade – zelassem pelo bem histórico.

Aquelas pessoas que residem no Centro Histórico ressaltam a qualidade de vida e a tranquilidade destes locais. Tranquilidade esta que cobra um valor considerado inferior ao que é praticado no mercado imobiliário local, já que, segundo levantamento feito por O Estado, um imóvel no Centro Histórico custa, em média, R$ 160 mil (dependendo da condição estrutural).

Um dos mais antigos moradores do Centro da São Luís – Patrimônio da Humanidade – é Washington Pires Costa, de 68 anos. Ele conta que mora há mais de seis décadas na rua da Palma (antiga rua Herculano Parga, Bairro Desterro). “Fui criado nestas ruas históricas e, apesar da degradação do entorno, ainda é um local tranquilo para se morar”, disse.

Ele disse ainda que, no Centro Histórico, criou os filhos e netos. Questionado se pensa em deixar o local e mudar para outro bairro, o ex-comerciante e agora aposentado é categórico. “Deus me livre! Eu não vou deixar o meu canto agora para ir me trancar em outro lugar”, afirmou Washington.

Outra história interessante é do também aposentado Luís Sousa, morador do Centro. Ele fez o caminho inverso da maioria e, ao constituir família, residiu em outros bairros mais distantes do Centro. Para ficar mais perto da sogra dele, que tem uma residência até hoje no Desterro, o aposentado se mudou para a Rua do Alecrim, região Central. Atualmente, já tem uma casa no Desterro. “Deveria ter vindo morar aqui antes. Todos se conhecem e, mesmo com os usuários de drogas próximos, ninguém mexe com ninguém”, afirmou.

A dona de casa Ayla Anne Ribeiro, de 56 anos, reside no Centro Histórico (mais precisamente na rua da Palma, Centro) há meio século. Ela afirma que, pelo fato de morar no Centro, ainda preserva uma tradição que deixou de ser comum do ludovicense: sentar na porta para conversar com o vizinho. “Aqui, ainda dá para fazer isso, mas não sei mais por quanto tempo, infelizmente”, admitiu.

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