Artigo

Doutor José Brandão - “In memoriam”

Atualizada em 11/10/2022 às 12h34

O município de Caxias, localizado na mesorregião do Leste Maranhense e banhado pelo rio Itapecuru, é um dos mais prósperos do Estado. Palco de episódios marcantes da nossa história e berço de figuras ilustres como o poeta Gonçalves Dias, o médico César Augusto Marques e o idealizador da bandeira brasileira republicada, Raimundo Teixeira Mendes.

Foi em Caxias que conheci o dr. José d’Assunção Brandão, por ocasião de uma andança pelo interior do Maranhão, a serviço da Divisão de Controle e Avaliação do antigo INAMPS.

Essas andanças eram frequentes. Equipes de trabalho constituídas por médicos, enfermeiros, administradores e outros, incumbidas de vistoriar hospitais, clínicas e demais serviços credenciados pelo órgão, seguiam para os mais diferentes destinos. Os relatórios, contendo descrições, críticas - e, naturalmente, sugestões - eram enviados para a Direção Geral, em Brasília.

Um trabalho espinhoso e nada simpático. As equipes seguiam para locais distantes e inóspitos, suportavam privações e, além disso, muitas vezes eram vistas como meros xeretas a serviço do governo federal. Seus membros sabiam que em geral os dirigentes de serviços credenciados não os viam como amigos, e havia um esforço - muitas vezes inútil - para não merecer essa imagem. Os profissionais percorriam as dependências do estabelecimento, faziam medições, examinavam registros e papéis, e se esforçavam para não ser rotulados como personas non gratas.

Quando ocorreu o nosso primeiro contato com o dr. José Brandão, ele era médico de um importante hospital da cidade. Ocupava um cargo de direção e, desde o início, mostrou ser um homem de mãos limpas. O hospital pertencia a um dos grupos políticos envolvidos em acirrada disputa por prestígio no município, mas o prezado diretor demonstrava absoluta isenção. Guiava os inspetores por enfermarias, corredores e salas, e muitas vezes, sem qualquer solicitação, oferecia, para eventual verificação, aparelhos e documentos.

José d’Assunção Brandão, que era irmão do cardiologista - pioneiro da nossa Universidade Federal - Paulo de Tarso Brandão, foi graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade da Bahia, em 1949. Exerceu sua profissão em Salvador durante alguns anos e então retornou a terras maranhenses. Sempre muito atarefado, ele conseguia conciliar, com incrível noção de equilíbrio, três áreas de atuação: foi médico (atuava em hospitais e clínicas), professor e político. Deputado estadual, docente da UFMA e, posteriormente, Diretor Regional de Saúde do Maranhão.

Sempre cordial e fiel aos princípios da ética, posteriormente passou a visitar o nosso serviço, na sede do INAMPS, em São Luís. Naquelas ocasiões, às vezes solicitava diretrizes para aprimorar o seu desempenho no hospital credenciado e, com frequência, oferecia-nos informações preciosas para o nosso trabalho.

Certa ocasião, um membro do nosso grupo de controle e avaliação retornou a Caxias. Era uma missão solitária e apressada. Chegou cedo e, diante da magnitude do trabalho a executar, de repente se sentiu impotente e desamparado. Foi então que lhe apareceu o generoso colega José Bandão, que arregaçou as mangas e o auxiliou em todos os momentos.

À noitinha, na rodoviária, ajudou-o a transportar a montanha de papéis.

ALDIR PENHA COSTA FERREIRA

Médico, sócio efetivo da Sociedade e da Academia Maranhense de Medicina

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.

Em conformidade com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) - Lei nº 13.709/2018, esta é nossa Política de Cookies, com informações detalhadas dos cookies existentes em nosso site, para que você tenha pleno conhecimento de nossa transparência, comprometimento com o correto tratamento e a privacidade dos dados. Conheça nossa Política de Cookies e Política de Privacidade.