Operação Pegadores

Secretário de Saúde, Carlos Lula, sabia do esquema, diz PF

Superintendente da Polícia Federal, Cassandra Alves, disse que Lula sabia do esquema e nada fez para evitar; interceptações telefônicas mostram que o gestor tomou conhecimento da fraude em setembro de 2015

Carla Lima/Subeditora de Política

Atualizada em 11/10/2022 às 12h34
Carlos Lula foi avisado por Alana Valeria sobre a folha suplementar na Saúde
Carlos Lula foi avisado por Alana Valeria sobre a folha suplementar na Saúde (Carlos Lula)

A superintendente da Polícia Federal (PF) no Maranhão, Cassandra Ferreira Alves Parazi, confirmou que o secretário de Estado de Saúde, Carlos Lula, sabia do esquema de desvio de recursos público com pagamento de funcionários fantasmas na Secretaria Estadual de Saúde (SES). Em diálogo transcrito na decisão judicial também aparece o gestor perguntando sobre uma folha complementar de pagamento.

Segundo Cassandra Alves, Carlos Lula tinha conhecimento da fraude que desvio mais de R$ 18 milhões de recursos da Saúde e nada fez para findar.

“Especialmente o secretário de Saúde. Ele especialmente tinha conhecimento disso e infelizmente não soube tratar da melhor forma, não soube bloquear isso e as fraudes continuaram”, disse a superintendente da PF ao ser questionada sobre quem do governo do estado tinha conhecimento do esquema fraudulento.

Além do que disse Cassandra Alves, na decisão judicial que concedeu os 45 mandados judiciais, há a transcrição de um diálogo entre Carlos Lula e Benedito Silva Carvalho, diretor do Instituto Cidadania e Natureza (ICN), que administrava unidades hospitalares no Maranhão.

Na transcrição do diálogo, gravado por meio de interceptação telefônica autorizada pela Justiça, Benedito Silva explica ao secretário o que é a folha complementar de R$ 400 mil, que segundo a Polícia Federal, era como estava sendo feito o desvio dos recursos.

O diálogo, que ocorreu em setembro de 2015, tem início com Alana – possivelmente a advogada Alana Lopes, que recebe pela SES desde janeiro salário de R$ 9 mil sem trabalhar – apontada como a Inspeção da Folha complementar. Ela que pede informações sobre as folhas e depois passa o telefone para o titular da pasta.

“Alana: Espera só um pouquinho seu Benedito, eu vou passar o telefone pra ele, mas antes deixa eu lhe perguntar uma coisa: o que é Folha Complementar?

Benedito: É aquela história da relação que vaio aí da secretária pra gente pagar”

Alana: Ahh! Que é o povo não tem vínculo”

Já em outro trecho, Benedito Silva já falando com Carlos Lula explica ao gestor o que é a folha complementar.

“Carlos Lula: O que é essa folha complementar?

Benedito: Pois é, eu vou lhe ligar agora, que nela tá incluso uma relação de pessoas ai da Secretaria que mandavam a gente pagar também, como folha extra...

Carlos Lula: ahhhh... aí não tem quem aguente! Tá, entendi! Tá tudo bem, pode mandar. Pode mandar, por favor”

Pelos diálogos fica demonstrado que Carlos Lula sabia ainda que os valores extras pagos eram para funcionários da SES e que esses servidores não estavam lotados nas unidades de saúde do Estado.

Benedito Silva revela a Lula ainda que como funcionava o esquema da folha complementar. Segundo o diretor da ICN, era destinado um dinheiro “a mais” para duas unidades de saúde para assim fazer o pagamento dos servidores.

Quadro:

Transcrição Carlos Lula x Benedito Silva quando é relevado como funcionava o esquema da folha complementar

Carlos Lula: Deixa eu lhe perguntar uma coisa. Essa tal folha complementar, o que é isso? Como é que era feito?

Benedito: Não, era o seguinte: ...Eles mandavam um... essa.. essa relação de pessoas que tem aí, era que a gente tinha que pagar, né? E vieram pessoas que trabalhavam aí na Secretaria e que eram... eles diziam o ‘ordenado’, o que era pra ser feito, quanto era e mandavam que fosse pago. Dizendo, na época, o Luiz e... o pessoal aí, que organizava isso aí, da seguinte forma: que eles iam botar, era assim, um dinheiro a mais em dois hospitais pra podem efetuar o pagamento dessas folhas. E na realidade esse dinheiro que eles vinham a mais, era um dinheiro sempre a menos, por que já não dava pra pagar tudo e...e tinha que efetuar essas folhas. Elas giravam em torno de R$ 400 mil se você olhar bem aí...

Carlos Lula: Deixa eu lhe pedir uma coisa, seu Benedito: então essas pessoas não trabalhavam nas unidades?

Benedito: Não, era aí na Secretaria.

Carlos Lula: Na Secretaria? Aí na Secretaria...

Benedito: Se você olhar pelos nomes, você vai ver. Veja pelos valores maiores.

Carlos Lula: A Secretaria mandava... mandava a lista de quem era pra entrar na folha?

Benedito: Se você olhar os valores. Veja pelos valores de... pelos valores maiores.

Carlos Lula: Eu vou procurar aqui pra ver se eu encontro esse povo. Obrigado”

Correlata

SES afirma que esquema teve fim com a chegada de Lula a pasta

Em nota encaminhada a O Estado, a SES diz que o secretário Carlos Lula não é investigado e que a decisão judicial aponta para o fim do procedimento tido como ilícito em 2015, com a chegada de Lula a subsecretaria.

“A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informa que o Secretário não é investigado no processo. A SES esclarece que a decisão judicial aponta para o fim do procedimento tido como ilícito em 2015, com a chegada de Carlos Lula à subsecretaria desta pasta. Por fim, a Secretaria comunica que a Procuradoria Geral do Estado (PGE) solicitou compartilhamento de informações sobre a 5ª fase da Operação Sermão aos Peixes para que a SES adote as medidas administrativas cabíveis, notadamente em relação à lista de servidores que estariam em situação irregular”, diz a nota.

Apesar da SES afirmar que o esquema teve fim com a chegada de Lula na pasta, as investigações da Polícia Federal apontam que o desvio continuou até este ano mesmo depois da operação Sermão aos Peixes.

Mais

Uma das investigadas pela Polícia Federal e que teve bloqueados saldo financeiro em conta bancária é a cunhada do secretário Estadual de Comunicação e Articulação Política, Márcio Jerry, Lenijane Rodrigues da Silva Lima, que estava lotada na Secretaria Estadual de Saúde exercendo o cargo de assessor técnico da SES desde janeiro de 2015, no entanto, recebeu dinheiro do ICN conforme alega a PF. A Justiça a pedido da polícia, determinou o bloqueio de R$ 50 mil da cunhada de Jerry.

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