Biografia

Belchior em detalhes

Livro biográfico “Belchior - apenas um rapaz latino-americano” será lançado amanhã, às 19h, no Fanzine Rock Bar, na Beira-Mar

Atualizada em 11/10/2022 às 12h34
Jotabê Medeiros lança livro amanhã em São Luís
Jotabê Medeiros lança livro amanhã em São Luís

SÃO LUÍS-Já está nas livrarias de todo o Brasil o livro “Belchior - apenas um rapaz latino-americano”, biografia do cantor e compositor brasileiro falecido este ano e escrita pelo jornalista Jotabê Medeiros. A obra, que traça o perfil do artista multifacetado e tido como um dos mais importantes para a música popular brasileira no século XX, será lançada em São Luís amanhã, às 19h, no Fanzine Rock Bar (Avenida Beira-Mar), dentro da programação da nona edição do Lençois Jazz e Blues Festival. Depois da capital maranhense, o jornalista seguirá para Porto Alegre, Pelotas e Belém do Pará.

Em “Belchior - apenas um rapaz latino-americano”, Jotabê Medeiros revela, em pouco mais de 200 páginas, a trajetória do artista desde os anos no mosteiro dos Capuchinhos, em Guaramiranga (CE), até os sumiço e peregrinação. Foram centenas de entrevistas e depoimentos e muita coisa colhida após a morte do músico.

“Biografar Belchior significou mergulhar num período de grandes utopias sociais e artísticas, acompanhado de suas letras, uma das maiores poesias que esse país produziu”, afirmou Jotabê Medeiros.

O livro, já lançado nas bienais do Rio de Janeiro e Pernambuco, e em Tarrafa Literária de Santos (SP), Vitória (ES), Fortaleza (CE), Belo Horizonte(MG) e FLIM (São José dos Campos), está no centro de uma polêmica. Ângela Belchior, irmã do artista, pretende tirar o livro de circulação, por ter encontrado algumas abordagens, segundo ela, “inconvenientes”. O mal-estar a levou, ao lado do advogado Estêvão Zizzi, a escrever e divulgar uma nota de “esclarecimento aos fãs e amigos de Belchior”.

Sobre a polêmica das declarações da irmã de Belchior, Jotabê Medeiros disse que não concorda, mas respeita o direito dela de dizê-lo. “Acho que todo mundo tem o direito de discordar da obra, da abordagem, e acredito que não vivemos mais nos tempos de proibir ou recolher livros das livrarias. Isto seria um retrocesso. Além do que, ela não representa o pensamento de toda a família. Eu discordo dela e pretendo defender o meu livro. Dizer que é a obra é ofensiva é estar ofendendo o livro, que é um tributo a Belchior”, frisou.

Alterações

O livro seguia um ritmo, mas após a morte de Belchior, precisou passar por alterações e o desafio se avolumou. Os fatos específicos das várias fases da vida e da obra do compositor cearense são apresentados num assemblage que parte do perfil biográfico e chega ao ensaio biográfico, com ares por vezes de biografia romanceada. Em muitos momentos do texto, a trajetória de Belchior é entrelaçada à de pessoas que conviveram com ele, como familiares, professores, colegas de convento, ex-esposa, ex-namoradas, filhos, parceiros e amigos. Um dos primeiros pontos de destaque é a capa do livro, assinada por Elohim Barros e Renata Mein, com foto de Silvio Corrêa e um projeto gráfico que dialoga tanto com a emblemática capa do disco homônimo de estreia de Elvis Presley, de 1956, em que aparece cantando e tocando energicamente seu violão, quanto com o álbum “London Calling”, da banda The Clash, que em 1979 homenageou o rei do rock.

Lençóis

Em sua nona edição, o Lençois Jazz e Blues Festival é um evento consolidado nos calendários musical e cultural do Maranhão, com edições em Barreirinhas e na capital maranhense. A etapa São Luís, este ano, acontece amanhã e nos dias 10 e 11, na Concha Acústica Reinaldo Faray (Lagoa da Jansen). Além do lançamento do livro, a programação de amanhã terá o show “Tributo a Belchior”, com Milla Camões, Tássia Campos, Tutuca Viana e Marconi Rezende, às 21h, seguido do show “Transa e outras F.”

Sobre Belchior

Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes era natural de Sobral, interior do Ceará e abandonou a faculdade de Medicina no quarto ano e o Nordeste para tentar a carreira na música em 1971, cinco anos antes de sua grande obra-prima, o LP “Alucinação”, ganhar as paradas. O destino foi o Rio de Janeiro.

Os anos que antecederam à aventura já eram marcados pela música. Entre 1965 e 1970, ele participou de alguns festivais. Pouco antes de largar tudo e rumar para o Rio, trabalhava em um programa de TV que apresentou a nova geração da música cearense. Ficou pouco tempo em terras cariocas e seguiu para São Paulo para encontrar o sucesso.

Com a canção “Mucuripe”, em 1972, começou a mostrar sua cara e sua música, como compositor, em uma parceria com o também cearense Fagner. A faixa foi gravada na voz de Elis Regina. Dois anos depois, se lançou como cantor. O primeiro LP trazia músicas como “Na Hora do Almoço”, “A Palo Seco” e “Todo Sujo de Batom”, em uma época em que Belchior ainda não havia atingido os grandes palcos e suas apresentações aconteciam em escolas, teatros e até penitenciárias.

O primeiro LP não vingou, mas “Alucinação”, de 1976, consolidou a carreira. A coletânea contava com as músicas “Velha Roupa Colorida”, “Apenas um Rapaz Latino-Americano” e “Como Nossos Pais”, outro grande sucesso eternizado por Elis, desta vez regravado depois pela cantora. Belchior já gritava desesperadamente em português e algumas de suas letras mostravam a angústia que o compositor demonstraria anos mais tarde, quando resolveu jogar tudo para o alto e sumir do mapa. Mesmo assim, ainda atingiu o topo das paradas nos anos 1970 e 1980 com composições como “Galos, Noites e Quintais” (regravada por Jair Rodrigues), “Paralelas” (lançada por Vanusa) e “Comentário a Respeito de John”, uma homenagem para o beatle John Lennon. “Auto-Retrato”, de 1999, foi o último CD lançado por Belchior.

As polêmicas, os problemas financeiros e a reclusão marcaram as últimas duas décadas da vida do artista. Não estava interessado em nenhuma teoria, nenhuma fantasia, nem no algo mais. Abandonou o casamento de 35 anos com Ângela Margareth Henman Belchior, no final de 2006, para viver com a artista Edna Prometheu (nome utilizado por Edna Assunção de Araújo), que conheceu um ano antes.

O cantor estava afundado em dívidas e simplesmente foi embora. Abandonou o flat onde morava com a mulher e os dois filhos, além de dois carros (um ficou no Aeroporto de Congonhas e o outro em um estacionamento próximo à antiga residência). Dois anos antes, já não aparecia mais publicamente, nem sequer fazia shows. Tornou-se um foragido da polícia pela falta de pagamento de pensão alimentícia à Ângela e outra mulher, com quem teve um filho fora do casamento.

“Acredito que esse afastamento dele, por dez anos, se deu por uma série de fatores e o mais forte dele, provavelmente foi por estar desencantado com o rumo das coisas no Brasil e não tinha mais interesse efetivo na qualidade artística”, destaca Jotabê Medeiros, para quem o biografado é um dos mais interessantes artistas da história da música brasileira, no mesmo nível de Chico Buarque ou Caetano Veloso, dono de obras-primas.

Uma reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, em agosto de 2009, encontrou Belchior em San Gregorio de Palanco, no Uruguai, e revelou alguns de seus passos durante o período no anonimato. O compositor negou que estivesse desaparecido e não quis falar sobre os problemas financeiros, além de afirmar que continuava vivendo em São Paulo e prometer um novo CD só com músicas inéditas, que nunca ganhou vida.

Andanças pelo Sul do Brasil e mais dívidas acumuladas em cada lugar que passou ao lado de Edna marcaram seus últimos anos. A fuga trouxe fama ao cantor na internet e suas músicas passaram a ser ainda mais procuradas em sites como Youtube e Spotify. Mas não o trouxe de volta aos holofotes.

Obra tenta contar a história do enigmático Belchior
Obra tenta contar a história do enigmático Belchior

Serviço

O quê

Lançamento do livro “Belchior - apenas um rapaz latino-americano”

Quando

Amanhã, às 19h

Onde

Fanzine Rock Bar (Avenida Beira-Mar)

Preço do livro: R$ 49,90

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