São João

Uma das tradições juninas, o cacuriá fica no centro de uma polêmica

Conhecida pela sensualidade e bailado, o cacuriá foi tema de debate no fim de semana; especialistas e representantes da dança falaram sobre o assunto

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37
Cacuriá de Dona Teté é um dos grupos do gênero mais respeitados do Maranhão
Cacuriá de Dona Teté é um dos grupos do gênero mais respeitados do Maranhão (Cacuriá de dona teté)

SÃO LUÍS-A diversidade de ritmos da cultura maranhense tem atraído a atenção dos turistas que visitam São Luís neste mês de junho. Além do bumba meu boi , há danças bem diferentes aos olhos de quem vem de longe. Um exemplo é o cacuriá, uma herança da festa do Divino Espírito Santo e que virou tradição junina.

O cacuriá é dançado em pares, com formação em círculo , ao som de instrumentos de percussão chamados caixas do Divino, que são pequenos tambores. O ritmo é uma derivação do carimbó maranhense e é bastante dançante, com rodopios e coreografias que prendem a atenção. Inicialmente, o cacuriá era praticado unicamente com as caixas, mas aos poucos foram acrescidos outros instrumentos, como banjo, violão, clarinete e flauta. A percussionista maranhense Dona Teté (falecida) contribuiu para expandir e tornar o ritmo conhecido do grande público.

A sensualidade é uma das características dessa dança, mas na semana passada, uma apresentação do grupo Cacuriá do Candinho, no Arraial do Cohatrac, chamou a atenção de forma negativa. Em um dos momentos, os dançarinos simularam um ato sexual diante de uma plateia formada também por crianças. O episódio repercutiu e o vídeo viralizou nas redes sociais.

No centro da polêmica, o presidente do Cacuriá do Candinho, Cândido Amorim, disse que o grupo estava em viagem para Alcântara e que somente agora pôde se pronunciar sobre o caso. Cândido Amorim disse que o vídeo mostra um recorte da apresentação, mas que não era essa a intenção.

“Aquele passo não faz parte da nossa coreografia. Foi um improviso dos jovens, cabeças duras. Uma empolgação deles, querendo inovar. Pedimos desculpas ao público e afirmamos nosso compromisso com a tradição da dança do cacuriá, que temos conhecimento e gostamos muito. Com a repercussão do fato nas redes sociais, sentei com todos os integrantes e entramos em um consenso, para que isso não mais aconteça. Para não haver dúvidas, mudamos toda a coreografia”, disse ele, informando que o Cacuriá do Candinho tem três anos de existência e que a apresentação no Cohatrac foi uma cortesia do grupo e não integrava a programação oficial do arraial.

Pedimos desculpas ao público e afirmamos nosso compromisso com a tradição da dança do cacuriá, que temos conhecimento e gostamos muito. Com a repercussão do fato nas redes sociais, sentei com todos os integrantes e entramos em um consenso, para que isso não mais aconteça. Para não haver dúvidas, mudamos toda a coreografiaCândido Amorim, presidente do Cacuriá do Candinho

Descaracterização

De acordo com a cantora Rosa Reis, do Laborarte e do Cacuriá de Dona Teté, diversos grupos estão explorando a dança de maneira comercial e alguns exageraram e avançaram o limite da sensualidade, aproximando-se da imoralidade. “Eu já tive inclusive a oportunidade de conversar com órgãos de cultura sobre isso e acredito que algumas informações poderiam ser repassadas desde o edital. Os órgãos poderiam peneirar, pois têm acesso a portfólios dos grupos que participam do nosso São João”, disse Rosa Reis.

A cantora enfatizou a importância do cacuriá dentro do projeto junino maranhense. Ela disse que o cacuriá verdadeiro vem realmente do Divino Espírito Santo e é uma ramificação do carimbó maranhense. “Ao término da programação da Festa do Divino, como se fosse o lava-pratos, quando é derrubado o mastro, acontece a brincadeira de serrar mastro, com serrote mesmo, e isto acontece numa espécie de dança e muito rebolado. E os homens também entram na roda”, explicou a artista, que herdou de Dona Teté um jeito cativante de comandar a dança do cacuriá.

Para a jornalista Inara Rodrigues, que em 2015 lançou o livro “Vem cá curiar o cacuriá”, o Cacuriá do Candinho passou dos limites e desvirtuou a tradição da dança. Ela foi enfática e caracterizou de “falta de respeito para com a tradição”.

“O grupo em questão, infelizmente, não apresentou o verdadeiro cacuriá, mas deturpou toda uma simbologia. É preciso que as pessoas que comandam os grupos folclóricos desenvolvam uma pesquisa sobre o que irá apresentar. Isto é uma coisa séria, é o nosso folclore, a nossa tradição, os nossos costumes que estão sendo apresentados a uma plateia. É preciso tomar muito cuidado”, disse a jornalista que, inclusive, dançou cacuriá por vários anos nas festas juninas.

Em nota, a Secretaria de Estado da Cultura e Turismo (Sectur) se pronunciou sobre o assunto e reafirmou que a apresentação não estava na programação oficial.

Mais

Em nota, a Secretaria de Estado da Cultura e Turismo (Sectur) se pronunciou sobre o assunto e reafirmou que a apresentação do Cacuriá do Candinho, não é de responsabilidade e nem foi paga pelo Governo do Maranhão.

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