Fuga

Vinte apenados que fugiram do CDP estão sendo procurados

Dos 32 que fugiram no domingo, nove foram recapturados e três morreram em confronto com a polícia; Seic tenta identificar o grupo que explodiu o muro da unidade e a Seap investiga se houve participação de funcionários

Ismael Araujo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h38
Seis presos foram recapturados logo depois da fuga
Seis presos foram recapturados logo depois da fuga

SÃO LUÍS - Vinte presidiários que fugiram do Complexo Penitenciário de Pedrinhas até ontem continuavam foragidos, e o clima na unidade prisional e na área adjacente é de tensão. Na noite de domingo, 21, um grupo criminoso trocou tiros com a polícia e conseguiu explodir o muro dos fundos da Unidade Prisional de Ressocialização de São Luís 6 (UPSL 6), antigo Centro de Detenção Provisória (CDP). Essa ação criminosa resultou na fuga de 32 apenados do bloco Gama. Entre os fugitivos, nove presidiários já foram recapturados e três morreram ao trocar tiros com a polícia. A ação criminosa, segundo a polícia, tinha como objetivo resgatar apenados que respondem por assalto e explosão de bancos. A possibilidade de envolvimento de funcionárias da Seap no caso também será investigada.

Muro foi consertado logo depois da explosão
Muro foi consertado logo depois da explosão

Os mortos foram identificados como Sebastião Araújo de Almeida, Jocimar Pires Mendonça e Geandro Silva Santos, que respondia por assassinato e tentativa de homicídio. Ele teria participado da chacina ocorrida no dia 23 de maio de 2015, na praia de Ponta Verde, em Panaquatira, e resultou na morte de cinco pessoas, entre elas o soldado da Polícia Militar Max Müller Rodrigues Carvalho, de 27 anos.

Investigação
“Essa ação ilegal tinha como verdadeiro alvo resgatar assaltantes de bancos. Entre os fugitivos, há pelo menos sete que responde por esse tipo de crime”, informou o delegado Thiago Bardal, da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic). Segundo ele, esse caso está sendo investigado pelo Departamento de Combate ao Crime Organizado (DCCO), órgão ligado à Seic.

Bardal disse que, no momento, além de a polícia estar fazendo buscas na região para recapturar os fugitivos, tenta também identificar os autores do resgate e se houve participação de funcionários da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) na ação criminosa.

Ainda ontem, funcionários que estavam de plantão no domingo e os recapturados foram ouvidos na sede da Seic. O delegado já requisitou as imagens do circuito interno e externo da unidade prisional, que serão analisadas com o objetivo de identificar os envolvidos na explosão.

A Seap informou, por meio de nota, que paralelo à investigação da Polícia Civil também abriu uma sindicância para apurar se houve participação de seus funcionários. A gestão prisional também ressaltou que a UPSL 6, por estar separada do Complexo Penitenciário de São Luís, é a única unidade prisional masculina que ainda não dispõe de portaria unificada e inspeção por BodyScan, a exemplo das demais que compõem o complexo carcerário.
Confronto

Thiago Bardal explicou que, na madrugada de ontem, militares receberam a informação de que havia quatro fugitivos de Pedrinhas circulando de carro nas ruas do Quebra-Pote. Os policiais se deslocaram até o local e, ao chegarem, foram recebidos à bala. Durante o tiroteio, um dos criminosos foi baleado. Sebastião Araújo ainda foi levado para o Socorrão II, mas não resistiu.

Os outros três fugitivos, Marcos André Moraes Silva, Gleilson dos Anjos Santos e Francisco Wallison Moreira da Conceição, foram presos e apresentados no plantão de Policia Civil da Cidade Operária. Em poder desses criminosos, a polícia encontrou um revólver calibre 32 com numeração raspada, dois estojos de munição e um veículo Uno prata, de placas não identificadas. Este carro teria sido tomado de assalto na Ilha no último dia 18.

Os policiais ainda ontem encontraram um uniforme do sistema penitenciário sujo de sangue na beira do mangue, no bairro Arraial, zona rural de São Luís. Há informações de que os apenados teriam fugido pelo braço de mar utilizando uma canoa.

Ocorrências no antigo CDP
Túnel - Em dezembro de 2016, um grupo formado por 10 pessoas, sendo sete maiores e três adolescentes, foi detido quando fazia um túnel que facilitaria a fuga de presos do antigo Centro de Detenção Provisória (CDP) do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís. Cerca de 20 detentos escapariam pelo túnel

Muro destruído - Em 2014, aconteceu uma situação inusitada. Criminosos utilizaram um caminhão para derrubar parte do muro do antigo CDP, pelo qual diversos detentos fugiram. Nessa ocorrência, houve troca de tiros com os agentes penitenciários que estavam de plantão.

Muro explodido - Ocorreu uma fuga em massa, principalmente de internos acusados de roubo a bando após explodirem o muro do CDP, na noite de domingo. Três fugitivos morreram em confronto com a polícia, nove fugitivos foram recapturados e 20 estão sendo procurados.l

Saiba mais

Prisão de ex-secretário

A fuga do CDP ocorreu após dois meses da prisão do ex-secretário adjunto da Administração, Logística e Inovação Penitenciária (Seap) e policial federal, Danilo dos Santos Silva. Ele foi preso durante a operação Turing da Policia Federal (PF) acusado de fazer parte de uma organização que causava em­baraço nas in­vestigações sigilosas da PF no estado. O esquema vi­nha sendo operado desde 2014, e o principal alvo dos suspeitos seria empresários, políticos e servidores públicos. O valor de cada propina variava de R$ 1.500 a mais de R$ 10 mil.

Entenda

Relação dos fugitivos

Renato Costa Sousa

Flávio Lima da Silva

Ludmaylon Costa Barros

Marcos Alex Serra Lisboa

Raimundo Bruno dos Santos Carvalho

Rone Peterson Silva

Vanderluz Gomes da Silva

Wellington Monteiro dos Santos Alves

Natanael Santos Aguiar

Paulo de Caldas Santos

Ronath Correa Coelho

Valdemir Laurindo Flores

Werdson Dayvid da Silva Melo

Jhemisson Ferreira Santos

Ronaldo Mourão Teixeira

Alisson Pereira Lima

Claudio Kelson de Sousa Rodrigues

Edvandro Pereira Araújo

Kassio Girdel Carvalho Ribeiro

Pedro César Pereira Paz

Correlata

Moradores vivem em tensão constante

Residências foram atingidas pela explosão
Residências foram atingidas pela explosão

Os moradores da Vila Progresso, situada aos fundos do antigo CDP, ainda ontem estavam com receio de virem a ser alvo de alguma bala perdida. Muitos deles tentavam recuperar o prejuízo. Antônio Nildo Conceição, de 53 anos, por exemplo, devido à explosão do muro do presídio, teve a estrutura da sua residência comprometida e em vias de desabar.

O telhado da casa de Antônio Nildo despencou e as paredes estão rachadas. Na parte interna, o piso cedeu e as portas ficaram destruídas, além de marcas de tiros na parede da frente. “Ainda bem que não durmo com a minha esposa no quarto senão estariam mortos”, desabafou Antônio Nildo.

Todo o telhado da residência do vizinho de Antônio Nildo, identificado como João Alves, de 43 anos, caiu e a porta de alumínio da frente ficou danificada. Ele ainda teve o vidro dianteiro e traseiro do seu veículo, uma L200 preta, quebrados. “Não ficarei neste bairro. Ainda esta semana estou mudando com a minha esposa para outra localidade”, disse João Alves.

Aurineide da Silva, de 32 anos, disse que não sabia informar e o prejuízo que teve com a explosão, pois de sua residência sobrou apenas a estrutura de tijolo. Outra moradora, identificada apenas como Mayara, gestante de nove meses, ficou sob o telhado da sua casa caiu. Ela foi socorrida pelos vizinhos que a levaram para o hospital, onde foi medicada, mas já teve alta médica, e no momento, está morando na residência da sogra, no bairro Campina.

Também no local, ontem, era possível constatar placas de venda e de aluguel nas paredes de várias casas. O ex-vice-presidente da associação de moradores do bairro, Antônio Cleber Carvalho, de 53 anos, disse que não aguentou viver com receio de ser morto por uma bala perdida e acabou se mudando, com a família, para outra localidade.

Ele disse que o clima de terror na localidade começou depois da construção desse presídio. “Essa cadeião é um barril de pólvora e já serviu de várias fugas e também motins”, desabafou.

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