Orixá

Representação no terreiro

Cineasta Denis Carlos lança amanhã no Cine Teatro da Cidade, o documentário “Iemanjá pela última vez”, gravado durante a celebração de Nossa Senhora da Conceição, no Terreiro de Mina de mãe Elzita

Atualizada em 11/10/2022 às 12h41
Cena do filme
Cena do filme "Iemanjá pela última vez"

SÃO LUÍS - A pequena Allana Karoline, a Karol, tem uma visão: Iemanjá lhe conduz ao fundo do mar e lá, em seu palácio, a coroa como a rainha do mar. Sete anos se passam e durante esse tempo a menina, a partir desta visão, sai vestida de Iemanjá na festa de Nossa Senhora da Conceição, no Terreiro de Mina de mãe Elzita. E é exatamente o último ano desta festa que tem como tema o documentário “Iemanjá pela última vez”, do cineasta Denis Carlos. O lançamento do trabalho será amanhã, às 19h, no Teatro da Cidade de São Luís – antigo Cine Roxy -, com entrada gratuita.

O cineasta conta que a ideia do documentário surgiu quando ele soube que aquele seria o último ano da garota como Iemanjá na festa de Conceição celebrada nos dias 7 e 8 de dezembro, no terreiro de Mãe Elzita, local que Denis Carlos frequenta há alguns anos. “A partir de uma conversa prévia com Karol resolvi acompanhar mais de perto a participação dela e registar esse processo, além de fazer as entrevistas e conhecer um pouco mais de perto o universo da menina no papel dessa orixá”, conta ele.

A princípio o plano não era fazer um documentário, mas com o desenrolar das conversas, Denis Carlos conta que teve despertada a vontade de registrar esses últimos momentos da garota no papel de Iemanjá. “Trata-se de um momento muito ímpar tanto na vida dela quanto para o próprio terreiro, uma vez que é Karol quem inicia esse percurso como Iemanjá na casa. Mas é diferente quando você olha através da câmera, sua responsabilidade é ver o que o olhar comum, rotineiro, não vê”.

Além das imagens captadas durante a festa, o documentário traz ainda depoimentos de pessoas ligadas ao terreiro e também àquela celebração em específico, a exemplo da própria Karol e de sua mãe, dona Roxa.

Preparativos para a representação de Iemanjá, tema do documentário
Preparativos para a representação de Iemanjá, tema do documentário

Filmagens

As imagens foram capturadas em três dias, sendo dois durante a realização da festa e um para entrevistas. O que mais demorou, segundo o cineasta, foi o processo de pós-produção, cerca de quatro meses. Feito de forma independente, “Iemanjá pela última vez” foi totalmente bancado pelo cineasta. “O trabalho foi todo feito com recursos próprios, minhas entranhas, minhas alegrias, minhas madrugadas em claro, mas também muita emoção em finalizar e colocá-lo na rua. Até agora tem sido o que mais me deu prazer em fazer”, atesta Denis Carlos, que gravou, entre outras coisas, o documentário “Quem toma conta, dá conta”, também no terreiro de Mãe Elzita.

Sobre sua forma de gravar e o que o influencia, ele destaca que seu processo é inverso ao da maioria, pois ele se dedica a assistir coisas “que não prestam” para, assim, saber o que não deve fazer. “As pessoas normalmente se espelham pelo bom e pelo sublime. Talvez por isso grande parte dos documentários que existem e que tratam dessa temática do Tambor de Mina ou de algo que toque esse tema, sejam tão chatos ou com cara de publicidade/propaganda. Aqui, ao que me parece, temos uma certa “escola” para se fazer documentários com cara de propaganda de palha de aço. É muito chato, eu acho. Então eu vejo essas porcarias embrulhadas com o peso de ganharem editais justamente pra não ser idiota como eles”, opina.

Ao falar sobre quem o influencia positivamente, Denis Carlos cita o cineasta maranhense Murilo Santos. “Vejo coisa boas também e muitas delas do Murilo (Santos). É basicamente dele que vem o melhor do que eu considero bom naquilo que eu faço, que é tratar com respeito e dignidade as pessoas que estão sendo filmadas”.

Denis Carlos deve levar filme a festivais
Denis Carlos deve levar filme a festivais

Festivais

Após o lançamento, “Iemanjá pela última vez” deverá seguir o caminho dos festivais. Legendado em inglês e francês, o trabalho, segundo o cineasta, será enviado também para eventos fora do Brasil. Ele adianta que também está tentando uma distribuição nacional em DVD. “Caso isto não ocorra, eu mesmo lanço o material nesse formato e, como já prometi, faço um extra com Karol falando um pouco do percurso dela antes e depois da festa, com fotos, depoimentos, imagens de outras festas nas quais ela continua saindo em outros terreiros e em outros personagens. Vamos mandar bater um tambor também pra ver se os exibidores locais abrem espaço para sessões antes das principais”, planeja.

Para 2017, além de divulgar o trabalho, Denis Carlos adianta que fará um documentário sobre tambor de crioula. “Vai ser um documentário enfocando a presença dos homens no tambor, eles dançando, tocando. Isso tudo em um preto e branco forte e selvagem que é para dar contraste com a alegria das saias e da fertilidade que todo mundo alardeia por aí, mas que já deu”.

Serviço

O quê

Lançamento do documentário “Iemanjá pela última vez”, de Denis Carlos

Quando

Amanhã, às 19h

Onde

Cine Teatro da Cidade, Centro

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