Cururupu - O projeto Pesca para Sempre chega a Cururupu, no Litoral Ocidental do Maranhão. A última reunião de 2016 foi realizada em dezembro, na comunidade Guajerutiua. O projeto integra o programa global da Organização não Governamental (ONG) norte-americana Rare, que incentiva práticas sustentáveis, e tem a parceria da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e Povos Tradicionais Costeiros e Marinhos (Confrem) e universidades federais e estaduais da região.
Durante o encontro, foram elaboradas propostas de manejo da pescada amarela (Cynoscion acoupa), peixe muito comercializado na região. Para isso, foram consideradas informações importantes a partir de conhecimentos tradicionais dos pescadores de malhão, como a localização dos poços de desova com maior ocorrência da espécie, período reprodutivo e a importância pesqueira desses poços nos diferentes meses do ano.
Com base nessas informações e com auxílio do mapa comunitário, foi definida uma proposta de manejo preliminar que sugere a interdição de poços ao longo do ano em um sistema de rodízio, visando conciliar a conservação da espécie com a atividade pesqueira na região.
“A adoção de áreas de recuperação para os estoques pesqueiros é uma importante estratégia para garantir a sustentabilidade das principais espécies exploradas economicamente na costa brasileira”, disse Enrico Marone, gerente de programas da Rare Brasil.
A analista ambiental Laura Reis, da Reserva Extrativista Cururupu (Resex), disse que a eficácia desse processo de gestão participativa na construção de propostas de manejo da pescada amarela com embasamento científico deve-se ao trabalho socioambiental que vem sendo realizado ao longo do programa Pesca para Sempre. “Sem o engajamento da comunidade nada disso seria possível”, afirmou.
Melhorias
O Pesca para Sempre visa proporcionar a adoção de melhores práticas de manejo pesqueiro por meio de metodologia conhecida como Campanha por Orgulho, promovendo mobilização na comunidade e apoio ao processo de capacitação dos extrativistas.
O programa busca trabalhar de forma intensiva com as comunidades locais, por meio de pesquisas biológicas e sociais, levantamentos de informações em um processo de construção coletiva com atores e governanças locais. A ideia é definir regras apropriadas e adaptadas à gestão da pesca e assegurando sua sustentabilidade a longo prazo.
Durante a reunião, a coordenadora local do projeto, Josenilde Ferreira, mais conhecida como Mocinha, que também é moradora da Resex, apresentou as fases da campanha, o modelo conceitual, a teoria da mudança, mapeamento pesqueiro, cadeia de resultados e a importância da participação da comunidade nas entrevistas, no preenchimento dos diários de bordo e na pesca experimental.
Parceria
Ricardo Guimarães, pesquisador da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), instituição parceira do projeto no monitoramento da espécie-alvo, destacou os resultados preliminares referentes aos principais parâmetros de biologia reprodutiva da pescada amarela, como o tamanho da primeira maturação, fecundidade e período da desova e sua importância econômica e ambiental para a região.
“Os resultados dessas pesquisas são preponderantes para fortalecer coletivamente a tomada de decisões, visando à construção de um novo olhar para o uso e conservação da espécie”, disse o pesquisador.
O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais (CNPT), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), também esteve presente na reunião, representado por Clarice Fonseca, a supervisora do projeto.
O projeto já existe nas Filipinas, em Moçambique, Belize e na Indonésia, e chegou no Brasil há dois anos, por meio de uma parceria da ONG Rare com o ICMBio e a Confrem.
Confrem
A Confrem visa desenvolver, articular e implementar estratégias visando o reconhecimento e a garantia dos territórios extrativistas tradicionais costeiros e marinhos na dimensão social, cultural, ambiental e econômica, garantindo os seus meios de vida e produção sustentável.
Portanto, tem como objetivos básicos lutar pelo reconhecimento e andamento dos processos de solicitação de novas resex marinhas; assegurar o direito a produção do espaço próprio dos extrativistas e promover o contato entre as 22 resex espalhadas de norte a sul do país.
Também é dever da Confrem garantir a manutenção dos saberes das populações tradicionais pesqueiras e garantir a conservação dos rios, mares, manguezais e fauna marinha e costeira. A entidade atua em todo território extrativista Costeiro e Marinho, incluindo as Unidades de Conservação (UC).
Mais
Pesca para Sempre em detalhes
O projeto Pesca Para Sempre foi organizado pela Rare e ambiciona melhorar o manejo da pesca artesanal, capacitar líderes locais via treinamento intensivo em mobilização social, criar cooperativas locais de pesca fortalecidas para regular de forma sustentável os seus recursos, executar estratégias comunitárias na promoção de incentivos para cumprimento de zonas de recuperação pesqueira, além de criar uma rede de aprendizagem e monitoramento local
Pescada amarela é uma farmácia ambulante
Existem cerca de 21 espécies de pescada, sendo a amarela, a maior delas. Frequentam águas rasas próximas a costas, enseadas e também poços fundos no interior de baías, são encontradas em todo litoral brasileiro. Nadam em cardumes e devido a sua carne saborosa e muito apreciada, tem alto valor comercial.
O uso de iscas naturais é recomendado a essa espécie de peixe, sendo o camarão vivo e peixinhos como manjubas e moréias do mangue uma boa escolha. Entre as iscas artificiais, podem ser capturdas por plugs de meia água e jigs (é uma ferramenta usada para facilitar um procedimento).
O formato do corpo da pescada amarela é mais alongado que o de seus congêneres, algo roliço. A cabeça é relativamente grande e ocupa cerca de 1/4 do comprimento do corpo. Possui boca terminal ampla e suas maxilas estão providas de pequenos dentes aciculares, que não são muito desenvolvidos. A nadadeira caudal é romboidal.
A pescada amarela tem nadadeiras dorsais, com raios duros e moles, são bem altas e desenvolvidas. A coloração geral é amarelada, um tanto dourada, principalmente no dorso e na extremidade das nadadeiras, sobre fundo prateado nos flancos e no ventre. A região dorsal também pode ser mais escura, em tons de cinza. Tem hábito carnívoro, constituído de crustáceos como camarões, e de peixes.
Mais saúde
A pescada amarela contém ácidos graxos que mantém o nivelamento do colesterol bom no organismo. Isso faz com que o coração trabalhe de forma saudável. A pescada amarela também reduz a pressão arterial, prevenindo a formação de coágulos e o entupimento das artérias.
A pescada amarela é um peixe ósseo e, segundo pesquisas, é rica em vitamina A, que tem funções importantes em relação à visão. Fabricação de lágrimas e lubrificação do olho, assim como recomposição das células e tecidos dos olhos. Melhora diretamente a visão, principalmente a visão noturna.
A espécie também tem Omega 3, que é um conjunto de gorduras, dos quais fazem parte o ácido eicosapentaenóico (EPA) e o ácido docosahexaenoico (DHA) considerados do tipo ácidos graxos poli-insaturados. São estritamente importantes para o cérebro. O DHA ajuda no desenvolvimento cognitivo nos bebês em seus primeiros anos de vida.
O diabetes tipo 2 é beneficiado com a ingestão da pescada amarela em uma dieta regular, isso porque o Omega 3 é uma gordura saturada que promove peso mas diminui as chances do paciente se tornar obeso. O selênio também aparece na pescada amarela com grande função.
Também é encontrada na pescada amarela vitamina D, que é essencial para a saúde óssea. Essa vitamina ajuda o cálcio a ser instalado no organismo com o fosfato.
Saiba mais
A pescada amarela em detalhes
Nome científico - Cynoscion acoupa
Família - Sciaenidae
Outros nomes comuns - Calafetão, cambucu, cupá, guatupucá, pescada-verdadeira, tacupapirema, ticoá, tipucá, tucupapirema, pescada-vermelha, pescada-dourada, pescada-cascuda, pescada-de-escama, pescada-selvagem e ticupá.
Tamanho - Alcança pelo menos um metro e ultrapassa os 13kg de peso, porém é mais comum com cerca de 70 a 80cm e 4 a 6kg.
O que come - Peixes e crustáceos.
Quando e onde pescar - O ano todo, em praias arenosas, lagoas salobras, estuários e canais.
Estatus de conservação - Não ameaçado.
Reserva Extrativista exibe natureza espetacular com raras paisagens
A Reserva Extrativista (Resex) é uma área utilizada por populações tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.
As populações que vivem nessas unidades possuem contrato de concessão de direito real de uso, tendo em vista que a área é de domínio público. A visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesses locais e com o disposto no plano de manejo da unidade. A pesquisa é permitida e incentivada, desde que haja prévia autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A Resex Cururupu é uma das maiores do Litoral Brasileiro, com quase 190 mil hectares. Em seus domínios estão diversos rios e ilhas, entre elas a dos Lençóis, por exemplo, onde existe a maior concentração de pessoas albinas do mundo. A área tem um manguezal espetacular.
Outro espetáculo da natureza nessa área, são os diversos tipos de aves, nativas ou migratórias, que frequentam a área. Entre as nativas além de várias espécies de gaviões, há as garças, bem-te-vis, martim- pescadores, socós e o guará, que chama atenção pela cor das penas.
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