Erros da Polícia

Morte de jovem em Balsas evidencia os erros da polícia

Casos semelhantes já foram registrados em São Luís e no interior do estado; para a SMDH, é preciso que haja mudança na forma de atuação dos policiais

Leandro Santos - Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h42
Karina Brito (d) morreu e sua irmã Kamila foi baleada em ação da PM
Karina Brito (d) morreu e sua irmã Kamila foi baleada em ação da PM (Morte de jovem em Balsas evidencia os erros da polícia )

O recente episódio ocorrido na cidade de Balsas na madrugada de quin­ta-feira, 15, em que a jo­vem Karina Brito Ferreira, de 23 anos, foi morta durante uma operação policial, traz à tona os erros que policiais militares cometem durante as suas atividades, que acabam custando a vida de pessoas inocentes. Situações como essas também mostram o despreparo de muitos policiais na condução desses casos.

Situações semelhantes já aconteceram em que pessoas inocentes foram mortas durante as operações feitas pela polícia. Para a Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos (SMDH), é necessário que haja uma mudança na forma de atuação dos agentes de segurança e punição dos responsáveis para evitar novas ocorrências.

Nos últimos anos, policiais militares já tiraram a vida de pessoas inocentes durante operações com falhas em suas conduções. Tão gra­ve quanto essa situação é o fato de que alguns dos policiais envolvidos ainda não receberam a punição condizente com os seus atos. Em algumas situações, eles foram afastados temporariamente e, passado algum tempo, voltaram a exercer as suas atividades, mas em outros setores.

Execuções
Ao longo dos últimos dois anos, a SMDH listou vários episódios que mostram a morte de pessoas em operações da polícia. Alguns dos casos foram noticiados por O Estado. No entanto, outras situações não tiveram grande repercussão, o que contribuiu para que os autores dos fatos não recebessem a punição adequada.

Um dos casos aconteceu no dia 13 de março do ano passado e teve como vítima o jovem Márcio Antônio Cantanhede, de 22 anos. Para a polícia, a vítima seria um assaltante e foi morta durante um confronto. No entanto, o pai do jovem apresentou outra versão para o fato e disse que o filho foi sumariamen­te executado pela polícia em uma emboscada.

Outro caso que ganhou grande repercussão, mostrando o despreparo de policiais envolvidos e que custou a vida de um inocente, foi registrado no município de Vitória do Mearim no dia 28 de maio do ano passado. A vítima foi o mecânico Irialdo Batalha.

No dia do crime, ele, na companhia de Diego Ferreira, estava em uma motocicleta quando foi alvejado por policiais militares por não parar em uma barreira. Diego levou um tiro no pé e Irialdo Batalha foi morto com três tiros na cabeça por um vigilante que participava da operação, mesmo não sendo militar.

O sargento da PM José Miguel Castro e o soldado Flávio Roberto Gomes dos Santos foram responsabilizados pela execução, assim como o vigilante Luiz Carlos Machado, autor dos disparos. O Poder Judiciário ainda aguarda as alegações do Ministério Público e as dos advogados de defesa dos acusados para decidir se o julgamento será em júri popular.

Mais mortes

Outro caso de bastante repercussão foi a morte de Fagner Barros dos Santos, de 18 anos, que ocorreu no dia 13 de agosto do ano passado durante uma ação de reintegração de posse na região da Di­vineia, em São Luís. O policial Marcelo Monteiro dos Santos foi detido e autuado em flagrante delito na Delegacia de Homicídios, sendo responsabilizado pelo caso.

Também foi denunciado pela SMDH o desaparecimento de João Filho Brito dos Santos, de 20 anos, na cidade de João Lisboa. De acor­do com testemunhas, o jovem teria sido abordado por policiais e colocado dentro de uma viatura. Dias depois, os policiais militares Francisco de Assis de Moraes Carneiro, o sargento de Assis, e Luciano Mota Lago, o cabo Lago, foram presos acusados do desaparecimento do jovem. O caso aconteceu também no ano passado.

Este ano, outra situação relatada pela sociedade foi a morte do garoto Bernardo Rafael Costa Rego, de 5 anos. Ele teria sido morto durante uma ação da PM quando estava no colo da sua mãe, Flávia da Costa Lima, de 34 anos. Ela e o seu companheiro estavam trafegando em um caminhão no município de Presidente Dutra quando o veículo foi alvejado com vários tiros e um deles atingiu a cabeça da criança.

Em março, também deste ano, foi morto Josimar Ewerton Galvão, de 49 anos de idade, no centro de São Luís, nas proximidades da Avenida Magalhães de Almeida. Ele foi atingido por uma bala perdida disparada, por meio de uma pistola ponto 40, por um policial militar que estava em perseguição a um criminoso.

Em junho deste ano, Rafael Jorge Pereira, de 30 anos, teria sido morto durante uma abordagem policial realizada na região da Divineia. A situação causou uma grande revolta nos moradores, que na época realizaram atos públicos no bairro.

Mudança
Conforme mostraram os dados do 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado no mês de outubro, o Maranhão é um dos estados que apresenta a maior letalidade causada por policiais e tam­bém o que apresenta a maior quantidade de policiais mortos em confronto.

Para Wagner Cabral, presidente da SMDH, a mudança para essa situação deve passar pela forma de agir da polícia. “É preciso que haja um debate mais amplo no sentido de rever a questão da política de segurança pública, modificando o trabalho de atuação policial”, disse. Ele afirmou também que atuação descaracterizada da PM contribui para os casos relatos acima e muitos outros.

“É preciso também que o Estado proporcione assistência e reparação para as famílias das vítimas. Houve uma iniciativa importante nesse sentido no caso do Fagner, mas as outras nós não sabemos. É preciso também que haja a respon­sabilização dos culpados, mudan­do os paradigmas e conceitos do sistema de segurança”, afirmou Wagner Cabral. l

Frase

"É preciso que haja um debate mais amplo no sentido de rever a questão da política de segurança pública, mudando o trabalho de atuação policial”

Wagner Cabral,
presidente da SMDH

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