Despedida

Cubanos vão à Praça da Revolução para se despedir de Fidel Castro

Desde as primeiras horas da manhã, alguns milhares de cubanos começaram a chegar à icônica Praça da Revolução, onde haverá homenagens até amanhã, quando o cortejo fúnebre começa uma peregrinação de 600 quilômetros até Santiago de Cuba

Atualizada em 11/10/2022 às 12h43
Milhares de cubanos enfrentam longa fila para se despedir de Fidel
Milhares de cubanos enfrentam longa fila para se despedir de Fidel (Cubanos enfrentam longa fila para se despedir de Fidel Castro, na Praça da Revolução)

Havana - O Memorial José Martí, na Praça da Revolução, abriu suas portas ontem para que os cubanos possam dar o último adeus ao ex-presidente Fidel Castro, que morreu na última sexta-feira,25, e cujas cinzas foram colocadas nesse emblemático local de Havana, onde permanecerão até amanhã, quando o cortejo fúnebre começa uma peregrinação de 600 quilômetros até Santiago de Cuba.

Desde o início do dia, centenas de pessoas formavam fila aguardando bater às 9h (horário local, 12h dia Brasília) para homenagear o líder cubano no emblemático cenário onde ele fez a maior parte dos seus discursos. Na mesma hora em que começava a homenagem na Praça foram disparados, simultaneamente em Havana e Santiago de Cuba, 21 tiros de canhão em homenagem a Fidel Castro.

O governo habilitou três acessos diferentes para agilizar a entrada do público e três pontos de homenagem exatamente iguais. Todos esses pontos têm uma grande foto de Fidel de corpo inteiro, olhando para o horizonte e vestindo seu icônico uniforme verde. Também há duas coroas de flores, uma do Partido Comunista de Cuba (PCC, único) e outra em nome dos cubanos, assim como uma vitrine com as principais condecorações que Fidel recebeu em vida.

Homenagens

Ao lado dessas homenagens estão guardas de honra, membros do batalhão de cerimônias das Forças Armadas Revolucionárias e representantes do Conselho de Estado de Cuba.

No Memorial, algumas mulheres jogam beijos com a mão, muitos secam as lágrimas com lenços e alguns não conseguem evitar os soluços, que ecoam acima dos sussurros e do som das câmaras fotográficas no tom solene que permeia este ato.

Embora Cuba já esteja no segundo dia de luto, dos nove decretados pelo governo, este ato marca o início de uma semana de homenagens fúnebres que culminará no domingo que vem com o enterro das cinzas de Fidel Castro no cemitério de Santa Ifigenia, em Santiago de Cuba.

" Escudo"

Trajando o uniforme da Aduana cubana, Mario Betancourt, 73, chegou à praça com colegas de trabalho. Ele definiu o líder cubano como "escudo" do país. "Ouvir seus ensinamentos por 50 anos nos fez comunistas. E comunista significa muitas coisa, como deixar de ser egoísta."

Para ele, nada muda com a sua morte, anunciada na noite de sexta-feira,25. "O partido tem o caminho traçado, não é ideia de um homem apenas", diz Betancourt que trabalha na Aduana há 30 anos e esteve no Exército.

Mesmo mancando por causa de um problema no joelho, a aposentada Mercedes Soto, 65, caminhou sozinha à praça de sua casa, a algumas quadras. "Ele me inspirou a me tornar enfermeira. Antes, só ricos iam à universidade. Agora, meu espírito vai seguir com ele."

Também havia um grupo de cerca de 30 veteranos da guerrilha de Fidel que tomou o poder em Cuba, em 1959. "Fidel deixou o futuro escrito. E para lá vamos", disse o veterano Hever Sánchez, 78. Em seguida, pergunta: "Lula vem?".

Sem acordo

O presidente eleito dos EUA. Donald Trump, escreveu em sua conta no Twitter ontem que vai acabar com o acordo de seu país com Cuba se a ilha não estiver disposta a oferecer um acordo melhor.

"Se Cuba não quiser fazer um acordo melhor para o povo cubano, o povo cubano-americano e os Estados Unidos como um todo, vou acabar com o acordo", escreveu o magnata.

No sábado,26, Trump divulgou um comunicado à imprensa classificando o líder cubano como um "ditador brutal que oprimiu seu próprio povo por quase seis décadas" e que deixa um "legado de pelotões de fuzilamento, roubo, inimaginável sofrimento, pobreza e negação de direitos humanos básicos".

No texto, ele afirmou que seu governo "vai fazer todo o possível para assegurar que o povo cubano possa finalmente começar sua jornada em direção à prosperidade e à liberdade".

Nas primárias, Trump foi o único pré-candidato republicano que apoiou a abertura para Cuba, mas em sua busca de votos na Flórida nas eleições gerais, ele prometeu que "revogaria" o acordo do presidente Barack Obama "a não ser que o regime dos Castro" restaurasse "as liberdades na ilha", segundo a agência EFE.

Seu futuro chefe de gabinete, Reince Priebus, disse no domingo que Trump aguardará para ver "alguns movimentos" do governo cubano em relação às liberdades na ilha para decidir como será a relação entre os dois países. "Não vamos ter um acordo unilateral procedente de Cuba sem algumas mudanças em seu governo", disse Priebus na TV Fox, após mencionar a repressão, os prisioneiros políticos e as liberdades como a religiosa.

Relações

No dia 17 de dezembro de 2014, os presidentes Barack Obama e Raúl Castro anunciaram o restabelecimento das relações dos Estados Unidos e Cuba após mais de 50 anos. O embargo comercial ao país caribenho, no entanto, permaneceu.

Na época, Cuba libertou o prisioneiro americano Alan Gross e, em troca, três agentes de inteligência cubanos que estavam presos nos Estados Unidos voltaram à ilha.

O acordo previa medidas como o restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, facilitar viagens de americanos a Cuba, autorização de vendas e exportações de bens e serviços dos EUA para Cuba, autorização para norte-americanos importarem bens de até US$ 400 de Cuba e início de novos esforços para melhorar o acesso de Cuba a telecomunicação e internet.

Em agosto de 2015, os EUA reabriram oficialmente sua embaixada em Havana. Um mês antes, a embaixada cubana em Washington foi reaberta.

Ao anunciar o acordo, Obama disse que a normalização das relações com Cuba encerram uma "abordagem antiquada" da política externa americana. Ao justificar a decisão, o presidente disse que a política "rígida" dos EUA em relação a Cuba nas últimas décadas teve pequeno impacto. O presidente americano afirmou acreditar que os EUA poderão "fazer mais para ajudar o povo cubano" ao negociar com o governo da ilha.

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