Artigo

A tecnologia como aliada

Atualizada em 11/10/2022 às 12h45

Em 1948, quando o médico Ludwig Guttman, neurologista judeu alemão que escapou do nazismo fugindo para a Inglaterra, tratando de mutilados da 2ª Guerra Mundial, teve a ideia de distrair soldados sob seus cuidados com alguns jogos - dardo, sinuca e um tipo de boliche - não poderia imaginar a dimensão que ganharia aquela inovadora forma de tratamento. Imediatamente dr. “Poppa”, apelido pelo qual era conhecido, percebeu a reação dos soldados com melhora substancial do humor, além de fisicamente. Nestes primeiros jogos, haviam apenas 16 atletas, 14 homens e duas mulheres. Nos anos seguintes, ele promoveu e estimulou a competição.

Apenas em 1960, nas Olimpíadas de Roma, aconteceu a primeira Paralimpíada Oficial. O que era uma inciativa de inclusão, com características terapêuticas foi inundada por avanços tecnológicos com próteses biomecânicas tão sofisticadas que são capazes de produzir performances nos atletas similares aos competidores olímpicos.

A Paralimpíada do Rio, encerrada na última semana, se fosse uma peça, dir-se-ia que foi sucesso de público e crítica. Tanto atletas quanto os torcedores que lotaram as muitas arenas de jogos, se manifestaram de forma positiva. Ao longo de 11 dias atletas de 160 países competiram em 23 esportes diferentes. Foram 528 provas distribuídas em 20 arenas. A despeito do episódio com a Rússia, banida totalmente dos jogos do Rio, o evento foi marcado por uma surpreendente qualidade dos atletas. Quase todos os países que ficaram entre os 10 melhores em Londres há quatro anos, melhoraram seus desempenhos na classificação geral.

O Brasil tinha um alvo de ficar em quinto lugar no quadro de medalhas nesta paraolimpíada do Rio. Em Londres, 2012, ficou em sétimo lugar com 43 medalhas no total: 21 de ouro, 14 de prata e 8 de bronze. Bem, não foi desta vez, ficamos em oitavo lugar entre os países que participaram. Uma posição honrosa se considerarmos que quase dobramos o número de medalhas: 72 (14 de ouro, 29 de prata e 29 de bronze).

A pontuação dos primeiros lugares considera apenas as medalhas de ouro ganhas. Contudo, se olharmos o caso brasileiro temos um histórico excelente desde a edição de Barcelona (1996) em que ficamos em 37º lugar. Em Sidney (2000) ficamos em 24º, Atenas (2004) em 14º, Pequim (2008) em 9º.

A pergunta que se deve fazer é: isso importa? Se considerarmos o aspecto puramente técnico, talvez sim, e não me ocorre que um atleta paralímpico seja menos competitivo que outro. Mas num plano maior que chamaria de valores subjetivos, nós vimos em nossa casa um espetáculo grandioso quanto a Olimpíada. Recordes quebrados, desempenhos de alguns atletas quase iguais aos paratletas. Sem contar que alguns participantes ganharam a admiração e o respeito do público se tornando quase tão populares quanto os grandes recordistas.

O Brasil, a despeito das limitações conhecidas, tem investido e estimulado a indústria e a universidade a produzir ciência voltada para a criação de próteses inovadoras e capazes de melhorar substancialmente a vida de um paratleta no dia a dia e ainda mais na competição. Estamos falando de uma convergência de tecnologias de vários ramos focada em soluções para pessoas com necessidades especiais. Basta um exemplo: a lâmina que simula o pé tem mais de 80 folhas de fibra de carbono. São leves, resistentes e funcionais, tanto para uma corrida que deixa pouco a desejar a um Usain Bolt, como na delicadeza da dançarina que encantou na abertura dos jogos. Avançamos no quesito hospitalidade e preparo para eventos dessa natureza. Oxalá continuemos avançando em tecnologia e inovação, tão necessárias a todos os que aqui vivemos.

Natalino Salgado Filho

Doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro da AML, do IHGM e da AMM

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