Outro dia deparei-me com uma palavra nova: cibercondríaco. O neologismo é resultado da fusão de ciber, diminutivo de cibernético, vocábulo que traduz a ideia de tecnologia - em particular aquela relacionada a computadores e Internet - e hipocondríaco, figura nosológica da área psiquiátrica/psicológica que descreve um estado mental em que a pessoa acredita ter algum tipo de doença sem fundamento na realidade clínica.
Cibercondríaco é aquela pessoa, portanto, que usa a rede mundial para colher informações sobre doença, remédios etc. Caso não haja uma razão objetiva, uma dor, por exemplo, o hábito de buscar informações médicas pode ser o reflexo da hipocondria existente naquele indivíduo.
Mas não há necessidade de que alguém padeça de nosomifalia, outro nome pelo qual a hipocondria é conhecida, para navegar nos milhares de sites existentes que tratam do assunto saúde. A tecnologia possibilitou que a informação esteja disponível e à mão de qualquer pessoa em qualquer lugar que esteja. Devemos saudar este feito do mundo moderno, pois a informação democratizada deve ser o alvo de uma sociedade que deseja, senão a igualdade em sua forma plena, pelo menos a geração de possibilidades equivalentes à sua população.
Há sites de instituições de classe que disponibilizam informações importantes para as pessoas. Alguns médicos mantêm sites/blogs com informações igualmente confiáveis. A questão é que existem milhares de outros sem o embasamento, a atualidade e, sem dúvida, o preparo técnico para garantir a informação sobre uma determinada área da medicina. O consulente pode não ter a capacidade interpretativa requerida para certos temas, logo, pode concluir que uma situação relativamente simples seja algo mais grave. Ou o contrário, o que pode contribuir para resultados de grande prejuízo para o paciente.
Hoje, quase todo médico viveu esta experiência em seu consultório. O paciente coloca a afirmação como status de verdade inquestionável porque leu no blog ou site. Não raro, a conclusão a que chega é completamente equivocada. O médico, às vezes, tem que gastar parte considerável de seu atendimento num processo de convencimento de seu diagnóstico porque o paciente discorda e o faz baseado em dados descontextualizados retirados da rede mundial de computadores.
É verdade também que a Internet pode ser instrutiva e educativa sobre muitos problemas de saúde. Principalmente para aqueles pacientes que a usam de forma adequada, ou seja, aqueles que procuram se informar, mas consideram que aquele dado publicado é, de certo modo, relativo, generalista muitas vezes, e não pode tratar de seu caso em particular. Este paciente pode se beneficiar muito e até, pode-se dizer, diminuir a ansiedade sobre determinada questão de saúde, enquanto aguarda a avaliação direta do especialista. Usar a Internet como segunda opinião deve ser sempre cercada de cautela.
Temos um paradoxo. A quase infinita quantidade de informações como nunca em nenhum momento da história da humanidade foi possível é, também, um desafio: achar a informação correta e confiável. Como mensurar isso para além do mero conhecimento do nome de um profissional conhecido? Li há algum tempo um artigo em forma de desagravo do dr. Dráuzio Varella em que deplorava a existência de textos atribuídos a ele vagueando pela rede, mas que nunca os escrevera. Além dos erros técnicos, defendia pontos de vista que, segundo esclareceu, não eram aqueles nos quais acredita.
A internet e toda a realidade virtual que redefiniu as relações humanas, o conhecimento e a própria história da humanidade ainda é uma revolução em curso. No campo da saúde ainda tem muito a contribuir, mas o olhar do especialista, seu conhecimento e experiência, a relação tête-à-tête com o paciente ainda será necessária por muitos anos.
Natalino Salgado Filho
Ex-reitor da UFMA, membro da AML,AMM e do IHGM
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