Música

Os mestres da música

Disco “Duas Sanfonas e Uma Orquestra”, parceria da Orquestra de Sopro Pro Arte com os acordeonistas Marcelo Caldi e Kiko Horta é uma homenagem sensível ao cancioneiro nordestino com releitura de obras importantes de Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Sivuca

Bruna Castelo Branco/ Editora do Alternativo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h47
Os músicos da Orquestra de Sopro Pro Arte ao lado de Marcelo Caldi e Kiko Horta
Os músicos da Orquestra de Sopro Pro Arte ao lado de Marcelo Caldi e Kiko Horta (Orquestra de Sopro Pro Arte)

A música nordestina exaltada em uma releitura sofisticada e com ousadia sonora. Essa é a proposta do disco “Duas Sanfonas e Uma Orquestra”, uma parceria da Orquestra de Sopro Pro Arte com os consagrados acordeonistas cariocas Marcelo Caldi e Kiko Horta, ambos pianistas de formação. O álbum é uma reverência delicada aos grandes mestres do fole nordestino como Sivuca, Dominguinhos e Luiz Gonzaga, revisitando suas obras com arranjos contemporâneos. O disco também reúne obras autorais dos acordeonistas e de Raimundo Nicioli, um dos diretores da Orquestra.

Com direção musical de Raimundo Nicioli, Lourenço Vasconcellos e Cláudia Ernest Dias, o disco foi gravado ao vivo em uma imersão de 12 horas por dia, isso permitiu um som genuíno, com espaço para improvisos e uma experiência sonora diferenciada ao juntar uma orquestra completa com dois acordeonistas em um estúdio. “Foi uma experiência muito boa que criou uma atmosfera de intimidade musical. Gravar ao vivo é aumentar a sua performance musical ao máximo. Como num show com público presente”, definiu Raimundo Nicioli.

O álbum que abre com a belíssima “Forró Transcendental”, composição e arranjo de Kiko Horta. Em seguida, releituras como “Homenagem a Velha Guarda”, de Sivuca (arranjo de Mário Féres) e “Baião da Garoa”, de Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil (arranjo de Marcelo Bernardes). “Homenagem a Dominguinhos”, de Marcelo Caldi, e “Baião pro Hermeto”, de Raimundo Nicioli, trazem arranjos sofisticados, assinados pelos próprios compositores.

Com arranjo de Bia Paes Leme, “Colo de Ignez”, de Kiko Horta, tece um doce lamento nordestino, e “Lembrei do Ceará”, outra composição de Marcelo Caldi, retoma a festividade com maracatu e baião. Caldi assina também os arranjos de “Retrato da Vida”, de Djavan e Dominguinhos, essa faixa conta com a participação especial do cantor Marcelo Mimoso, enquanto Fábio Luna assina o de “Cabaceira Mon Amour”, de Sivuca. “De onde vem o baião”, de Gilberto Gil e arranjo de Bebel Nicioli, encerra o disco cujo traço principal é reunir influências tradicionais, em diálogo com o virtuosismo e o refinamento, numa linguagem acessível ao grande público.

Clássicos

Segundo os acordeonistas, revisitar a beleza melódica de clássicos da música nordestina foi uma tarefa de grande responsabilidade e, ao mesmo tempo, cheia de prazer e descobertas. “Revisitar a obra nordestina é para nós sempre um grande desafio, tanto para os sanfoneiros cariocas quanto para os instrumentistas da orquestra, que se depararam com o virtuosismo, as melodias sinuosas e toda a beleza da cultura nordestina”, define Marcelo Caldi.

Para Kiko Horta, que participou como arranjador de três projetos anteriores da Orquestra de Sopros Pro Arte, o álbum foi um desafio intenso e com um resultado extremamente satisfatório. “Gravar estes mestres é sempre incrível, são como clássicos, eternos. Por outro lado, queríamos também dar vazão a produção contemporânea de temas instrumentais que é vasta e muito rica”, pontuou.

De acordo com Cláudia Ernest, a ideia era focar na obra de Dominguinhos, Sivuca e Luiz Gonzaga, mas no decorrer do processo de produção, resolveram incluir as músicas de Marcelo Caldi, Kiko Horta e Raimundo Nicioli, naturalmente entrelaçadas e inspiradas nas obras dos três grandes mestres do cancioneiro popular. “A ideia inicial era homenagear os três grandes sanfoneiros nordestinos mas resolvemos incluir as músicas autorais de Marcelo Caldi, Kiko Horta e Raimundo Nicioli que naturalmente tem inspiração em Dominguinhos, Sivuca e Luiz Gonzaga. Assim o CD se compõe de cinco temas autorais e cinco músicas dos consagrados” comenta.

Cultura

Para Marcelo Caldi, a música feita no Nordeste tem um peso muito importante para a produção brasileira. “Luiz Gonzaga é nossa referência de música nordestina no Brasil. Abriu portas para a importância do Nordeste no nosso país e mostrou seus costumes, suas dores e alegrias. Se hoje reverenciamos esta rica cultura, com certeza Gonzaga é o pai, Sivuca e Dominguinhos são os filhos, e nós somos os netos”, avaliou.

Além de Luiz Gonzaga, Kiko Horta cita outras importantes referências da música nordestina como Dorival Caymmi, Gilberto Gil e o maranhense João do Vale. “O Nordeste tem presença fundamental na cultura brasileira de uma forma geral. Na música temos Caymmi, Gilberto Gil, João do Valle, Jackson do Pandeiro, Capiba e tantos outros, a lista é gigante. No caso da Sanfona, é impossível falar dela sem chegar até a obra de Luiz Gonzaga, Sivuca, Dominguinhos e Chiquinho do Acordeon que era gaúcho. Todos estes mestres têm em comum, o fato de terem sido influenciados pela música que se fazia no Rio de Janeiro como o Choro, o Samba e a Bossa Nova”, complementou.

A qualidade estética do disco, lançado no mês de abril deste ano, mostra que a obra dos mestres nordestinos é eterna, sempre com possibilidades de releituras e de projeções muito além da época em que foram compostas.

Mais

O álbum contou com patrocínio da Petrobrás, Governo do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Cultura, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro.

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