Sanções

Congresso dos EUA endurece sanções contra a Coreia do Norte

Endurecimento das sanções é resposta a foguete e novo teste nuclear; lei ainda deve ser sancionada pelo presidente Barack Obama

Atualizada em 11/10/2022 às 12h51
Imagem da TV estatal norte-coreana mostra lançamento do foguete
Imagem da TV estatal norte-coreana mostra lançamento do foguete (Imagem da TV estatal norte-coreana mostra lançamento do foguete)

Washington - O Congresso americano aprovou, quase por unanimidade, um endurecimento das sanções contra a Coreia do Norte como reação à realização por Pyongyang de um novo teste nuclear e o lançamento de um foguete.

A Câmara de Representantes aprovou, sexta-feira, 12, por 408 votos a favor e 2 contra um texto que torna obrigatórias as sanções contra qualquer pessoa ou entidade que fornecer à Coreia do Norte bens, tecnologia ou treinamento que lhe permitam desenvolver armas de destruição em massa

Até agora, a imposição destas sanções não era obrigatória e ficava a critério do presidente. A iniciativa obteve facilmente o apoio da maioria qualificada de dois terços de que precisava. As sanções já tinham sido aprovadas na quarta-feira passada pelo Senado. O documento agora deve ser sancionado pelo presidente Barack Obama.

As sanções contemplam, ainda, as empresas ou pessoas que permitam à Coreia do Norte importar bens de luxo, tecnologias, metais preciosos, mas também aço, carvão ou outros materiais suscetíveis de ser usados com fins militares.

Estas se somam às sanções já impostas ao regime de Pyongyang por parte dos Estados Unidos e outros países, adotadas após a realização de três testes nucleares, em 2006, 2009 e 2013.

Agora, a Coreia do Norte assegurou no começo de janeiro ter feito seu primeiro teste com uma bomba de hidrogênio, mais potente que uma bomba atômica comum, como demonstração de sua determinação em avançar em seu programa nuclear.

Energia e água

A Coreia do Sul cortou o fornecimento de energia e de água para o parque industrial e anunciou que as conversações planejadas com os Estados Unidos sobre a implantação do Terminal de Defesa Aérea de Alta Altitude (THAAD, na sigla em inglês), um dos sistemas de defesa de mísseis mais avançados do mundo, devem começar na próxima semana.

A mídia da Coreia do Sul há muito tempo faz especulações sobre as intenções de o país e os EUA estarem trabalhando na implementação do THAAD na Coreia do Sul.

E o recente lançamento do foguete norte-coreano, que muitos veem como um teste proibido de tecnologia de mísseis balísticos, fez os países anunciarem formalmente que começarão as conversações sobre a implantação do sistema antimísseis.

Rússia e China

Pequim e Moscou estão atentos à possível instalação do sistema, que temem poderia ajudar os EUA a detectar mísseis de outros países.

A mídia estatal chinesa revelou prontamente o descontentamento do país com o projeto, enquanto a Rússia também expressou preocupações.

A Coreia do Norte, que já havia feito alertas sobre a possibilidade de uma guerra nuclear na região, ameaçou reforçar suas Forças Armadas se a implantação do THAAD realmente for levada a cabo.

Em Munique (Alemanha), o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, discutiu com seus homólogos da China e da Coreia do Sul as possíveis respostas às ações da Coreia do Norte, incluindo a implantação do sistema antimísseis.

Seul e Washington desejam implantar o sistema em uma data próxima, e nas próximas conversações os países discutirão onde e quando a implantação poderá ser feita, informou um funcionário da Defesa sul-coreano.

MAIS

CRONOLOGIA

Jul.2006

Coreia do Norte lança foguete Taepodong-2. EUA dizem que lançamento falhou após 40 segundos

Abr.2012

Foguete do tipo Unha-3 voa por poucos minutos antes de explodir e cair no mar no oeste da península coreana

Dez.2012

Pyongyang lança Unha-3 e põe em órbita o satélite de observação Kwangmyongsong-3

Fev.2016

Regime faz novo lançamento de foguete Unha-3 domingo, 7, pondo em órbita o satélite científico Kwangmyongsong-4

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Correlata

Coreia do Norte consegue
ganhar dinheiro mesmo sob sanções

Pyongyang - O fechamento de um parque industrial na Coreia do Norte administrada por ambas Coreias custou à empobrecida Coreia Norte uma fonte legítima de renda significativa.

Seul alega que fechou o complexo de Keasong em resposta ao recente lançamento do foguete de longe alcance pelo regime de Pyongyang. O objetivo é impedir que seu vizinho use o dinheiro proveniente das fábricas nos seus programas nucleares e de mísseis.

Com esse impacto na economia já instável de Pyongyang, pelo menos por ora o país se apoiará em suas outras fontes de renda, mantidas apesar das sanções econômicas internacionais decorrentes de seus programas nucleares e de armamento.

A economia de Pyongyang

Seul e Washington querem o aumento das sanções econômicas e transações mais estritas para punir o ousado empreendimento nuclear e de mísseis da Coreia do Norte, porém há dúvidas quanto ao poder de coerção que pode ser exercido sob uma das economias menos dependentes de comércio do planeta.

É extremamente difícil saber como funciona essa economia porque o país não divulga estatísticas oficiais de comércio e considera valioso manter seus segredos.

O Banco Central da Coreia do Sul, no entanto, tem alguma ideia do que ocorre no país, usando como base dados que recebe anualmente de agências de governo, organizações relacionadas e investigações de instituições de pesquisa.

O banco publica estimativas sobre a economia norte-coreana desde 1991. Em seu último relatório, avaliou que houve crescimento de 1% da economia do país em 2014, chegando a 33,95 trilhões de won sul-coreanos (US$ 28,5 bilhões) —ou cerca de 2% da economia sul-coreana.

Segundo o Banco da Coreia, a soma das importações e das exportações do país vizinho naquele ano girava em torno de US$ 9,9 bilhões, incluindo US$ 2,4 bilhões só no comércio com o Sul. De acordo com o Ministério da Unificação, esse valor foi resultado unicamente das atividades em Kaesong.

Negócios com a China

A China é o último forte aliado que Pyongyang tem. O país também é seu protetor diplomático e o mais importante parceiro comercial.

As principais exportações feitas para a China incluem carvão, minérios, vestuário, têxteis e produtos alimentícios, enquanto as importações feitas pela Coreia do Norte abarcam petróleo, aço, maquinaria, carros e eletrônicos, de acordo com a Agência de Promoção de Negócios e Investimentos da Coreia do Sul.

No entanto, é improvável que Pequim apoie o endurecimento das punições em relação aos testes nucleares e ao lançamento do míssil por temor de provocar um colapso no regime de Pyongyang, com potencial fluxo de refugiados por sua fronteira.

Transações com a China representaram mais de 74% das operações comerciais da Coreia do Norte em 2014, e mais de 90% quando se excluem os negócios com o parque industrial de Kaesong, de acordo com a agência oficial de estatísticas da Coreia do Sul, que analisa os dados do banco central e as informações de organizações do comércio.

Parque industrial

O Ministério de Unificação da Coreia do Sul afirma que Kaesong forneceu 616 bilhões de won (US$ 560 milhões) para o Norte desde seu estabelecimento, em 2004, durante um momento de reaproximação dos rivais.

Mais de 120 companhias sul-coreanas empregaram em torno de 54 mil norte-coreanos em Kaesong, pagando para cada um US$ 150 por mês para fabricar produtos como roupas, relógios de pulso, cosméticos e componentes eletrônicos. O ministério não forneceu explicações detalhadas sobre por que suspeita que o dinheiro vindo de Keasong tenha sido direcionado para os projetos nucleares e de mísseis da Coreia do Norte.

Jeong Joon-Hee, o porta-voz do ministério, descreveu como plausível que o dinheiro dado pelas companhias sul-coreanas em troca do trabalho norte-coreano fosse para os cofres de Pyongyang por causa da forma como os funcionários recebem seus salários.

Enquanto as companhias do Sul pagam o Norte com dólares, seus empregados norte-coreanos recebem o salário em wons de seu país, com base em uma taxa de câmbio estipulada pela Coreia do Norte.

Exportando trabalhadores

Especialistas internacionais dizem que, desde meados de 2000, a Coreia do Norte tem aumentado a quantidade de pessoas que vão trabalhar fora do país na tentativa de trazer mais moeda estrangeira forte.

Com base em informações coletadas por suas agências globais e relatórios de organizações internacionais, a Agência de Promoção de Negócios e Investimentos da Coreia do Sul estima que entre 60 mil e 100 mil norte-coreanos trabalhem em 40 países diferentes.

Marzuki Darusman, relator especial de direitos humanos da ONU na Coreia do Norte, reportou ano passado que mais de 50 mil norte-coreanos trabalham em outros países e levam à Coreia do Norte entre US$ 1,2 bilhão e US$ 2,3 bilhões anualmente em moeda internacional.

Os norte-coreanos são empregados em diversas atividades nos países estrangeiros, incluindo em restaurantes na China e no Sudeste Asiático e no setor de construção na Rússia, Oriente Médio e norte da África, de acordo com a Rede Internacional de Direitos Humanos para Trabalhadores Norte-coreanos no Estrangeiro.

Os empregados norte-coreanos normalmente enfrentam condições de trabalho severas e abusos, de acordo com relatório da ONU.

Atraindo turistas

Nos últimos anos a Coreia do Norte tem tentando fortalecer o turismo por meio da promoção de zonas especiais de turismo e do desenvolvimento de áreas recreativas.

Oficiais norte-coreanos disseram à agência de notícias Associated Press que cerca de 100 mil turistas foram ao país em 2014, sendo que alguns milhares saíram da China.

O aumento da atividade ocorreu apesar das prisões de turistas incluindo, mais recentemente, o estudante norte-americano Otto Warmbier, que foi detido mês passado por conta de ato não especificado, mas descrito pelo Norte como "hostil".

Visitas ao resort Diamond Mountain por sul-coreanos foram populares por uma década até 2008, quando um guarda norte-coreano atirou em uma mulher sul-coreana. Em decorrência da morte, as visitas ao resort foram interrompidas.

O Departamento de Estado dos EUA alertou durante muito tempo sobre viagens à Coreia do Norte. Após o recente teste nuclear norte-coreano, Washington buscou o banimento do turismo e restrições à companhia aérea da Coreia do Norte, Air Koryo, em suas operações nos aeroportos ao redor do mundo.

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