Opiniao

Cuidados paliativos no Maranhão

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Atualizada em 11/10/2022 às 12h54

Segundo a Organização Mundial de Saúde, cuidados paliativos consistem em uma abordagem que promove qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento. Requer a identificaçãoprecoce e tratamento impecável da dor e de outros problemas físicos, psicossociais e espirituais. Há extrema preocupação com o controle da ansiedade, tristeza, insônia, depressão e distresse, além da busca de suporte social. A espiritualidade é vista como uma necessidade que pode gerar sentido à vida e consiste em mais uma dimensão da saúde. É coerente pensar que diante de tantas demandas, uma equipe multiprofissional especializada e preparada seria mais apropriada para promover o cuidado e garantir a proporcionalidade e adequação terapêutica nas diversas fases do adoecimento.

Que pacientes são elegíveis para este atendimento? Imagina-se equivocadamente que sejam apenas indivíduos na fase final da vida, em processo de morte e que tenham câncer. Esta é uma intervenção que pode se antecipar aos sintomas que sabidamente podem gerar o sofrimento humano em uma fase mais avançada da doença, seja ela de qualquer natureza, um mal de Alzheimer ou um câncer metastático e potencialmente letal. Portanto, o cuidado deve ser o mais precoce possível, facilitando o entrosamento com a equipe que estará presente até os últimos dias de vida.

Mas os cuidados paliativos foram há apenas três anos reconhecidos pela Associação Médica Brasileira como uma área de atuação, que então certificou cerca de quarenta médicos em todo o país. Na maioria dos currículos universitários, o cuidado paliativo não se encontra como disciplina obrigatória ou optativa. A Universidade Federal do Maranhão(UFMA) incorporou o tema na grade do curso de medicina, de forma progressiva e obrigatória. Para os demais profissionais, a realidade é pior. Enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, assistentes sociais entre outros, devem buscar qualificação na pós-graduação nos poucos cursos oferecidos. Quanto à população, esta não tem o devido esclarecimento, apesar de um crescente interesse dos meios de comunicação pelo assunto. Em nossa cidade, este tema é pouco debatido e há muitos tabus e crenças inadequadas.

No Maranhão, há serviços em formação, como no Hospital Universitário da UFMA, que criou uma comissão para orientar a condução de pacientes internados, especialmente com doenças neurodegenerativas e crônicas. Há estruturas mais complexas nos hospitais que tratam de câncer. O Hospital Aldenora Belo destaca-se pelo atendimento ambulatorial e domiciliar há alguns anos. No Hospital de Câncer do Maranhão, instituição estadual, foi criada a primeira enfermaria de cuidados paliativos, com dez leitos e equipe multiprofissional, que completou um ano de pleno funcionamento no mês passado. Não há por aqui nenhum hospice, que é uma estrutura intermediária entre hospital e a casa do doente. Lugar mais caloroso, porém menos tecnológico, com o objetivo de abrigar o enfermo e sua família na fase terminal.

Há um esforço de melhorar e de contemplar cada vez estes cuidados em nossa região. Entretanto, o Brasil ainda precisa traçar políticas públicas dirigidas aos paliativos, que visem qualificação e educação contínua de profissionais, disponibilidade de locais de atendimento e medicamentos, bem como suporte financeiro para as instituições que lidam com tais pacientes. É imperioso legitimar os cuidados paliativos como uma necessidade básica de saúde!

João Batista S. Garcia
Professor Doutor Médico Paliativista e Especialista em Dor, com área de atuação reconhecida pela Associação Médica Brasileira.

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