Na Av. Beira-Mar

Moradores da Vila Nestor e polícia entram em confronto

Segundo eles, o Governo do Estado não lhes deu a assistência prometida; ontem, eles voltaram a interditar a Avenida Beira-Mar, mas a PM os recebeu com bombas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h55

[e-s001]Moradores da Vila Nestor, em Paço do Lumiar (Região Metropolitana de São Luís), entraram em confronto com a polícia ontem e interditaram duas vezes, no período da manhã e à tarde, a Avenida Beira-Mar, no centro da capital maranhense. Os manifestantes denunciaram a falta de assistência do Governo do Estado, que descumpriu o que foi prometido para as famílias que estão ameaçadas de serem despejadas das suas moradias.

Os manifestantes chegaram à avenida no início da manhã, por volta de 7h, e se concentraram no coreto da via, fazendo com que a Polícia Militar já se mobilizasse na região. Por volta de 11h, alguns moradores interditaram o fluxo de veículos na avenida, ocasionando congestionamentos em diversos pontos do centro da cidade.

Com faixas e cartazes, os moradores da Vila Nestor mais uma vez denunciaram que o Governo do Estado não cumpriu a palavra, uma vez que foi prometido às famílias que estão prestes a perder sua moradia, algum tipo de assistência, mas isso até o momento não aconteceu. Os moradores pedem esse auxílio do Executivo estadual, pois estão ocupando um terreno em Paço do Lumiar que foi alvo de reintegração de posse determinada pela Justiça no mês passado.

[e-s001]Embates
O confronto entre os policiais da Tropa de Choque e os moradores se iniciou logo que os manifestantes bloquearam a Avenida Beira-Mar. Os policiais utilizaram gás de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo, além de balas de borracha, para dispersar os manifestantes do local e desobstruir a via.
Por causa do uso da força, houve tumulto generalizado na região, com muita gritaria e correria dos manifestantes que estavam na rua. Para se proteger e evitar serem atingidas pelas balas e gases disparados pelos policiais, as pessoas correram e, nesse momento, muitas caíram umas por cima das outras, deixando-as lesionadas. Mesmo assim, muitos dos manifestantes foram atingidos pelas balas de borracha e pelos gases de pimenta e lacrimogêneo.

A ação dos policiais foi registrada em vídeos por quem passava no local e, em poucos minutos, as imagens estavam sendo amplamente divulgados nas redes sociais. Por volta de 12h, a via foi desobstruída e o trânsito voltou a fluir normalmente. Apesar disso, os moradores da Vila Nestor continuaram no local e se aglomeraram no coreto da Avenida Beira-Mar.

Durante a tarde, os manifestantes ainda continuavam no local e afirmavam que apenas deixariam a região após receberem uma resposta positiva do Governo do Estado para suas reivindicações. Eles denunciaram ainda a forma truculenta como os policiais militares agiram.

Violência extrema
Conforme os relatos feitos pelos moradores da Vila Nestor, os policiais da Tropa de Choque agiram de forma violenta e desnecessária. Muitos manifestantes ficaram com lesões nas pernas, braços e em outras partes do corpo, e por isso registraram boletins de ocorrência na delegacia.

Os moradores afirmaram também que uma mulher teria quebrado o braço durante a ação da polícia militar e por isso registrou um boletim de ocorrência. Eles disseram ainda que os policiais apreenderam o carro de som utilizado pelos manifestantes e impediram que eles realizassem filmagens so­bre a ação.

[e-s001]“Todos nós fomos ameaçados pela polícia, e o governo está fazen­do isso para nos intimidar. A polícia está ferindo as pessoas e nos tratando como se fôssemos bandidos. O Ministério Público precisar se manifestar para coibir essa tortura praticada pela polícia”, disse a técnica em enfermagem Auxiliadora Rodrigues.

Cida Feitosa, uma das líderes do movimento, afirmou que o Governo do Estado por sucessivas vezes vem descumprindo os acordos que ha­via feito. “Eles ficaram de cadastrar as pessoas da Vila Nestor, mas isso não aconteceu. É apenas mais uma mentira. Agora, o governo nem fala mais conosco”, afirmou.

No fim da tarde de ontem, os mo­radores da Vila Nestor voltaram a bloquear a via. Eles permaneceram por aproximadamente 20 minutos na pista e depois liberaram o tráfego de veículos. Durante esse novo manifesto, os policiais acompanharam o ato dos manifestantes, mas não houve confronto.

Anteriores
Essa não foi a primeira manifestação pública dos moradores da Vila Nestor. No dia 2 deste mês, os moradores se concentraram na Praça Maria Aragão, no centro de São Luís, no início da manhã, e iniciaram caminhada pela Avenida Beira-Mar. Com cartazes, eles faziam críticas aos Três Poderes. Cobravam dos deputados estaduais o respeito ao voto do povo, pediam ajuda ao Governo do Estado e clamavam por Justiça. A manifestação foi comandada por Nestor da Silva, líder comunitário da Vila Nestor. Na ocasião, não houve conflito com a PM.

No dia 7 de agosto, os moradores promoveram um apitaço no coreto da Avenida Beira-Mar. Durante o manifesto, homens da Polícia Militar colocaram as viaturas da corporação no meio da via para impedir que os manifestantes in­terditassem a pista ou subissem a via em direção ao Palácio dos Leões, sede do Executivo estadual.

O primeiro ato aconteceu no dia 6 de agosto, na Avenida Beira-Mar. Na ocasião, os manifestantes obstruíram os dois sentidos da Avenida Beira-Mar, próximo ao coreto, o que causou um longo engarrafamento no trecho. A Ponte José Sarney (do São Francisco) ficou bloqueada no sentido bairro/terminal, fazendo com que os usuários do transporte coletivo seguissem a viagem a pé.

Os manifestantes foram retirados a força pelos policias do Batalhão de Choque, que utilizaram bombas de gás e spray de pimenta contra o grupo. Após o corre-corre, pessoas caíram no chão e ficaram levemente feridas. Aos poucos, a via foi liberada, e o trânsito voltou a fluir normalmente. Crianças que estavam na companhia de manifestantes foram atingidas e duas delas encaminhadas para o Hospital da Criança, na Alemanha.

Decisão
Uma liminar concedida pela juíza Jaqueline Reis Caracas determinou a reintegração de posse da área onde fica a Vila Nestor, em favor de Amadeu da Cunha Santos Aroso Neto e Yuefang Araújo Marques Aroso. Por causa dessa decisão, os moradores realizaram a primeira manifestação, no dia 6 de agosto.

O Estado entrou em contato com o Governo do Estado para saber de que forma o executivo pretende atender as reivindicações das famílias da Vila Nestor, mas até o fechamento desta edição nenhuma resposta foi obtida.

CRONOLOGIA
MANIFESTAÇÕES DA VILA NESTOR

6 de agosto – Moradores da Vila Nestor interditam a Avenida Beira Mar, concentrando-se em frente à rampa de acesso à Praça Pedro II, na Praia Grande, em protesto contra sua retirada da comunidade. Eles tentaram conversar com o governador Flávio Dino (PCdoB) e, quando subiam até o Palácio dos Leões, foram barrados por policiais militares do Batalhão de Choque, sendo retirados à força.

7 de agosto – Os manifestantes realizaram um novo ato, dessa vez um apitaço no coreto na Avenida Beira-Mar.

2 de setembro – Moradores da Vila Nestor fazem uma passeata pelo centro da cidade, denunciando o descaso dos poderes com relação as suas reivindicações.

14 de setembro – Os moradores fazem uma nova manifestação, interditando pela manhã e tarde a Avenida Beira-Mar. Houve confronto com a Polícia Militar.

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