São Luís que não dorme

Movimento é intenso durante toda a noite no Porto do Itaqui

As mesmas operações que são realizadas durante o dia ocorrem à noite, mas trabalhadores precisam aumentar a atenção com a segurança; de madrugada, pelo menos sete navios ficam atracados para a carga e descarga de produtos de todos os tipos

Jock Dean/ O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h55

[e-s001]"Bom dia!". Essa é a saudação que os profissionais do Porto do Itaqui, em São Luís, dão a quem chega ao local. Tudo muito comum, não fosse um detalhe: passa das 2h30. É que, ao longo da madrugada, o porto mantém a mesma rotina do período diurno. E seus profissionais estão tão acostumados ao horário de trabalho que “esquecem” que trabalham durante a noite. Na verdade, não é só uma questão de costume, mas de cuidado profissional. Para eles, é como se a noite não existisse.

À noite, pela portaria principal do porto, passam caminhões e trens transportando cargas de todo tipo para os navios, fazendo com que, ao longo de toda a madrugada, as três modalidades de transporte - rodoviário, ferroviário e marítimo - funcionem simultaneamente durante as operações. "As mesmas atividades realizadas durante o dia ocorrem à noite e madrugada. O que determina a chegada dos navios são as condições da maré. Então, ele atraca ou desatraca independente de ser dia ou noite", explicou José Antônio Magalhães, diretor de Operações do Porto do Itaqui.

[e-s001]Foi ele quem guiou O Estado pelo porto durante a madrugada de sexta-feira, dia 4. Por causa dos riscos envolvidos nas operações realizadas, a equipe ficou no porto por pouco mais de uma hora e só pôde acompanhar uma das operações que estavam em execução naquela madrugada, a carga de celulose de um caminhão para um navio atracado no berço 100 do terminal portuário, seguindo os mesmos protocolos de segurança que os trabalhadores do local. "Uma das características do trabalho noturno no porto é que precisamos ser visíveis. Por isso todos temos de usar essa fantasia de cone", disse, referindo-se ao colete reflexivo de alta visibilidade que integra o Equipamento de Proteção Individual (EPI) usado pelos profissionais.

As operações, como a realizada no berço 100 do porto naquela madrugada, foram coordenadas por Flávio Brito. O carregamento de celulose para um navio exige o esforço conjunto de diversas ações. Caminhões transportam a carga do armazém para o berço. Eles estacionam entre o navio e uma estrutura metálica na qual ficam seis homens.

[e-s001]A função deles é prender os cabos de uma plataforma aos da carga. Essa plataforma transporta a carga do caminhão para o interior do navio atracado. "Essa carga acontece de acordo com o plano de cada navio. Por vez, essa plataforma sobe de 12 a 24 amarrados de celulose para o navio. Esse processo demora conforme a quantidade a ser carregada. O carregamento de 30 mil toneladas demora 48 horas para ser finalizado", explicou.

Esse processo é acompanhado atentamente por profissionais como Priscila Rodrigues, que é técnica em administração portuária e trabalha na sala de controle operacional do Porto do Itaqui. "Lá, eu recebo todas as informações do que está acontecendo e, caso ocorra algum problema, como a falta de um equipamento, entramos em contato com o operador para que sejam tomadas todas as medidas necessárias para que a operação ocorra corretamente", explicou. O trabalho de Priscila Rodrigues é fundamental para que a fila de navios, aguardando para carga ou descarga de produtos, flua corretamente.

[e-s001]Concentração - O trabalho criterioso realizado por ela requer concentração, mas esbarra nos limites do próprio corpo. "Trabalhamos dois meses durante o dia e dois meses durante a noite. À noite, entramos às 21h e saímos às 7h30. Esse é o meu primeiro plantão noturno, pois nos dois meses anteriores eu estava trabalhando durante o dia. Então, o relógio biológico fica desacostumado a essa rotina, e toda vez que mudamos precisamos nos readaptar para o novo turno de trabalho", informou.

[e-s001]Mas José Antônio Magalhães acredita que existam vantagens operacionais no trabalho noturno. "As equipes de manutenção preventiva não trabalham à noite e o transporte de combustível por caminhão também não é realizado, reduzindo o fluxo de pessoas e veículos à noite, fluindo melhor as outras operações portuárias. Então, eu considero isso uma condição favorável", destacou.

Ele frisou esse detalhe por que as operações requerem um planejamento adequado para que trens, navios e caminhões operem de forma conectada. No caso do embarque de celulose, um trem transporta a carga da fábrica da Suzano, em Imperatriz, por um trecho da estrada de ferro conectada à Ferrovia Norte-Sul, que depois se liga à Carajás. No porto, a celulose é armazenada em galpões e, quando é atingido o volume necessário, caminhões a transportam para os navios.

À noite, sete navios ficam atracados para a carga e descarga de produtos e em cada um desses navios trabalham de 10 a 15 pessoas, cuidando de produtos variados. São granéis líquidos derivados do petróleo, grãos como soja e milho, fertilizantes e celulose. Enquanto um navio carrega soja, outro descarrega gasolina e, ao lado, há outro descarregando diesel, e assim seguem-se os dias e noites no Porto do Itaqui.

[e-s001]O PORTO DO ITAQUI
Em 1939, iniciaram-se
os estudos técnicos pelo Departamento Nacional de Portos, Rios e Canais- DNPRC para a construção do Porto do Itaqui. As obras foram iniciadas em 1966 com a construção do berço 102 e prosseguiram até 1972. Em 1976, foram concluídos os trechos dos berços 101 e 103. Em 1994, a extensão do cais foi ampliada com a construção dos berços 104 e 105. Em 1999, foram realizadas as obras do berço 106. Em 2012, dando continuidade às ações de expansão da infraestrutura portuária, a Empresa Maranhense de Administração Portuária (EMAP), que administra o terminal, inaugurou o berço 100. Ainda no ano de 2012, foi iniciada a construção do berço 108 dedicado à movimentação de derivados de petróleo.

NÚMEROS
70 navios
, em média, atracam por mês no Porto do Itaqui
18.029.000 toneladas foi o volume de carga movimentado no porto em 2014
14.400.000 toneladas foi o volume de carga movimentado no porto de janeiro a agosto de 2015

SAIBA MAIS
A maioria dos navios
que atracam no Porto do Itaqui são registrados em países que têm menor carga tributária, como Panamá e Chipre, entre outros, mesmo sendo fabricados em outros países, como os asiáticos. As exportações de grãos são na maioria para o mercado asiático e as demais cargas para Europa e Estados Unidos.

CARGAS MOVIMENTADAS
Soja, derivados de petróleo
, fertilizante, celulose, ferro gusa, carvão, cobre, milho, clinquer, Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), escória de cimento, trilhos, manganês, soda cáustica, contêineres, etanol, trigo, calcário, arroz, coque, fluoreto, entre outras.

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