Imigrantes

Apesar de protestos, europeus se organizam para acolher refugiados

Na Islândia, 11 mil famílias se ofereceram para abrigar estrangeiros; na Alemanha, voluntários dão ajuda humanitária para recém-chegados; Barcelona foi a primeira cidade a promover um cadastro de famílias dispostas a acolher os migrantes

Atualizada em 11/10/2022 às 12h55
(Voluntários servem refeição para um grande grupo de refugiados)

Alemanha - Na contramão dos protestos e ataques contra centros de acolhida de refugiados, as iniciativas populares para acolher migrantes que fogem da pobreza e da guerra têm se multiplicado na Alemanha, na Islândia e na Espanha nos últimos dias.

Nesse momento em que a Europa recebe a maior quantidade de refugiados desde a segunda Guerra Mundial, europeus têm oferecido suas próprias casas para abrigar os estrangeiros que deixaram a Europa, o Oriente Médio . Em Munique, na Alemanha, voluntários foram para estação de trem levar ajuda humanitária aos recém-chegados.

Na Islândia, a escritora Bryndis Bjorgvinsdottir criou um grupo no Facebook e lançou uma carta aberta ao ministro do Bem-Estar do país, Eygló Harðardóttir, pedindo permissão para as pessoas que estivessem dispostas a acolher os refugiados pudessem colaborar. Mais de 11 mil famílias responderam ao apelo e ofereceram suas casas para acolher refugiados sírios, de acordo com o jornal The Independent.

Na carta, Bjorgvinsdottir disse que gostaria de mostrar a simpatia da opinião pública para promover a acolhida dos refugiados. Ela ainda lembra que os imigrantes representam "recursos humanos" com experiência e habilidades que poderiam ajudar a todos os islandeses. "Eles são os nossos futuros cônjuges, melhores amigos, a próxima alma gêmea, um baterista para a banda dos nossos filhos, o próximo colega, Miss Islândia 2022, o carpinteiro que finalmente termina o banheiro, o cozinheiro na lanchonete, uma série bombeiro e o apresentador de televisão ", escreveu, segundo o jornal.

Até então, o governo havia se disponibilizado a receber apenas 50 refugiados. Agora o primeiro-ministro do país anunciou a formação de um comitê para reavaliar o número de pessoas que poderão ser acolhidas.

Espanha - Na Espanha, Barcelona foi a primeira cidade a promover um cadastro de famílias dispostas a acolher os migrantes. A prefeita Ada Colau reuniu-se com representantes de instituições e ONG’s para estudar medidas para recepcioná-los. As cidades de Madrid e Malhorca também anunciaram a intenção de se oferecer como cidade de acolhida para migrantes.

Alemanha - Na Alemanha, que espera receber 800 mil refugiados neste ano, as iniciativas de voluntários também ganham força apesar dos protestos da extrema direita registrados em Heidenau ou de ataques contra os abrigos de refugiados registrados em várias partes do país.

Na terça-feira, 31, grupos foram para estação de trem de Munique distribuir água e comida os refugiados que deixaram Budapeste depois de terem passado dias acampados na estação húngara. Eles pediram doações pelas redes sociais e, segundo Thomas Baumann, de cerca de 20 anos, os apelos deram resultado. “Agora estamos quase melhor equipados do que um supermercado", disse.

Páginas na internet colocam em contato os recém-chegados com famílias dispostas a acolhê-los. A acolhida em casa, no entanto, é apenas uma alternativa que é proibida em algumas regiões como a Baviera.

Os fãs de futebol alemães também levaram cartazes para os estádios para dar boas-vindas para os refugiados. O Borussia Dortmund convidou 220 refugiados para o seu jogo Europa League contra o time norueguês Odds Ballklubb.

O gestor da região central de Berlin reconheceu a importância da ajuda popular, de acordo com a revista francesa La Croix. “Sem os voluntários a situação não seria sustentável. É uma crise muito séria e muito embaraçante para imagem da capital”, declarou.

Crise migratória - As ações voluntárias também contrastam com uma certa falta de iniciativas oficiais para contornar o problema. Alguns governos têm se recusado a receber refugiados e resistido a propostas da União Europeia para criar um plano comum para lidar com a crise, que está se intensificando devido a uma onda de imigrantes que fogem da guerra e da pobreza em África, na Ásia e no Oriente Médio.

No sábado (29), a Hungria anunciou que finalizou a construção de uma barreira constituída de três rolos de arame farpado que se estende ao longo de 175 km da fronteira com a Sérvia. A medida foi criticada pela França. A Comissão Europeia também deixou claro seu desagrado com a cerca húngara, mas o país não enfrenta sanção por construí-la.

A "rota dos Bálcãs do Oeste" é o caminho de milhares de sírios e iraquianos que fogem da guerra, assim como albaneses, kosovares e sérvios. Nos últimos meses, as cenas de caos se multiplicam nos países do leste da Europa à medida que milhares de migrantes avançam para o continente de ônibus, de trem ou a pé. Conflitos foram registrados nas fronteiras da Grécia, Macedônia, Sérvia e Hungria.

Outra rota muito utilizada pelos migrantes é a travessia do Mediterrâneo, utilizada por 350 mil migrantes para chegar a Europa desde janeiro, segundo estimativa da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Quase 220 mil chegaram à Grécia e quase 115 mil à Itália, segundo a organização com sede em Genebra. 2.643 pessoas morreram tentando chegar à Europa.

A Alemanha tem tomado algumas iniciativas positivas com relação à acolhida dos refugiados. Inicialmente, o país favoreceu que os sírios peçam refúgio diretamente à Alemanha após excluí-los do Regulamento de Dublin. Esse regulamento indicava que esse estrangeiro fosse encaminhado ao país onde migrante ingressou na União Europeia. Países como a Itália e Grécia, por exemplo, têm recebido um número muito elevado de migrantes que chegam pelo mediterrâneo.

O jornal alemão “Handelsblatt” afirmou que as autoridades de supervisão financeira (BaFin) vão facilitar aos refugiados a abertura de uma conta bancária. A Associação de Cadernetas de Poupança Alemãs e Giros (DSGV, por sua sigla em alemão) vai oferecer aos refugiados material informativo em vários idiomas para entender o sistema bancário.

Mais - O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, deverá dispor em 2016 de custos adicionais de entre 1,8 e 3,3 bilhões de euros para os refugiados e 7 bilhões de euros em 2019, de acordo com a agência EFE, que cita a publicação alemã.

Quase 4,3 mil pessoas chegaram desde o começo da semana à região da Baviera. As cidades de Frankfurt e Stuttgart receberam 200 refugiados na terça-feira, muitos vindos da síria e do Afeganistão. O governo alemão sinaliza que quer integrá-los ao mercado de trabalho o mais rápido possível mediante programas de estímulo

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