Seca

Moradores da zona rural de Timbiras sofrem com falta de água potável

Para encontrar água, timbirenses fazem verdadeiras viagens e, às vezes, são obrigados a cavar a terra com as mãos para construir um poço sem estrutura lateral e com tampa de palha, onde caem animais e sujeira

Anele de Paula / Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h56
Açude secou deixando dezenas de famílias sem água potável na zona rural de Timbiras
Açude secou deixando dezenas de famílias sem água potável na zona rural de Timbiras (Açude)

Timbiras - Quem reside na zona rural do município de Timbiras vive um dilema: a dificuldade para obter água. Alguns açudes já secaram e outros estão com baixa disponibilidade. Nos pontos onde o líquido raramente mina com facilidade, os moradores se veem obrigados a perfurar poços com as próprias mãos para tentar encontrar água suficiente para matar a sede, cozinhar e ter pelo menos um pouco de dignidade em sua rotina.

Os poços são feitos com estrutura simples. Geralmente cobertos de palha e, na maioria das vezes, sem nenhuma proteção lateral, o que deixa o lugar sujeito a problemas variados, incluindo a presença de animais peçonhentos.

Há ainda os animais domésticos que se aproveitam desses pequenos poços para tomar banho ou procurar alimentos. A moradora Maria Glória de Sousa deu uma noção de como as coisas acontecem.

"Na água que a gente acha, cai tudo. Porco, leitão, cachorro, galinha, sapo morto e cobra. Quando isso acontece, a gente tira a água do poço todinho e tira a lama de dentro. Em seguida, a luta recomeça para encontrar água limpa para poder beber e usar", explicou a moradora.

Sem chuva - A falta de chuvas no Leste Maranhense também obriga o lavrador, a partir de agora, a aprofundar o poço com maior frequência, uma atividade de risco. O lavrador Manoel da Silva disse que o perigo é grande para obter água.

"Fica seco. Aí, é preciso a gente descer para cavar, tirar a lama e cavar para a frente, que é para água nascer. Tem toda essa luta e a gente nem sabe se vai dar certo. Ainda corre o risco de se acidentar", destacou o lavrador.

Até janeiro do ano que vem, com o início do período chuvoso, tudo que dependa de água na zona rural de Timbiras fica mais limitado. A dona de casa Maria Alves dos Santos diz que lavar roupa, cozinhar e até tomar banho fica muito difícil nesta época do ano para o trabalhador rural.

"Só se banha uma vez por dia, porque a água fica longe. A gente fica com as costas doendo no fim do dia de tanto carregar balde e lata de água", reclamou a dona de casa, acrescentando que os mais novos são obrigados a ajudar os idosos.

Geovane Silva, 15 anos, precisa ajudar os pais e os avós carregando baldes com água todos os dias. "É complicado demais. Eles estão muito velhos e não têm mais força para puxar o balde de dentro do poço para encher os outros. A gente carrega água de manhã e de tarde", comentou.

A esperança dos moradores da zona rural de Timbiras de ter poço artesiano continua. Em Socó, por exemplo, Maria Domingas dos Santos Silva chorou ao falar de décadas de sofrimento. "Eu gostaria de ter água em casa, porque é muito difícil ter água longe. Sonho com o dia em que terei água encanada. Será que nunca vou ter água em casa?", perguntou.

Prefeitura - O secretário de Agricultura de Timbiras, Francisco Almir Oliveira, informou que o Município recebeu do Governo Federal 12 poços artesianos, mas eles só podem ser perfurados em povoados que tenham, no mínimo, 40 famílias.

A região de Socó não tem povoados que atendam a essa exigência. Segundo Almir Oliveira, apenas os povoados Alegria e São José se enquadram no critério de número mínimo de famílias residentes.

A solução, ainda de acordo com o secretário, já está em prática. Técnicos da Prefeitura de Timbiras já estão fazendo um levantamento do número de casas rurais existentes com cobertura de telha, para que seja pedido ao Governo Federal igual número de cisternas que colham água da chuva.

“Eu sonho com o dia em que terei água encanada. Será que nunca vou ter água em casa?”

Maria Domingas dos Santos Silva

Moradora do povoado Socó, na zona rural de Timbiras

“A gente fica com as costas doendo no fim do dia de tanto carregar balde e lata de água”

Maria Alves dos Santos

Moradora da zona rural de Timbiras

Falta de acesso à água limpa é o futuro do planeta

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a falta de acesso à água limpa atinge mais de 1 bilhão de pessoas. A organização alerta que esse número pode dobrar até 2025, quando dois terços da população mundial poderá sofrer com problemas ligados à escassez de água limpa.

Atualmente, 2,6 bilhões de pessoas – metade da população dos países em desenvolvimento - vivem em locais sem condições básicas de saneamento. Para cada criança que morre, incontáveis outras sofrem de problemas de saúde, produtividade reduzida e perda de oportunidades de educação, conforme alerta da OMS.

“A melhoria da administração ambiental pode tornar mais difícil a sobrevivência e reprodução de transmissores de doenças, como mosquitos”, consta do alerta. A OMS alerta, também, que as mudanças climáticas podem piorar ainda mais a situação, ao aumentar os períodos de seca, alterar os padrões de chuva e derreter parte das geleiras do planeta.

“No hemisfério norte, a quantidade de chuva está aumentando, enquanto no sul os períodos de seca estão ficando mais longos”, diz a OMS. Conflitos relacionados à água podem surgir em áreas atingidas entre a comunidade local e também entre países, porque dividir um recurso essencial e limitado é extremamente difícil.

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