Em meados do século XIX, e apesar de ter alguns dos principais intelectuais do país, o Maranhão ainda não tinha uma escola secundária pública. Assim, em meio a fortes crises políticas e sociais, em 24 de julho de 1838, nascia o Liceu Maranhense, primeiro colégio público secundário do estado. Prestes a completar 177 anos de história, ainda hoje a instituição de ensino é considerada um símbolo de referência e contribuição para a educação maranhense.
César Augusto Marques disse, no seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão (2008), "o Maranhão antecipou-se a muitas das demais partes do Império na organização de curso secundário, que se reduzia então ao preparo de candidatos para o curso de Direito". O Liceu Maranhense foi o segundo colégio secundário público do Brasil, sendo criado apenas um ano após o Liceu do Rio de Janeiro - o antigo Colégio Pedro II, que foi reformulado para as novas funções no ano de 1837.
O Liceu Maranhense provinha do Seminário Diocesano de Santo Antônio, fundado em 1838, por influência de D. Marcos Antonio de Souza. Nesse mesmo ano, o então presidente da província do Maranhão, Vicente Thomaz de Figueiredo Carvalho, por meio da Lei n° 77, promulgada no dia 24 de julho de 1838, que estabelecia a criação de 13 cadeiras (disciplinas) a serem ministradas na instituição de ensino, instituía a criação de uma congregação formada pelos professores das disciplinas criadas responsáveis por organizar os estatutos necessários ao método de ensino, além de dar instruções sobre dias de aulas e férias.
Início das aulas - O colégio iniciou suas atividades no ano seguinte, 1839, em ambientes do Convento do Carmo, na atual Praça João Lisboa. "Antes de se adaptar para ele parte dos baixos do Convento do Carmo, o novo estabelecimento entrou a funcionar, dando os lentes nomeados, aulas para os primeiros alunos inscritos a título provisório", registra o Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão. As aulas estavam marcadas para serem iniciadas dia 15 de fevereiro de 1839, no entanto, o prazo não foi cumprindo, não sendo precisado, até hoje, a data da inauguração de fato.
Em 1845, o Liceu Maranhense contava com 70 alunos matriculados, número que subiu para 238 em 10 anos, em 1855. Ao longo do restante do século XIX a escola passou por diversas reformas em seu currículo e em 1906 mudou de sede. Naquele ano, passou a funcionar em um sobrado na Rua Formosa (Afonso Pena), 174, esquina com a Rua Direita (Henrique Leal). Esse foi o endereço do Liceu até 1941, quando passou a funcionar no imóvel onde está até hoje. "Para que pudesse receber a escola, o prédio passou por uma reestruturação e ampliação, ganhando outro pavimento e adaptações para a nova função", descreve o Guia de Arquitetura e Paisagem de São Luís e Alcântara (2008).
A reforma foi necessária porque o Liceu passou a ocupar as antigas dependências do 24º Batalhão de Caçadores (atual 24º Batalhão de Infantaria Leve). A instituição militar funcionava, desde 1870, no centro de São Luís, no chamado Campo do Ourique, que abrangia as terras entre as ruas de Santaninha e dos Veados. Um trecho dessa área hoje é ocupado pela Praça Deodoro. Foi durante a reforma feita em 1941 que o prédio adquiriu as feições arquitetônicas atuais, influenciadas pelo estilo neocolonial.
Após a reforma, o edifício passou a ser chamado de Palácio da Educação, funcionando ali o Liceu Maranhense e o Instituto de Educação (Escola Normal), que funcionou até 1985, no período noturno. Em 1942, o Liceu Maranhense passou a chamar-se Colégio Estadual do Maranhão, voltando à denominação antiga pouco tempo depois. "Pelo Liceu Maranhense passaram grandes nomes da cultura e política local, chegando durante os tempos áureos a representar o que melhor havia na educação dentro e fora do estado", afirma o Guia de Arquitetura e Paisagem de São Luís e Alcântara (2008).
Curiosidades
Primeiro diretor
O primeiro diretor do Liceu Maranhense foi Francisco Sotero dos Reis. Professor, filólogo, prosador, crítico e jornalista, foi nomeado pelo Governo Provincial em 1838 para elaborar os Estatutos da Casa.
Primeira manifestação
Em 1911, um incidente entre alunos e o secretário do estabelecimento tomou vulto imprevisto. Os estudantes promoveram manifestação hostil a Antônio Francisco Leal Lobo, notável intelectual da época e professor do Liceu Maranhense. A revolta ocorreu porque ele insistiu, na Congregação, pela punição de um aluno que o desacatou. Por causa disso, o governador mandou fechar o Liceu Maranhense, para depois o reorganizar dentro de normas elaboradas por uma comissão da qual o próprio Antônio Lobo fazia parte. O colégio foi reaberto meses depois.
Significado de liceu
A palavra liceu vem do grego lykeion e refere-se ao local onde Aristóteles ministrava suas aulas. A palavra significava "matador de lobos". Aristóteles, por não concordar com o ensino sofista e platônico difundido na época, fundou sua própria escola, em meados do século IV a.C., sendo este nome dedicado ao Templo de Apolo, devido à proximidade da escola. Ao longo da história da Grécia antiga, liceu foi o nome dado aos ginásios que preparavam os cidadãos para a vida com uma formação completa, abrangendo exercícios físicos e intelectuais. Durante o Império Romano, lycaeu ganhou o sentido de "escola onde os jovens podiam dominar alguns ofícios".
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