Hotel Central, um marco para a hotelaria em São Luís

Hospedaria já funcionava em 1908 e foi reconstruída como hotel de luxo no início da década de 1940.

Jock Dean Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 13h03
Douglas Júnior
Douglas Júnior (T)

Quem anda pelas ruas do centro de São Luís dificilmente consegue imaginar aquela região da capital maranhense sem seus casarões, palácios, palacetes e outros prédios que compõem a paisagem urbana da cidade. Essas edificações são personagens silenciosos, sempre testemunhando a história ludovicense, desde os tempos da fundação, quatro séculos atrás. Hoje, O Estado conta algumas das histórias vividas por trás das paredes do antigo Hotel Central.

O Hotel Central é um marco do desenvolvimento do setor hoteleiro no Maranhão. Situado entre as praças Pedro II e Benedito Leite e a Rua de Nazaré, no Centro Histórico de São Luís, ocupando parte das dependências do Palácio do Comércio - edifício de propriedade da Associação Comercial do Maranhão (ACM) -, onde funcionou até meados dos anos 1990, o cenário de ruínas de hoje nem de longe lembra os tempos de glória e glamour vividos nos salões, bar e restaurante do hotel nos anos 1950, 1960 e 1970.

Para muitos, a história do hotel confunde-se com a do Palácio do Comércio, mas a hospedaria é bem mais antiga. O fotógrafo Gaudêncio Cunha, em sua publicação Maranhão 1908, um álbum com mais de 150 fotografias de São Luís e do interior maranhense, encomendado pelo então governador Benedito Leite para a divulgação do estado na Exposição Nacional de 1908 no Rio de Janeiro, registrou, o casarão colonial de três pavimentos no mesmo local onde hoje fica o Palácio do Comércio em cuja fachada podia-se ler no letreiro o seguinte nome: Hotel Central. A fotografia, publicada em 1980, é um dos poucos registros do hotel nessa época.

Hotel modelo - Registros mais confiáveis sobre a história do hotel são encontrados no quarto volume da História do Comércio do Maranhão, de Mário Meireles, publicado em 1992 pela ACM (a obra continua a homônima, de Jerônimo de Viveiros, em três volumes). Conforme o registro feito pelo autor "foi baixado o Decreto-Lei nº 330, de 23/12/1939, pelo qual o Governo se obrigava a construir o Palácio do Comércio, com instalações para um hotel modelo e de um museu permanente dos produtos do Estado, no valor máximo de dois mil e cem contos de réis (art. 1º), o qual, construído, seria entregue à Associação Comercial a fim de que ali instale a sua sede e o museu (art. 4º) e até o dia 15 dos meses subseqüentes o que recebesse das locações do prédio e da exploração do hotel (art. 5º)".

A construção foi iniciada 1º de maio de 1941, quando foi feito o lançamento da pedra fundamental. Para isso, o antigo casarão colonial em que funcionava o Hotel Central foi comprado e demolido para que fosse erguido um prédio imponente para a nova sede da ACM. Durante as negociações para a construção do palácio, o governo exigiu que ficasse à sua permanente disposição, no hotel, um apartamento para os hóspedes oficiais do estado.

Sofisticação - O Palácio do Comércio foi inaugurado em 4 de maio de 1943, abrigando à época as instalações do Hotel Central e da ACM. Edificação sofisticada para o seu tempo, levando-se em consideração o que havia de moderno no estado, o prédio tinha a finalidade de desenvolver os serviços de hospedagem e hotelaria em São Luís, "de forma a suprir uma carência sentida até mesmo pelo presidente Getúlio Vargas, em 1934, em visita ao estado", segundo explica o Guia de Arquitetura e Paisagem de São Luís e Alcântara (2008).

O novo hotel tinha equipamentos e ambientes, como restaurante e salão nobre na cobertura, e primava pelo conforto dos hóspedes, que faziam parte de uma clientela bem diversificada, indo desde autoridades a artistas internacionais. Implantado em um canto de quadra com acesso pela Praça Benedito Leite e compondo a paisagem da Praça Pedro II, o prédio de características Art Déco apresenta planta complexa, com três escadarias para circulação vertical, em pontos diferentes do imóvel.

Alguns de seus ambientes sofreram algumas alterações com reformas e adaptações a outros usos, mas ainda é possível notar sua construção original nos últimos pavimentos, apesar do estado elevado de deterioração. O térreo tem hoje lojas diversificadas, ocupando ambientes da fachada, além do hall da recepção da ACM e de um auditório, com mobiliário de época.

Esses registros apontam a magnitude dos elementos inovadores presentes nas características físicas do novo Hotel Central, impulsionando assim um novo cenário para a rede hoteleira no estado do Maranhão, um verdadeiro marco, abrindo caminho para o crescimento da hotelaria no estado, principalmente nas décadas de 1960 e 1970.

Saiba Mais

Na fachada do Palácio do Comércio, onde funcionou o Hotel Central, é possível ver um mural de autoria de Antônio Almeida, artista regional, natural de Barra do Corda, localizada a 462 quilômetros de São Luís. Ele foi um dos grandes responsáveis pela introdução da modernidade nas artes plásticas maranhenses, criando logomarcas e esculturas que podem ser encontradas em vários logradouros públicos de São Luís. Além do mural da fachada do Palácio do Comércio, são dele os murais da antiga sede da Assembleia Legislativa, na Rua do Egito, onde também fica a antiga sede do Banco do Estado do Maranhão (BEM), em cuja parede lateral à Praça João Lisboa é possível ver outro mural de sua autoria, e do Parque do Bom Menino, executados na segunda metade dos anos 1960.

(Continua em Cidades 2)

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