Outro dia falei dos imigrantes, hoje vou falar de um turista que veio de longe e deixou um recado bastante interessante. Existe coisa que está ao nosso lado e não conseguimos ver por excesso de luz ou por estar na escuridão. Este meu amigo turista, que pela segunda vez visita São Luís, deixou-me atônito por uma pergunta banal para ele, mas de significância capital para a nossa cidade: "Onde está o marco zero de São Luís?". Não soube lhe responder, porquanto não sabia se existia, ou onde estaria localizado. O marco zero, para quem não sabe, é o nome que se dá ao local presumível de fundação de uma cidade.
Para encontrar alguma pista, apresentei, na primeira oportunidade, ao turista incidental o livro "1612" - por que não dizer thesaurus? -, recém-lançado pela minha confreira Ana Luiza Ferro, que trata, de forma detalhada, da versão francesa da fundação de São Luís. Na página 259 dessa obra, encontramos escrito que o Palácio dos Leões, sede do Poder Executivo, tem seus "alicerces mais profundos" exatamente no "Forte de São Luís, erigido em 1612 por La Ravardière e Rasilly", consoante comunicação do ilustre historiador maranhense Mário Meireles. Depois de encontrar essa informação, o meu visitante curitibano emitiu um som gutural denotando expressar muitas coisas.
Em seu discurso, fez-me ver que a maioria das cidades importantes do mundo tem o seu marco zero, como representação material - quase um carimbo - da sua fundação, ou mais que isso: certidão histórica do início da sua existência sobre a face da Terra. A cidade que não o possui está dissociada de um princípio, portanto não tem origem nem paternidade. Mudamente, disse-me que São Luís é uma cidade importante, mas precisa ser assumida como tal pelo seu povo e identificada oficialmente pelo selo representativo da sua fundação, senão permanecerá órfã ad infinitum.
A explanação do meu amigo viajante levou-me imediatamente ao marco zero de Paris, situado em frente à Catedral de Notre-Dame, a qual, por uma necessidade de todo turista curioso, tive a oportunidade de fotografar, quando por ali passei em uma das minhas viagens ao continente europeu. Ali estava o marco simbólico, magnífico e edificante, demonstrando que o homem daquele tempo exerceu a sua capacidade de erigir uma vila, sonhando, quem sabe, que no futuro poderia ser uma das cidades mais importantes e influentes do mundo. Depois me lembrei do imenso marco zero de Lisboa, construído aos pés do Monumento aos Descobrimentos, nas imediações do Mosteiro dos Jerônimos.
No Brasil, quase todas as capitais têm seu marco zero. Em Porto Alegre, a Fonte Talavera de La Reina, presente da colônia espanhola, revestida de azulejos espanhóis, encontra-se instalada em frente ao prédio da Prefeitura desde 1935, representando o marco zero da cidade. Em Curitiba, o marco zero está na Praça Tiradentes, nas cercanias da Catedral. Em São Paulo, fica na Praça da Igreja da Sé. Em Recife, no Nordeste, localiza-se na famosa Praça Rio Branco. Os brasileiros que vivem nessas cidades sabem que é necessário dar uma certidão de nascimento para nossas capitais, outorgando a elas dignidade e respeito para aqueles que as visitam.
Mas veio-me à cabeça outra questão: será que São Luís tem sido administrada, nestes anos todos, dessa forma porque não tem paternidade? Será que os gestores pensam ser esta uma terra de ninguém? Se isso é um fato, acredito, podemos remediá-lo imediatamente. Façamos um pacto social com todos os poderes e lancemos, no solo do sítio onde foi levantada por Rasilly a cruz, o marco zero da sua fundação, para mostrar a nossa filiação e respeito com a terra colonizada dos tupinambás e com as suas tradições. Dessa forma, tiraremos a ilha de Upaon-Açu definitivamente da orfandade, fazendo com que ela se sinta uma urbe importante, digna - cheia de Luz -, parte da grande teia de vilas que rodeiam a Terra, onde habitam homens de boa vontade.
Não discuto nem discutirei a verdade histórica sobre a fundação de São Luís. Mas só peço aos que estão em conflito sobre este fato que me respondam a seguinte pergunta: por que o nome da cidade é São Luís?
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