Vinhais Velho, aldeia que recebeu povos franceses no Maranhão

Antes da fundação de São Luís, em 1612, franceses e indígenas já mantinham relações comerciais.

Jock Dean Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 13h03
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Divulgação (T)

Quase meio século antes de fundarem oficialmente São Luís, os franceses já mantinham uma parceria comercial com uma aldeia indígena existente na Ilha de Upaon-Açu, nome pelo qual os indígenas chamavam a Ilha de São Luís, a aldeia de Eussauap. Foi nesta aldeia, em 1614, após a expulsão dos franceses, que os portugueses estabeleceram a primeira missão jesuítica da nova cidade. Já na segunda metade do século XVIII a aldeia, àquela época chamada de aldeia da Doutrina, foi elevada à categoria de vila, recebendo o nome de Vinhaes, hoje o bairro Vinhais Velho.

Conforme documentou o padre capuchinho Claude d'Abbeville no livro História da missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas (1614), o marco oficial de fundação de São Luís ocorreu com a implantação de uma cruz na data consagrada à Santíssima e Imaculada Virgem Maria, 8 de setembro, em uma solenidade precedida por uma missa e uma procissão que reuniu franceses e índios, no ano de 1612, no local onde hoje fica o Forte São Luís.

A história colonial do Maranhão e, sobretudo São Luís, começa quando Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, obteve autorização da rainha Maria de Médicis, da França, para realizar uma expedição pelo Norte do Brasil, para fundar a França Equinocial. Mas desde as primeiras décadas dos anos 1500, ano da descoberta do Brasil, há registros da presença europeia em terras maranhenses. Data de 1524 as primeiras explorações dos navegadores de Dieppe no Maranhão.

Ainda na segunda metade do século XVI, os franceses estabeleceram uma bem-sucedida parceria comercial com os índios tupinambás, que residiam no atual território ludovicense. Aos índios cabia a retirada de madeira, especiarias e outros artigos que eram comercializados pelos franceses. "Passados 48 anos da parceria comercial entre franceses e tupinambás no Maranhão, que rendeu muito dinheiro, Daniel de La Touche sugeriu à rainha Maria de Médicis uma expedição ao norte do Brasil, cujos custos seriam arcados por ele", explicou Kátia Bogéa, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Maranhão.

Aldeia de Eussauap - Em 19 de março de 1612, saiu do Porto de Cancale, na Bretanha, a missão que fundaria oficialmente São Luís. Ainda de acordo com os relatos de Claude d'Abbeville, foram encontradas aqui 27 aldeias indígenas, entre elas a de Eussauap, que, segundo o missionário, era a mais notável depois da aldeia de Juniparã - maior e principal aldeia da Ilha Grande. O local foi o décimo quarto visitado pela comitiva francesa durante a expedição de reconhecimento do novo território, também segundo d'Abbeville.

Com a expulsão dos franceses em 1614, durante a Batalha de Guaxenduba e a retomada do território pelos portugueses, a aldeia passou a ser chamada de Uguaçoaba e os jesuítas que vieram para o Maranhão na armada de Alexandre Moura estabeleceram ali a primeira missão jesuítica no estado, passando a chamar o local de Aldeia da Doutrina, por ser destinada a servir de modelo às que fossem criadas posteriormente, conforme consta na História da Companhia de Jesus na Ectincta Província do Maranhão e Pará (1860), do padre José de Moraes.

Vila do Vinhaes - A partir daí, a aldeia teve outros donos. Dos jesuítas, passou para Senado da Câmara, que repassou aos frades franciscanos. Durante o governo do ministro português Marquês de Pombal, as aldeias que tinham missões foram elevadas à categoria de vila ou lugar. Com isso, em 1757, a aldeia da Doutrina passou a chamar-se Vila do Vinhaes - nome que perdura até hoje, mas com a denominação Vila do Vinhais Velho, já que a partir desta surgiram os nomes dos bairros que surgiram no seu entorno durante o processo de expansão urbana de São Luís.

César Augusto Marques, em seu Dicionário histórico-geográfico da província do Maranhão (1970), a dita Vila do Vinhaes compreendia terras que possuem os seus moradores desde o tempo em que foi constituída doutrina dos padres de Santo Antônio como também a capela de São Marcos, a olaria, que foi dos padres da Companhia de Jesus e vários sítios de fazendas e moradores, como a do Cônego Manuel da Graça, do padre José Pimenta, de José de Sousa Rapôso, de Manuel Jorge, de Manuel Rodrigues e de Domingos Fernandes.

Os limites territoriais da Vila do Vinhaes estavam assim determinados: começava no Porto do Angelim, acima da foz do Rio Anil, seguia daí pelo lado direito até as terras de Agostinho da Paz, prosseguindo até a Estrada que vai do Porto do Angelim à Fazenda Anindiba, de fundo com as terras de José de Araújo, seguindo ao sul à capela de São Marcos, retornando desta ao Porto do Angelim.

Museu da Memória Arqueológica do Vinhais Velho

A história do povoamento do Vinhais Velho, desde as ocupações indígenas até a chegada do colonizador europeu, pode ser visitada na exposição Vinhais Velho: arqueologia, história e memória. A mostra é permanente no Museu da Memória Arqueológica do Vinhais Velho, localizado no largo da Igreja de São João Batista do Vinhais, no bairro. Os primeiros povos indígenas que ocuparam a região chegaram lá 2.600 anos atrás e sua presença foi descoberta por acaso, quando da construção da Via Expressa, que passa pela localidade. No Sítio Arqueológico do Vinhais Velho foram descobertos 13 mil objetos. O local pode ser visitado das 14h às 18h, de segunda-feira a sexta-feira, gratuitamente.

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