Conhecido como o bairro mais festeiro de São Luís, a Madre Deus tem uma história que está muito além da Folia de Momo. De comunidade de pescadores ao principal centro cultural de São Luís, o bairro já abrigou um importante parque fabril a partir da última década do século XIX, é o endereço da unidade de saúde mais antiga do Maranhão e em 1970 deixou de ser banhada pelo Rio Bacanga, em cujas margens a população tinha uma praia movimentada, para abrir caminho para o Anjo da Guarda. Os 302 anos de existência e enorme influência cultural acabaram levando a população da cidade a chamar de Madre Deus as diversas outras comunidades do centro de São Luís.
A Madre Deus surgiu de sítio de roça no lugar denominado de Ponta de Santo Amaro ou Sítio da Madre Deus, como ficou conhecido. Nessa localidade o Capitão-Mor Manuel da Silva Serrão construiu uma ermida para abrigar a imagem de Nossa Senhora da Madre Deus, Aurora da Vida, em 1713, tendo início a ocupação do futuro bairro, inicialmente batizado de Madre de Deus.
Morador do bairro há 64 anos, desde seu nascimento, o jornalista e escritor Herbert de Jesus Santos conhece bem a história de seu bairro. "O bairro foi formado por classes sociais humildes, pescadores, estivadores, maquinistas, descendentes de escravos, os operários das fábricas. Minha mãe foi trabalhar na fábrica. Houve uma época em que as mulheres tiveram de trabalhar nas fábricas, apesar de todo o machismo dos pescadores", conta.
A primeira fábrica construída no bairro foi a Companhia de Fiação e Tecidos Cânhamo, localizada no fim da Rua da Madre Deus, às margens do Rio Bacanga, implantada em 1891. Sua implantação provocou a ocupação de terrenos vazios próximos a ela, nas proximidades do Cemitério do Gavião, fazendo surgir os bairros operários do entorno da vila de pescadores que era a Madre Deus. E em 1894, foi inaugurada a Companhia de Fiação e Tecelagem de São Luís.
Com a disponibilidade de terrenos ociosos nas proximidades das fábricas, foram surgindo, no bairro Madre Deus, casas simples visando à moradia dos operários, uma forma de garantir a constante presença da força de trabalho e provocando seu crescimento urbano. Com isso, surgiram bairros como Codozinho, Lira, Belira, Goiabal, que, a exemplo de bairros mais antigos, como São Pantaleão e Fonte do Bispo, acabam sendo confundidos com a Madre Deus. "Isso é muito interessante, porque a Madre Deus acabou ficando mais bem situada e influenciando os bairros do entorno", disse Herbert de Jesus Santos.
Um desses bairros satélites da Madre Deus é o Goiabal, bairro de palafitas cujo incêndio ocorrido em 1968 deixou 85 famílias desabrigadas, que foram removidas para o Anjo da Guarda. "Acompanhei de perto o Goiabal incendiado. O incêndio foi no porto do Boi de Ouro, cujo dono era um morador que vendia paus e palhas para a construção de casas, bem como as condições precárias dos que foram transferidos", informa Herbert de Jesus Santos.
Ele viu ainda sua casa perder lugar para a Barragem do Bacanga, que, por consequência, acabou com a Praia da Madre Deus e a comunidade ribeirinha da Tabatinga, que margeava o Rio Bacanga. "A primeira capela de São Pedro ficava às margens da praia. Tinha um iate que transportava o andor com a imagem do santo, na procissão marítima no dia 29 de junho, e muitos barcos dos antigos pescadores", relembra.
Pontos de destaque da Madre Deus
Fábrica São Luís
Construída no ano de 1893, às margens do Rio Bacanga, foi inaugurada no ano seguinte e surgiu da necessidade de inserção do Estado na modernização da produção. Originalmente era a Companhia de Fiação e Tecelagem de São Luís. A fábrica parou sua produção em 1964, tendo seus portões definitivamente fechados em 1966. Hoje o prédio é propriedade da Prefeitura de São Luís, que desenvolve alguns projetos culturais em parte das instalações.
Centro de Comercialização de Produtos Artesanais do Maranhão (Ceprama)
Originalmente Companhia de Fiação e Tecidos Cânhamo, foi construída em 1891 e inaugurada em 1893 tendo como objetivo a obtenção de juta (fibra vegetal) para obtenção de fibras têxteis. Assim como as demais fábricas do complexo fabril maranhense, decretou falência no começo da década de 1970. Foi adquirido pelo estado e em 20 de setembro 1989 foi inaugurado o Centro de Comercialização de Produtos Artesanais do Maranhão. Em 1998, foi feita uma restauração que implantou no terreno de fundo uma concha acústica onde ocorrem diversos eventos folclóricos.
Praça da Saudade
Antes chamada de Praça do Gavião, pois fica em frente ao cemitério do Gavião, servia como área para cortejo fúnebre e enfeites de enterros. Atualmente é asfaltada (antes era em paralelepípedos) e foi reformada em 1998 para servir também como palco para as manifestações folclóricas diversas do bairro.
Capela de São Pedro
A primeira capela foi construída em 1948, fruto dos esforços dos pescadores pelo festejo de São Pedro, era coberta de palha e era localizada na atual Rua de São Pantaleão. Em 1949, ela foi substituída por uma maior de alvenaria de frente para a baía e que foi destruída para a construção da Barragem do Bacanga. A atual forma só foi entregue em 13 de dezembro de 2001, após outras construções menos relevantes.
Largo do Caroçudo
Era a rua principal da época de vila operária do bairro Madre Deus no principal período têxtil de São Luís. Havia inclusive um portão no começo da rua para separar as moradias das pessoas ligadas as indústrias e os arredores. Hoje, é um dos principais pontos de manifestações artistico-culturais do bairro e passou por uma reforma em 1997 para revitalização junto com a Praça da Saudade.
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