Carlos Alberto da Costa Nunes

Jomar Moraes

Atualizada em 11/10/2022 às 13h27

Hoje é dia de...

Nome dos mais respeitados nos meios eruditos nacionais, porém praticamente desconhecido em sua cidade natal, exceto em restrito círculo de intelectuais. E assim, por estas compreensíveis razões principais, embora, pensando bem, não sejam razões tão compreensíveis, exceto se levarmos em conta a amnésia generalizada que torna figuras de importância fundamental quase anônimas em sua própria terra.

Expoentes da cultura nacional do porte de Gonçalves Dias, João Francisco Lisboa e Manuel Odorico Mendes, aqui não passam, entre muitos, de ilustres desconhecidos. Daí, nesse contexto mediocrizante, é compreensível, repete-se o generalizado desconhecimento do ludovicense Carlos Alberto Nunes, que alcançou grande nomeada nos meios eruditos brasileiros.

Desde moço ausentou-se de São Luís para fazer seus estudos superiores. Poucas vezes e geralmente por curtos períodos retornou à terra-berço. Dotado de admirável simplicidade, era avesso a fatos que representassem promoção pessoal. Este médico de formação e de exercício profissional foi poeta e dramaturgo segundo os moldes clássicos. Porém a atividade cultural em que mais se destacou, pela grande competência com que a exerceu, foi a tradução, campo que o coloca em primeiro plano entre os que exerceram ou exercem esse mister cultural no Brasil.

Em 1918 doutorou-se em Medicina pela Universidade da Bahia, oportunidade em que defendeu a tese intitulada "O materialismo e a ciência moderna".

Carlos Alberto Nunes radicou-se em São Paulo, de cujo Serviço de Médico Legal era médico legista. Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e, na Academia Paulista de Letras, foi titular, desde 1956, da Cadeira nº 5, patroneada por Eduardo Prado. Era membro correspondente da Academia Maranhense de Letras, Cadeira nº 3, cujo patrono é Antônio Marques Rodrigues.

Autor dos dramas "Moema" (1950), "Estácio" (1971), da comédia "Adamastor" e do poema épico"Os Brasileidas"(epopeia nacional em nove cantos e um epílogo; precedida de um erudito ensaio sobre Poesia Épica, pelo Autor. São Paulo: ElvinoPocai - Editor, 1938; 2ª. Ed., São Paulo: Melhoramentos, 1962).

Um claro indício dos laços afetivos do poeta com o Maranhão é o drama "Beckman", publicado pela Academia Paulista de Letras.

Carlos Alberto Nunes traduziu o Teatro completo de Shakespeare, publicado pelas Edições Melhoramentos, selo editorial sob que saíram "Ilíada e Odisseia" de Homero, "Eneida"de Virgílio,"Judith" de Hebel, e "Clavigo"e "Stela","Os Nibelungos e Ifigênia", de Goethe e das"Cartas e Diálogos" de Platão, editados primorosamente pela Universidade Federal do Pará.

Seu falecido sobrinho, o também erudito professor Benedito Nunes, filósofo e ensaísta que me distinguiu com sua amizade, coordenou para a mesma Universidade Federal do Pará a terceira edição revisada da obras de Platão (Diálogos e Cartas), e escreveu o que se segue a respeito,na contracapa do volume inaugural da obra: A República ou sobre a Justiça, gênero político:

"Uma leitura atual de A República deverá restituir ainda, do ponto em que nos detemos, desconstruindo o que antes se construiu - o comum arcabouço metafísico da pólis e da doutrina platônica - , a força dramática irredutível dos problemas entrelaçados da poesia, do conhecimento e do poder, que, à margem das soluções morais e políticas encontradas pelo diálogo, são, aquém e para além de seu plano filosófico, os verdadeiros agentes do drama do pensamento e da cultura que ele representa.

A República continua sendo a primeira cena desse drama inconcluso que nos concerne."

Já as traduções de Shakespeare, depois de editadas e reeditadas pela Melhoramentos, reapareceram ultimamente em três primorosos volumes sob o selo editorial da AGIR: Rio de Janeiro, 2008, assim distribuídos: Dramas históricos, Comédias e Tragédias.

Filho de José Tito da Costa Nunes e de Cândida Moura da Costa Nunes, Carlos Alberto Nunes era casado com a professora Filomena Nunes, sua colaboradora nas traduções de grego.

Nasceu em São Luís, a 18 de janeiro de 1897 e faleceu em Sorocaba a 9 de outubro de 1990.

Fonte de Referência: Menezes, Raimundo de. Dicionário literário brasileiro. 2ª ed. aumentada e atualizada. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1978.

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