A mulher por trás do mito, na peça Ana do Maranhão

Peça será apresentada hoje, em duas sessões, no Teatro Arthur Azevedo, resgata a vida de Ana Jansen.

Raíza Carvalho Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 13h35

Reunindo aspectos históricos e mitológicos sobre a vida de uma das mulheres mais importantes da história ludovicense, o Abluir Produções Artísticas estreará com o espetáculo Ana do Maranhão hoje, em sessões às 15h e 20h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro). A peça é uma adaptação do texto escrito pela dramaturga maranhense Lenita Estrela de Sá em 1980 e leva aos palcos, pela primeira vez, a história de Ana Jansen, na visão da autora. O espetáculo foi contemplado com o edital São Luís em Cena, uma homenagem aos 400 anos de São Luís, promovida pela Secretaria de Estado da Cultura.

Ana Joaquina Jansen Pereira, apelidada de Donana, cognominada "A Rainha do Maranhão", foi uma mulher que marcou a história econômica, social e política do Maranhão em pleno século XIX. Tornou-se uma grande líder e ativista política de renome nacional quando a participação da mulher era proibida em tais assuntos. Ela ficou conhecida especialmente pelos maus-tratos aos escravos e tornou-se uma lenda na história do Maranhão e do Brasil. O espetáculo Ana do Maranhão desconstrói este mito e apresentará aos conterrâneos a efusiva vida política de Ana Jansen e um passeio por sua vida pessoal.

A diretora do grupo Abluir e do espetáculo, Cássia Pires, conta que foram realizadas pesquisas e discussões para que a adaptação da peça fosse concebida. "Além do livro de Lenita de Sá, nós lemos o da pesquisadora Rita Ribeiro, fizemos pesquisas bibliográficas e lemos artigos na internet. Convidamos o professor doutor Henrique Borralho (Uema), cuja dissertação de mestrado e tese de doutorado tem capítulos especiais sobre a Ana Jansen, para discutir a peça no projeto Papoético, evento que aconteceu no Chico Discos, relembra.

Para a escritora Lenita Estrela de Sá, "Donana" era uma mulher à frente de seu tempo no sentido de conquistar um espaço social dominado por homens. "Ela, entretanto, não abre mão do universo feminino, por exemplo, nos cuidados com a casa e com a família e os sofrimentos e alegrias amorosas que também experimentou", pontua ela.

De acordo com Cássia Pires, quando se fala de Ana Jansen, a história sobre a grande malvada senhora dos escravos e assombrações é o que impera na cabeça da maioria das pessoas. "Vamos buscando o outro lado dela, uma personagem feminina e muito forte politicamente e por isso talvez incomodasse tanto. Muitas histórias são invenções dos homens da época, para reduzir esse pedestal sobre qual Ana Jansen se encontrava. O texto mostra que os inimigos inventavam histórias sobre ela para amedrontar as pessoas, publicavam essas histórias nos jornais", explica Pires. Para a escritora Lenita de Sá, Ana Jansen era vista como uma "mula sem cabeça", algo extravagante que as pessoas da época não conseguiam entender e temiam. "Alguns historiadores acreditam que o mito que ela se tornou ao longo dos anos seja uma espécie de castigo à mulher que se apresentava como diferente", acrescenta Sá.

Intimidade - Objetivando explorar a vida pessoal de Ana Jansen, Sá criou alguns personagens originais em seu texto, como Dona Lindalva, uma vizinha fofoqueira; Romena, uma mucama por quem Jansen tinha uma grande amizade; as amigas de Donana e Afonso, um namorado que alimentou durante toda a vida um amor correspondido por Ana. Como base histórica e princípio de inspiração para a criação do texto, Sá aponta o livro A Rainha do Maranhão, de Jerônimo de Viveiros.

A montagem tem no elenco os atores Charles Melo, Leandro Lago, Luciano Teixeira, Marlon Aspin, Raimundo Reis, Roberto Froes e a própria Cássia Pires, que interpretará a protagonista. O espetáculo marcará o retorno de Pires ao palco, de onde ela estava afastada há seis anos. "Não era minha intenção interpretá-la, mas a atriz convidada não pôde e o grupo insistiu para que eu assumisse o lugar. É um desafio na minha carreira, não tem sido fácil dirigir e atuar, mas é bastante prazeroso", conta ela. O espetáculo é codirigido por Raimundo Reis, ator do grupo.

Ana do Maranhão tem músicas originais de Raimundo Reis e direção musical de Roberto Froes. O figurino é assinado por Leandro Lago, Raimundo Reis e Cássia Pires, também responsável pelo cenário da peça. A escritora Lenita Estrela de Sá salienta ainda que o espetáculo nunca havia sido montado por questões financeiras e pela grandiosidade da obra. "Nessa adaptação da Cássia, cada ator interpretará cerca de cinco personagens", afirma.

O espetáculo será apresentado também em outubro, nos dias 13 e 14, às 20h e 19h, respectivamente, no Teatro Alcione Nazaré e, no dia 30, pela mostra Sesc Guajajara, às 20h, no mesmo local.

Curiosidades

- Lenita Estrela de Sá escreveu Ana do Maranhão aos 19 anos, em 1980. O livro foi lançado pela Universidade Federal do Maranhão e recebeu o prêmio Arthur Azevedo, realizado pelo Departamento de Assuntos Culturais da UFMA. No ano seguinte, a escritora recebeu o Prêmio Brasília de Teatro, um título de reconhecimento nacional. "Foi um trabalho precoce", reconhece Sá.

- O primeiro livro da escritora, Catarina Mina¸ foi escrito aos 16 anos, mas nunca foi publicado. A primeira obra de Sá que foi veiculada chamava-se Reflexo, um livro de poesia cujo texto de apresentação é do escritor maranhense Josué Montello.

- O Abluir Produções Artísticas pretende continuar as pesquisas sobre as figuras femininas fortes no Maranhão. A próxima figura que será abordada será a Catarina Mina.

Serviço

• O quê

Espetáculo Ana do Maranhão, da Abluir Produções Artísticas

• Quando

Hoje, às 15h (somente para escolas agendadas)

e 20h, aberto ao público

• Onde

No Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro)

• Ingressos

Entrada franca com retirada de convites uma hora antes, na bilheteria do teatro

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