Viúva Negra: o incrível caso que desafia a Justiça

Procurada pela Interpol, Heloísa Borba Gonçalves é acusada de falsidade ideológica, bigamia e assassinato de três maridos

<b>Flávia Salme</b> <i>Do site do iG, Rio de Janeiro</i>

Atualizada em 11/10/2022 às 13h57
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Rio - Procurada pela Interpol, a advogada Heloísa Borba Gonçalves, a Viúva Negra, de 61 anos, é protagonista de uma intrincada trajetória onde há mortes, estelionatos, poligamia e dinheiro. Muito dinheiro. Oficialmente, ela só é acusada, e será julgada daqui a dois meses, em um dos vários casos em que teve o nome envolvido. Mas a lista de suspeitas que envolvem a viúva não é pequena. "O primeiro marido foi assassinado e ela herdou bens; o segundo foi assassinado e ela herdou bens; o terceiro morreu e ela herdou bens. É coincidência demais para ser só coincidência", diz Paulo Ramalho, advogado que entrou recentemente no caso como assistente de acusação do MP.

Após a morte de seus companheiros, Heloísa teria herdado pelo menos sete apartamentos em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro; três no Leblon (um deles na praia, de frente para o mar); duas casas no Jardim Botânico; três lojas e um apartamento na Barra da Tijuca (zona oeste). Estima-se que os bens herdados por ela cheguem ao valor de R$ 20 milhões.

Porém, as suspeitas contra ela só começaram a dar frutos após a morte de seu terceiro marido, o tenente-coronel Jorge Ribeiro. O Ministério Público do Rio de Janeiro tenta driblar a defesa de Heloísa e convencer 12 jurados de que ela matou o militar do Exército e ainda era bígama.

Acusação - Segundo a polícia, o tenente-coronel foi torturado e atingido por diversos golpes na cabeça enquanto estava imobilizado com as mãos amarradas para trás, no dia 19 de fevereiro de 1992. O motivo seria sua herança. O julgamento está marcado para o dia 25 julho.

Para o Ministério Público, a Viúva Negra - apelido que recebeu dos investigadores em alusão a um tipo de aranha que mata o macho após a cópula - teria contratado uma terceira pessoa, ainda não identificada, para matar o marido.

A promotora Patrícia Glioche sustenta que ela não só teria planejado o crime como também auxiliado e facilitado a fuga do assassino.

O militar foi encontrado na sala comercial que mantinha em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, deitado no chão com a barriga para baixo, a boca amordaçada e o rosto envolto por uma corda de nylon. As diversas marretadas lhe provocaram traumatismo craniano.

Falsidade - Heloísa ainda responde por falsidade ideológica (nove acusações) e bigamia. Na época do crime, estaria casada com três homens: o tenente-coronel Jorge Ribeiro, o comerciante Nicolau Saad e o policial militar Roberto de Souza Lopes. De acordo com o MP, a Viúva Negra aproveitava a falta de comunicação entre cartórios para selar os matrimônios. Também usava diversas identidades para burlar a lei.

O casamento com o PM teria sido realizado em 1985, num cartório em Copacabana. Pouco tempo depois, segundo mostram as investigações, ela teria conhecido Nicolau, de quem se tornou advogada, e, posteriormente, Jorge, a quem teria sido apresentada por uma amiga.

Documentos anexados ao processo mostram que o casamento com Jorge teria sido realizado em junho de 1989, na cobertura em que ele morava na Rua Rainha Guilhermina, no Leblon (zona sul), por um oficial de registro civil de um cartório na Freguesia, em Jacarepaguá (zona oeste).

Ela teria apresentado documento de identidade como Heloísa Gonçalves Duque Soares, sobrenome que recebeu após casar com seu primeiro marido, em 1983, Irineu Duque Soares. Ele morreu assassinado cinco meses depois do casamento, num caso que a polícia considerou latrocínio.

Com Saad, Heloísa teria se casado em maio de 1990. A documentação foi certificada por um oficial de registro de um cartório no Centro do Rio, que teria recebido de Heloísa documentos que ela usava quando ainda era solteira e carregava o sobrenome dos pais: Borba Gonçalves.

Mais

O juiz Fábio Uchôa, titular do 1º Tribunal do Júri, já deixou claro, em decisões anexadas ao processo, que aceita a tese do MP, que alega que a Reforma Processual permite que julgamentos sejam feitos à revelia, ou seja, sem a presença do réu. A defesa de Heloísa levou a discussão para o Superior Tribunal de Justiça, que ainda não se manifestou. Enquanto isso, o júri está marcado.

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