João Brasil lança "365 mashupes" projeto virtual com colagem de músicas

Artista mistura batidão do funk carioca com o som do maestro Antônio Carlos Jobim.

Atualizada em 11/10/2022 às 14h12

RIO - Já na primeira faixa, entram juntos o piano de Tom Jobim tocando "Garota de Ipanema" e o batidão do funk carioca - seguidos dos versos de "Mulher do chefe" ("Deixa ela passar/ Não olha, nem mexe/ Sabe quem tá passando?/ É a mulher do chefe") na voz do MC Max. Em poucos segundos, percebe-se que a melodia do funk ganha riqueza inesperada sobre a harmonia de Jobim; que o tamborzão ressalta o caráter negro da bossa nova; que o discurso da Zona Sul mítica dos anos 60 e o da favela/subúrbio contemporâneos perante a passagem de uma mulher bonita revelam afinidades e diferenças; e que aquilo é bonito e dançante.

É assim, arrebatador, que "Garota do chefe" ("Garota de Ipanema" + "Mulher do chefe") abre o álbum virtual "Tom Jobim loves baile funk", lançado na semana passada pelo anarcotropical João Brasil em seu projeto "365 mashups" - que se propõe a fazer um mashup (colagem de músicas) por dia ao longo de 2010.

- No final de 2009, estava pensando em lançar um disco só de mashups em 2010 - conta Brasil, por e-mail, de Londres, onde está morando. - Estava confuso, com um monte de ideias. Minha mulher, brincando, sugeriu fazer um mashup por dia. Isso foi três dias antes do ano-novo. Levei a brincadeira a sério.

Chegando ao fim de maio, Brasil mantém o compromisso. Hoje, demora cerca de uma hora e meia em cada mashup - depois, posta em seu blog (365mashups.wordpress.com) e divulga via Twitter e Facebook.

Ao longo da série, alguns mashups vem sendo reunidos em álbuns, nos moldes do que aproxima Jobim e funk:

- Este é o segundo com baile funk na íntegra (o outro é "Let it baile", que se baseava no disco "Let it be", dos Beatles). Já fiz com a Banda Calypso junto com ícones cool pop, carnaval com pop global, Jay-Z com música brasileira... A ideia do Jobim nasceu por ele ser meu compositor favorito de todos os tempos. Tive que misturá-lo ao funk carioca, é uma forma de levar o Jobim para um outro público e vice-versa. Como as progressões harmônicas do funk são muito simples ou quase nulas, eu fiz o Jobim harmonizar os batidões e os MCs - explica, antes de completar sua reflexão: - Depois que o Tom colocou o piano na Mangueira, ele abriu a porta para todo mundo experimentar também. Coloquei a MPC (bateria eletrônica usada por DJs de funk) em Ipanema. Haha!

Com formação musical acadêmica (ele estudou na escola de música de Berklee, em Boston, nos Estados Unidos), João Brasil se lançou artisticamente com uma persona caricata, de roupão de oncinha, cantando hits engraçadinhos como "Baranga" — seu repertório dessa fase está no CD "8 hits", o único lançado fisicamente. Depois, se lançou nos mashups, sempre procurando aproximar sons ditos cool de outros supostamente cafonas:

- O que me move é a alegria da pista de dança, fazer com que as pessoas dancem com seus maiores preconceitos. A democratização do som é o que mais me encanta, não vejo barreiras na música. Não acredito em "alta" e "baixa" cultura. Tento derrubar as paredes imaginárias.

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