Padre Brandt de Arari: clérigo, educador e escritor desconhecido

Nascido em colinas, sarcedote compõe, ao lado de João Mohana e Hélio Maranhão, a tríade dos padres escritores maranhenses

Atualizada em 11/10/2022 às 14h15
(T)

Dinacy Mendonça Corrêa

Especial para o Alternativo

Natural de Colinas-MA. (22.11.1917), de ascendência germânico/afro/brasileira, Clodomir Brandt e Silva, sacerdote, educador e professor; jornalista, escritor; pesquisador, historiador, político e orador vibrante, foi o quinto dos nove irmãos filhos do casal Carolina Brandt (descendente de alemães) e Sebastião Gonçalves Silva (mulato, natural de Pastos Bons, oriundo de uma família ruralista).

Os estudos básicos iniciou-os em Colinas, completando-os em Caxias, no Instituto Gonçalves Dias, sob a égide do tio alemão, Cláudio Brandt, responsável pela educação do sobrinho e que, protestante de origem, encaminhou-o para o Sacerdócio Católico, enviando-o, aos 15 anos, para o Seminário Santo Antonio (Praça Antônio Lobo, São Luís-Ma.). Assim, em 1º. de janeiro de 1943, foi ordenado Sacerdote, na Catedral Metropolitana, pelo Exmo. Revdo. Sr. Arcebispo Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota. No dia seguinte (02 de janeiro), celebrou a Primeira Missa, na Igreja de Santo Antonio. Em 13 de junho de 1943 – após um ano de trabalhos como substituto e/ou auxiliar e das muitas desobrigas pelo interior Estado, chegou a Colinas, sua terra natal, quando e onde, enfim, celebrou/cantou a Missa Nova. Por todo o resto desse ano em curso, continuou em desobrigas e visitas pastorais, pelas dioceses maranhenses e, designado para Cururupu, não chegou a cumprir esse destino.

Em 1944, foi nomeado pároco de Arari, ali chegando, por via marítima e fluvial, às 12 horas do dia 8 de janeiro de 1944, na lancha Estrela da Aurora. No dia seguinte (09 de janeiro de 1944), tomou posse da sua paróquia. E foram 54 anos de militância e dedicação exclusiva àquele município, sediado por aquela cidadezinha à margem direita do Mearim – onde soube, "como verdadeiro apóstolo da fé, dar os exemplos fortes onde era preciso, cumpriu muito bem a missão evangelizadora que lhe foi confiada. Influenciou gerações no caminho cristão, dando-lhes rumo e direção de vida" (Dep. Estadual Fufuca Dantas. Projeto de Decreto Legislativo – Justificativa. In: Diário da Assembleia, terça-feira, 09 de setembro de 2008, p. 05).

Em Arari, além do ministério sacerdotal, da difusão do Evangelho de Cristo, na construção e expansão do Reino Deus, abraçou, como ideal sublime, a EDUCAÇÃO. Em 15 de fevereiro de 1944, fundou o Instituto Nossa Senhora das Graças, colégio vespertino para meninos. Em 10 de junho de 1945, a Associação da Doutrina Cristã (ADC) – com quatro Secretariados: Catequese e Evangelização; Assistência e Promoção Humana; Educação; Cultura. Em 1947, fundou o Instituto Bom Jesus dos Aflitos, colégio matutino, para meninas. Em 1964, o Ginásio Arariense (noturno, misto). Em 1965, o pré-escolar Jardim de Infância Menino Jesus. Em 1969, criou a Escola Normal de Arari. E tudo "à custa de muito sacrifício, com recursos próprios, tirando do seu próprio sustento, para manter vivo tudo aquilo que amava. Foi um mestre infatigável, um educador sem rival e pioneiro da terra de Arari. Todo o seu trabalho, realizado e vivido com intensidade, foi baseado no lema por ele criado: VIM PARA SERVIR" (Id. ibid.).

No bojo da ADC, o colégio ampliou-se e surgiram: a Biblioteca Justina Fernandes (com seu considerável e respeitável acervo); os Serviços de Alto Falante Voz de Arari (com sua impagável discoteca de vinil); o Cine Paroquial; a Cooperativa Agro-Pecuária de Arari; a Escola de Artes Gráficas Belarmino de Matos (única no Estado); o Boletim Paroquial, suplantado pelo Jornal Notícias; a Livraria da ADC, o Ambulatório/Laboratório Nossa Senhora dos Remédios; o Teatro Experimental de Arari (TEA – estimulador da arte teatral); a Editora Notícias; Confecções Primavera (ateliê/escola de corte e costura); a Escola de Carpintaria Santa Cecília; o Centro Social Santa Terezinha; o Campo de Esportes Ribeira do Mearim; a Escola de Música... Marcenarias, quadras esportivas e tantas outras significativas obras socioculturais.

Sobre o educador exímio, diz o escritor arariense João Francisco Batalha (da Academia Moçônica de Letras e da Academia Arariense-Vitoriense de Letras) em O Passageiro da Aurora (São Luís: Sergraf, 2005, p. 44): "Padre Brandt, como gostava de ser chamado, criou e dirigiu grupos folclóricos, times de futebol, peças teatrais, festas culturais, semanas de cultura, ministrou aulas de oratória, de canto, de boas maneiras, ética e bons costumes, preceitos de higiene, civismo e cidadania, cursos de formação de líderes comunitários, cursos de catequese e noções de jornalismo, incentivando o paroquiano ao trabalho de artesanato e objetos de decoração, além de lecionar: Português, Francês, História, Geografia e Educação Moral e Cívica nos colégios que administrava. Como promotor da educação, orientava o educando para o exercício de uma vida dignificante. Turrão, impunha, também, métodos autoritários em prejuízo da liberdade de expressão sem, contudo, perder o mérito de educador e intelectual. Seus alunos eram obrigados a comparecer aos atos religiosos das festas de Nossa Senhora da Graça e de Bom Jesus dos Aflitos, rigorosamente uniformizados, porém eram proibidos de permanecerem no Largo da Igreja, antes e depois do exercício das atividades religiosas, sob pena de suspensão das atividades escolares. Aos que se aventurassem a frequentar os atos religiosos noturnos, como rezas e festas de largo, poderiam receber punição maior".

Sobre o homem Clodomir Brandt e Silva, padre, educador e político, diz o também escritor arariense José Fernandes (do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e da Academia Arariense–Vitoriense de Letras) em Crônica Arariense (Fundação Cultural de Arari,1987, p. 23-24): "[...] ... sua presença polarizadora, desencadeante de atos e fatos de tanta ressonância na esfera social, modificando, inclusive, padrões comportamentais, merece uma análise apurada, digna da pena do jornalista Erasmo Dias, que prometeu retratá-lo e morreu sem cumprir a promessa. [...] Figura central de acontecimentos que mudaram rotinas nas últimas décadas, não se pode contar a história de Arari [...] sem que se tenha de fazer constante referência ao nome do Côn. Brandt, tal foi o seu envolvimento na vida da comuna".

Mais

• O escritor

Como escritor, Pe. Brandt iniciou-se pelo jornalismo, passando deste para o ensaio, com os "Escritos Sem Ordem" (em seis séries de cunho teológico, por vezes memorialista, ou teórico-literário), incursionando pela pesquisa histórica, com os levantamentos sobre as Famílias Ararienses, transitando destes para os "Assuntos Ararienses I e II" e daí para a prosa de ficção, com os romances: "Folha Miúda, minha dor", "Os Caminhos de Silvânia", "Arnaldo", "Luzia dos Olhos dos Verdes", revelando-se, também, na dramaturgia, com a peça teatral A Semente que cresceu entre Espinhos – sempre em "temática social, caráter regional, conotação doutrinária" (José Fernandes. Pe. Brandt e sua obra redentora. In: O Estado do Maranhão, 26.04.1998). É considerado, na Baixada Maranhense, "o maior escritor vivido em terra meariense, pela quantidade de obras que publicou em território arariense" (João Francisco Batalha, op. cit. p.16). Toda a produção bibliográfica do Pe, Brandt, vale ressaltar, produzida, a bem dizer, artesanalmente, pela Editora Notícias, de Arari, encontra-se à venda no Memorial Pe. Brandt, na cidade de Arari.

• O romancista

Da sua ficção literária, condensada nos quatro romances supra referidos, pode-se dizer, em seus aspectos paisagísticos, cenográficos, linguísticos e estilísticos, transparece o modo de ser, de dizer e de viver característico da Baixada Maranhense. A propósito, a opinião abalizada das ararienses Tonica Pereira, Domingas, Rosário, Creuzinha e Emiliana Rosa (ex-alunas e ex-professoras do Colégio Arariense, zeladoras do espólio memorial e cultural deixado pelo biografado), em entrevista coletiva no Memorial Pe. Brandt (17.10.2009): "são todas obras inspiradas nas experiências de vida do Padre, em sua intensa atividade evangélico/catequética e pastoral, suas desobrigas pelos muitos povoados desta região, sua grande empatia para com os seus paroquianos, para com o povo humilde e sofredor destes confins. Principalmente Folha Miúda – que põe em cena, como já escreveu Zé Fernandes, na Crônica Arariense (p. 23), as injustiças sociais impostas aos camponeses, expulsos do meio rural por força do latifúndio opressor.

• O pesquisador/ensaista

Da sua obra ensaística, de teor histórico/genealógico, fala o escritor/historiador/Promotor de Justiça, o vitoriense Washington Cantanhede (da Academia Arariense-Vitoriense de Letras) em Uma lacuna (In: Correio dos Municípios – http://www.correiodosmunicípios.com.br/Página442.htm, 1º. De março de 2001, p. 02), nestes termos: "No final do século XX, vieram a lume importantes obras sobre famílias maranhenses. [...]. Todavia, a mais importante [...] foi a série Famílias Ararienses, escrita pelo Pe. Clodomir Brandt e Silva [...], nos anos 1980-1990 [...], com preciosas informações genealógicas e históricas, no contexto do baixo Mearim [...]". Já o magistrado e escritor vianense Lourival Serejo (das Academias Maranhense e Vianense de Letras) observa que, no trabalho historiográfico do Pe. Brandt, "[...] se revela a capacidade do pesquisador, com afirmações seguras e refutações a historiadores como César Marques e Jerônimo de Viveiros" (Pe. Clodomir Brandt e Silva. In: Jornal Pequeno, 26.03.2000). Pe. Brandt despediu-se deste plano terreno, em 22 de abril de 1988. Como ainda diz Batalha, (op. cit. p. 202): "Partiu para o mundo da luz eterna, abrindo uma lacuna que dificilmente será preenchida, ao deixar vivas lembranças na memória de todos os ararienses de sua época".

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