EUA - A Apollo 11 foi a primeira missão tripulada a pousar na Lua, e o seu comandante - o astronauta Neil Armstrong - o primeiro ser humano a pisar o solo lunar. A frase dita por ele, ao pisar a Lua em 20 de julho de 1969, tornou-se uma das frases épicas do século XX: "Este é um pequeno passo para o Homem, mas um salto gigantesco para a Humanidade." Amanhã o feito histórico completa 40 anos.
Neil Armstrong, Edwin "Buzz" Aldrin e Michael Collins, os tripulantes da nave Columbia e integrantes da missão Apollo 11, tiveram um lançamento perfeito da Terra, uma jornada longa e calma para a Lua e uma rotineira ignição dos motores para colocá-los em órbita lunar. O seu destino era um local chamado Mar da Tranqüilidade, uma grande área plana, formada de lava basáltica solidificada, na linha equatorial da face brilhante do satélite.
Após a separação dos módulos da Apollo, enquanto Michael Collins ficava no Módulo de Comando Columbia, numa órbita 100 quilômetros acima do satélite, Armstrong e Aldrin começaram a sua descida ao Mar da Tranqüilidade a bordo do Módulo Lunar Eagle. Não havia assentos no ML. Armstrong e Aldrin voavam em pé, firmes nos lugares por cordas elásticas presas no chão. Durante o mergulho, eles olharam pelas janelas e cronometraram a passagem dos marcos das paisagens abaixo deles, através de uma escala marcada na janela de Armstrong, para confirmar o rastreamento de dados que o controle da missão no Centro Espacial de Houston estava a receber. Com a ajuda de Houston, eles também testaram e retestaram a saúde do Módulo.
Eagle - Como dizia Eugene Cernan - um ex-piloto da marinha americana que virou astronauta e comandou a última das missões a pousar na Lua, a Apollo 17 -, pousar o Módulo Lunar era mais fácil que pousar um jato num porta-aviões durante a noite. Uma das muitas vantagens era o fato de que o Eagle estava equipado com o que era, na época, um sofisticado computador de bordo, que fez a maior parte do trabalho de rotina do vôo de descida da nave espacial. Exceto nos momentos finais da aproximação do solo, voar na trajetória correta era apenas uma questão de analisar os dados de navegação dos sistemas de radar e de inércia e então ir delicadamente ajustando o impulso e a ação dos motores do Módulo Lunar. Era uma tarefa de trabalho intensivo e bem ajustado ao controle do computador.
Várias vezes durante a descida, porém, o computador soou alarmes. A trajetória da nave parecia boa, mas a mensagem de alerta "1202" trouxe alguns segundos tensos à tripulação até que Houston avisasse, que, ao que parecia, partes da memória do computador estavam a ser sobrecarregadas com estranhos dados do radar de aproximação, mas, felizmente, não apenas o computador havia sido programado de modo que continuasse a conduzir tarefas de alta prioridade como também a pessoa que melhor conhecia o computador - o homem que o criou, o engenheiro de sistemas Steve Bales - precisou de apenas alguns segundos para diagnosticar o problema e recomendar que o pouso continuasse. Mais tarde, Bales ficaria de pé ao lado da tripulação numa cerimônia na Casa Branca e foi condecorado pela sua especial contribuição para o sucesso da missão.
Visão - Os seguidos alarmes e as quedas nas comunicações entre o Eagle e Houston eram irritantes, mas em todos os outros aspectos o computador do ML e o sistema de navegação tiveram um desempenho brilhante. Oito minutos e trinta segundos após a ignição do motor de descida, o computador colocou o Módulo quase ereto e Armstrong teve a sua primeira visão em close-up do lugar para onde estava a ser levado pelo computador. Ele estava cerca de 1.600 m acima e 6.000 m a leste da área de pouso. Como planejado, ele tinha combustível para mais 5 minutos de vôo. Cada astronauta tinha uma janela pequena, triangular e de vidraça dupla à sua frente.
Em princípio, se Armstrong não gostasse do ponto escolhido pelo computador, poderia movimentar o "joy-stick" manual de controle para frente, para trás ou para qualquer lado, além de orientar o computador para mover um pouco o alvo na direção indicada. De acordo com o plano, Aldrin dava a Armstrong o ângulo de descida de poucos em poucos segundos, porém a arte de direção computorizada ao tempo da Apollo 11 não era tão refinada como seria nas próximas missões e a fatalidade e o computador estavam colocando o Eagle dentro de um campo de rochas, a nordeste de uma cratera do tamanho de um campo de futebol.
Não havia problemas para Armstrong em pousar num campo de rochas. Não era essencial que o ML pousasse perfeitamente ereto. Uma inclinação de mais de quinze graus não causaria nenhum problema em particular para o lançamento de volta à órbita após a missão. Entretanto, se ele batesse o sino do motor ou uma das patas do trem de aterragem numa rocha grande, haveria uma hipótese real do Módulo Lunar sofrer um dano estrutural. Ele decidiu então seguir a velha máxima de pilotos: "Em caso de dúvida, pouse longe". Para fazer isso ele teria que sobrevoar a cratera e pousar a oeste dela. E não havia maneira - nem tempo - de dar ao computador uma atualização de informações suficiente via controle manual. Então, a uma altitude de cerca de 150 metros do solo, Neil Armstrong assumiu completamente o controle manual da nave para a descida final, apontou o ML para frente, começou a voar como um helicóptero e levou o Eagle para 400 metros a oeste, sobre crateras e rochas.
Pouso - Um drama era a última coisa que alguém queria para o primeiro pouso na Lua. O evento em si já era monumental e excitante o bastante. Finalmente, Neil Armstrong achou um local que gostava, começou a cortar a sua velocidade frontal e deixou o Módulo Lunar descer suavemente para a superfície. Quando eles baixaram para 25 m, Houston avisou que eles tinham 60 segundos de combustível restante e na cabine "Buzz" Aldrin viu uma luz de aviso que dizia a mesma coisa. Mas agora eles estavam muito próximos e era apenas uma questão de pousarem suavemente. Armstrong tinha cortado quase toda a velocidade frontal do Eagle e agora que eles começaram a levantar poeira com o exaustor do motor, ele pediu a Aldrin para confirmar se eles ainda se estavam movendo um pouco para frente. Ele queria pousar numa superfície que pudesse ver à frente, em vez do solo que não podia ver atrás. Aldrin deu a confirmação que ele queria e oito segundos depois eles viram a luz de contacto. As sondas de 10 pés de comprimento que pendiam do trem de pouso haviam tocado a Lua. Um segundo ou dois depois, eles estavam pousados e desligaram o motor. Só tinham mais 20 segundos de combustível, mas estavam pousados.
Então Armstrong falou no rádio a frase imortal: "Houston, Tranquility Base here. The Eagle has landed". ("Houston, aqui Base da Tranqüilidade. A Águia pousou"). A mais de 300 mil quilômetros dali, o mundo, que acompanhava ao vivo as comunicações de rádio entre o Controle de Vôo em Houston e a Apolo 11, entrava em comoção e aplaudia e gritava.
Nasa quer usar Lua como "ponte"
para Marte, mas orçamento atrapalha
Fora da Lua desde 1972, os Estados Unidos têm planos de voltar à Lua até 2020, em um passo para ir a um lugar mais distante: Marte. Entretanto, esse plano tem sido colocado em dúvida devido aos problemas de orçamento da agência.
Depois do acidente com o Columbia em 2003, o então presidente George W. Bush (2001-2009) decidiu interromper temporariamente a operação dos ônibus espaciais e delinear um plano mais ambicioso para a exploração espacial. O programa Constellation, encarregado dessa missão, tem o objetivo de levar os norte-americanos de volta à Lua, como forma de transformar o satélite em uma espécie de plataforma de lançamento para viagens a Marte.
Sem renunciar firmemente a esses objetivos, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, nomeou uma comissão de especialistas para uma revisão do programa de missões espaciais tripuladas - o grupo deve fazer recomendações até agosto.
Os ônibus espaciais, como
Atlantis e Discovery, que transportam astronautas no espaço desde 1981, foram concebidos como veículos reutilizáveis para transporte de equipamentos pesados para a órbita da Terra, especialmente para a construção da ISS (Estação Espacial Internacional, em inglês).
Mas, depois que dois acidentes que mataram 14 astronautas,
esses veículos devem ser aposentados em 2010.
Empacado - Para Michael Griffin, ex-chefe da Nasa que selecionou o programa Constellation, os ônibus espaciais "prenderam" os Estados Unidos em missões em órbitas baixas por muito tempo, no momento em que potências emergentes como a China começam a ganhar força na área. "Eu acho que devemos voltar à Lua porque é o próximo passo. Fica apenas a alguns dias de casa", diz. "Marte fica a apenas a alguns meses da Terra."
Ao apresentar o programa para o Congresso do país em 2004, Griffin afirmou: "O único objetivo das missões espaciais humanas é a colonização do Sistema Solar, e até além dele."
Entretanto, o orçamento da agência não é suficiente para cobrir os custos de produção das naves Orion, integrante do programa Constellation, uma versão maior e mais moderna das naves Apollo, que levaram o homem à Lua, e também dos foguetes Ares 1 e Ares 5, que vão impulsionar o veículo.
A expectativa é que o programa custasse cerca de US$ 150 bilhões. Mas as estimativas apenas para a construção do Ares 1 cresceram de US$ 26 bilhões em 2006 para US$ 44 bilhões no ano passado.
Em maio, a proposta de orçamento para a Nasa feita pela Casa Branca previu o congelamento dos gastos da agência em 2011 e 2014 - eliminando bilhões de dólares de crescimento de investimento previstos em orçamentos anteriores.
E no começo de junho a Comissão de Orçamento da Câmara dos Estados Unidos cortou US$ 670 milhões do programa de exploração da Nasa, em que está incluso o programa Constellation - uma queda de 17% no orçamento de US$ 3,39 bilhões previsto anteriormente. Ao todo, a agência deve receber uma verba de US$ 6 bilhões neste ano.
Alteração - A falta de dinheiro e tempo já fez com que a Nasa
operasse mudanças no programa de exploração lunar. Antes o projeto era preparar dois tipos de naves Orion: uma com seis pessoas, para levar astronautas à ISS, e outro com quatro lugares, a ser utilizada em missões na Lua. Agora vai ficar só a de quatro lugares.
Com a medida, a Nasa espera diminuir o tempo e o dinheiro necessários para desenvolver, construir e certificar duas naves diferentes ao mesmo tempo.
Enquanto isso, um grupo de engenheiros - entre funcionários na ativa e aposentados-- tem trabalhado em um projeto paralelo chamado Jupiter Direct. A ideia é usar as naves Orion, mas substituir os foguetes Ares por novos modelos, baseados em tecnologias já existentes na atual frota de ônibus espaciais.
Pela proposta apresentada a Obama, eles afirmam que o programa custaria US$ 14 bilhões. "Com poucas exceções, nós temos a tecnologia ou o conhecimento necessário para irmos a Marte com humanos, se quiséssemos. Poderíamos colocar um telescópio na Lua se quiséssemos", afirma o chefe da comissão, Norman Augustine, ex-executivo-chefe da empresa, Lockheed Martin.
Céticos ainda tentam derrubar "farsa" da ida à Lua
Questionar a ida do homem à Lua é um tabu quase absoluto no meio científico. A mesma regra não vale, no entanto, para a internet e meios "leigos", que propagam teses sobre a viagem espacial mais famosa da História.
O principal eixo apresentado por quem desconfia da chegada do homem à Lua é político. A ideia do governo norte-americano, dizem os céticos, era distrair um público fatigado pelos sucessivos fracassos da Guerra do Vietnã (1959-1975), e principalmente devido à corrida armamentista e espacial durante os anos de Guerra Fria (1945-1991).
Outro ponto defendido com veemência é a suposta falta de condições tecnológicas para a realização da jornada.
É a partir desse conjunto de argumentos que o diretor de cinema e escritor Andre Mauro, 44, fundamentou seu livro "O Homem Não Pisou Na Lua". Mauro também mantém uma página sobre o assunto na internet, cujos acessos, segundo ele, ultrapassam 10 mil cliques mensais.
"As únicas evidências que eles apresentam são fotografias, transmissões de vídeo e de TV, pedras [da superfície lunar] e o testemunho dos astronautas. As transmissões de TV e vídeo
eram impossíveis de serem feitas naquela época. O equipamento era muito primitivo por vários fatores", afirma Mauro.
"A bateria para suportar todo o uso desse equipamento, por exemplo, porque tudo era a base de bateria. Desde transmissores, aparelhos de TV, quando eles falavam por telefone, o carrinho. Até hoje nós temos problemas de bateria. O celular, por exemplo, acaba a bateria", observa.
"Flash Gordon"- Segundo ele, naquela época, "a tecnologia estava bem mais atrasada. Qualquer tipo de energia alternativa, como a solar, não existia. [Para] fazer tudo aquilo que eles dizem que fizeram, não teriam bateria. Esse ponto é prova de que eles não foram. É um ponto quase inquestionável", assegura Mauro.
"Se você olha as fotos da Lua hoje, parece Flash Gordon [série televisiva dos anos 1950]. Uma nave embrulhada com papel laminado", satiriza.
Outros aspectos apontados se referem à transmissão ao vivo da chegada à Lua, que ele categoriza como "impossível". "Até hoje, na transmissão ao vivo do Maracanã, enviam uma imagem por satélite. Em 1969, não existiam satélites sofisticados, compressão de imagem, transmissão via micro-ondas. Não funcionaria, em termos técnicos."
De acordo com Mauro, a radiação é outro fator "fundamental" para a suposta farsa da Lua. Ele diz que não há como se proteger da radiação - nem o corpo humano, tampouco equipamentos. "Aquela roupinha de náilon refrigerada jamais suportaria". E dispara: "Desafio o Obama a se vestir com a roupa de plástico dos astronautas e entrar num micro-ondas, para ver se ele sai de lá vivo."
Ele menciona também os fatores mais conhecidos do público geral - como as sombras em angulações diferentes e assimétricas. "Não tem como justificar a quantidade de erros", afirma.
A extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) não denunciou o fato porque, segundo ele, havia interesses econômicos da indústria bélica. "Se era tão importante para a União Soviética, porque ela não foi depois?" Mauro alega que cientistas também desconfiam da situação. No entanto, caso admitam, "eles vão tirar nota zero na provinha".
"Bobagem" - O astrônomo Carlos Alberto Torres, do Laboratório Nacional de Astrofísica, ironiza esse tipo de tese: "Há 50 mil astrônomos no mundo. Esses 50 mil astrônomos foram enganados." "Quando a pessoa fala isso, ela ignora milhões de coisas, e passa a falar o que não entende. Por isso é irritante. Isso é bobagem da mais grossa", afirma.
Já o astrônomo fluminense Ronaldo Mourão explica que "a incidência [da radiação e da variação de temperatura na Lua] não influencia, porque é uma região com pouca variação de temperatura".
Ele refuta também a idéia de que a ex-URSS fosse conivente com a situação. "Havia dois foguetes e dois projetos [para ir à Lua]. Quando eles viram, em 1974, que não conseguiriam ir, desistiram." Mourão afirma que "foi um dos maiores feitos da civilização norte-americana, se ela desaparecer. Houve um grande avanço. Toda a tecnologia da comunicação digital, celulares e câmeras, provém disso."
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