BOTAR SAL NA MOLEIRA significa grande preocupação, experiência difícil de esquecer.

Atualizada em 13/10/2022 às 10h26

QUINQUILHARIAs

Por Carlos de Lima

SABER – NÃO SABER (ou NÃO ENXERGAR) PATACA = Não saber nada. A pataca era moeda corrente em Portugal e no Brasil. Aqui correspondia a 320 réis. Do árabe ba-taka. Fora de prata, depois de bronze. No Brasil de antigamente aludia-se à àrvore das patacas, isto é, ao dinheiro ganho facilmente, ou sem escrúpulo. Já Bluteau (Vocabulário), citado por João Ribeiro, (p. 76), di-lo derivar do hebraico pathach, (a letra A), de forma que não saber pataca significava não saber nem o A, opinião rejeitada pelo filólogo "por pressupor um provérbio hebreu que não existe." Para ele tudo teve origem na necessidade de um reforço do sentido negativo como o pas, no francês, de passus, no latim, e em português pada, (quantia mínima de alguma cousa, conforme o dicionário) e que veio dar em pataca. (Que cousa, heim?) (*) Um nosso Presidente confessa que não sabe pataca, não enxerga nada do que se faz ao seu redor, em seu governo! SABIDO – O que sabe muito. Sábio. E também, no popular, o esperto, velhaco, trapaceiro. SABEDORIA.

(*) Os dicionários registram hem: denota espanto; 'O quê?'; etc. Segundo Antenor Nascentes, de procedência latina ou criação do mesmo português. Nós preferimos escrever heim, que é como pronunciamos. O mesmo se dá com rio (que dizemos riio), frio (friio) etc., para espanto dos cariocas.

SABRECAR – SABRECADO – Cousa feita às pressas, sem cuidado. Mal assado. – O programa foi feito às carreiras; só podia sair sabrecado!

SABUJAR – Adular, bajular. – O marido dela é um sabujo, a pôr-se de rastros diante do governador para conseguir uma fatia mesmo ínfima do poder!

SACALÃO – Golpe violento e repentino. (Do verbo sacar).– O homem para forçar a passagem deu-me um sacalão que quase me arranca o braço! Certa vez, numa roda, falamos sacalão. Foi uma hilaridade só! Sacalão? Quá, quá, quá! O que é isso? Sacalão? Ora, todo menino que empinou papagaio sabe: um puxão dado à linha do papagaio para fazê-lo dar guinadas... mas hoje não se empina mais papagaio; toda a diversão está no computador e na internet... Temos pena dos meninos, desses meninos que perdem tantas cousas boas... papagaio, pião, borroca...

SACI – Também chamado Kilaíno, é, segundo Câmara Cascudo (Dicionário do Folclore Brasileiro - J-Z, Rio de Janeiro, Edições de Ouro, 1919) "duende dos Bacaeris, caraíbas de Mato Grosso, variante do Caipora, Currupira". Capistrano de Abreu descreve o Kilaíno: "ente maléfico, que mora no mato ou no morro, assume formas diferentes, alimenta-se de ratos e passarinhos, não passa água, esconde a caça morta e as setas atiradas, as coisas que cace, das mãos da gente; responde aos gritos de uma pessoa, e grita para transviar quem anda no mato." O Saci é, pois, um ente mitológico que toma várias formas conforme as regiões geográficas, e difundido por todo o país.

SACO – PUXAR SACO – Bajular, lisonjear. ENCHER O SACO – Aborrecer, importunar. Ver FARINHA DO MESMO SACO – DE SACO CHEIO – enfadado, enfastiado. NÃO TER SACO – não ter paciência, não agüentar. O SACO DE PAPAI NOEL - cornucópia de presentes, de boas notícias, de felicidades. SACO VAZIO NÃO SE PÕE DE PÉ refere-se à não existência de cabedais: comumente alusão ao financeiro, mas que se pode estender à inteligência, à cultura, aos dotes espirituais e de coração. – Ela casou com um sujeito que não tem onde cair morto: (Ver Morte) Ora, saco vazio não se põe em pé!

SAFADO – Gasto, desbotado; traquinas (menino); pessoa vil, sem-vergonha, que não inspira confiança; vida dissoluta: "Riobaldo: - De sorte que carece de se escolher: ou a gente se tece de viver no safado comum, ou cuida só de religião só." (Guimarães Rosa, p. 17)

SAIA VELHA – Sobra de carne, desfiada e mexida com ovos. (Martins, p. 119)

SAIBO – "Bom ou mau gosto; sabor" (Houaiss) -

SAIDEIRA – A última bebida para encerrar a farra. Ou a visita.

SAL – O sal de cozinha (Cloreto de Sódio), obtido pela evaporação da água do mar é elemento imprescindível na elaboração dos alimentos. Sendo usado em pequenas quantidades serve para a advertência: - Coma um paneiro de sal com ele! o que implica conviver por muito tempo com a pessoa que se deseja bem conhecer; tanto quanto o necessário para consumir todo um paneiro de sal! (Ver paneiro) BOTAR SAL NA MOLEIRA significa grande preocupação, experiência difícil de esquecer. Chama-se moleira o espaço membranoso no alto da cabeça, que só se fecha, solidificando-se, por volta dos 18 anos. Daí o cuidado com as crianças menores, ainda de moleira aberta. Acreditava-se que o sal com seu poder de conservar a carne poderia ser benéfico no caso. Era mesmo costume esfregar o recém-nascido com sal, o qual no batismo adquire a virtude da salvação. Desenganos amorosos levaram o poeta a dizer:

Eu não quero mais amar

Nem achando quem me queira;

O primeiro amor que tive

Botou-me sal na moleira.

SAL DERRAMADO à mesa é sinal de infelicidade. Da Vinci pôs, simbolicamente, o saleiro tombado no quadro da Última Ceia. Tiradentes teve o chão de sua casa arrasada e devidamente salgada para completar a maldição. Para se ver livre de visita desagradável é só jogar sal no fogo. Sal que se toma emprestado não se paga: dá briga. Ser sem sal. Não ter graça, ser "desbotado", simplório. (Zelinda Lima, 45) SALGADO – Ter preço alto. Uma história é salgada quando é picante, escandalosa, sujeita a maliciosas interpretações.

SALDA- O mesmo que saldada: paga, liquidada. "Pareceu-me que ficou assim de contas saldas." (Machado de Assis, Várias histórias, p. 160.)

SALIVA – A população do interior usa a saliva como remédio para muitas enfermidades.

Pra calo seco – é o remédio

(Exprimenta ao menos num).

Todo dia em cima dele

Passa teu cuspo em jejum.

(Morais Filho, p. 62)

SAMARÁ – Jogo de futebol entre o Sampaio Corrêa e o Maranhão Atlético Clube (Martins, p. 119).

SAMBACU – Escaldo, cangapé, (*) nos banhos de rio.

(*) Cangapé: pontapé dado dentro d'água, numa espécie de jogo.

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