Moab José de Araújo e Sousa
Quando criança, residi no Centro de São Luís, onde tinha duas vizinhas: dona Zezé e dona Ritinha. Muito amigas, o muro que separava suas casas não representava obstáculo a essa amizade. Subiam em bancos, tijolos amontoados e, debruçadas sobre o muro, batiam longos papos, horas a fio.
Até que um dia, por um motivo sem maior importância, as duas se desentenderam e cortaram relações. Aconselhadas por outras amigas a que dialogassem buscando o entendimento, diziam ser isso impossível - as duas se achavam donas da razão.
Não demorou muito, dona Zezé e dona Ritinha radicalizaram. Tanto fizeram que envolveram os maridos na pendenga e proibiram os filhos de se falarem. As crianças, que antes eram amigas inse-paráveis das brincadeiras comuns da idade, agora evitavam transitar na mesma calçada.
Não demorou muito e os vizinhos também passaram a tomar partido. De um lado, aqueles pró dona Zezé e, do outro, os favoráveis a dona Ritinha. E assim, pouco a pouco, a nossa rua foi mudando. O clima, antes de sossego e de tranqüilidade, cedeu lugar a um verdadeiro campo de batalha de imprevisíveis conseqüências. Já vai longe esse tempo. Eu ainda era um menino...
Hoje, me parece que o mundo é dominado por zezés e ritinhas. Os muros erguidos pelos interes-ses do mercado financeiro separam povos e nações, criando o abismo entre os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. A falta de diálogo e a intolerância desembocam em guerras sanguinolentas, em atos terroristas, numa violência jamais vista. Igualmente, assistimos ao antagonismo religioso, quando homens se trucidam em nome de seus deuses. O volume de informações fornecidas pela mídia nos bombardeia a todo o instante, criando um clima de pessimismo agourento. Os prognósticos se repetem em todos os lugares: "o mundo não tem jeito", "onde vamos parar", "é o fim dos tempos"...
Tanto a guerra quanto a paz têm seu nascedouro dentro de próprio homem. Faz-se necessário - em regime de urgência - construirmos pontes que conduzam ao entendimento e à paz duradoura, tendo como parâmetros o respeito às diferenças e o exercício da fraternidade. Impossível? Se unirmos as forças, não! Segundo o saudoso dom Hélder Câmara, "Quando sonhamos sozinhos é só um sonho; mas quando sonhamos juntos é o início de uma nova realidade".
Ghandi, Martin Luther King, Nelson Mandela e outros conquistaram, pela não-violência, o que muitos não conseguiram conquistar com seus exércitos. Joddy Willianas, Nobel da paz de 1997, propõe: "A paz já não é uma expressão da vontade dos poderosos, mas uma expressão da vontade coletiva de se viver em paz. Todos juntos somos uma superpotência".
O primeiro passo nessa jornada é de nossa responsabilidade. Para tanto, observemos o conselho de Ghandi: "Seja você a mudança que propõe ao mundo".
Diretor do Lar Pouso da Esperança
E-mail: moab@elo.com.br
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