Uma vida dedicada ao tambor

Antes de voltar-se apenas à paixão pelo tambor de crioula, Mestre Felipe foi carpinteiro, lavrador, oleiro, tirador de caranguejo e cortador de madeira

Atualizada em 13/10/2022 às 12h40

Felipe Neres Figueiredo nasceu no dia 6 de junho de 1924, no município maranhense de São Vicente Ferrer. Aos 3 anos de idade, como ele mesmo conta, "já brincava de bater tambor nas festas que seus pais e seus avós faziam". Aprendeu a tocar com o pai e os irmãos e não perdia uma festança de tambor em sua região. Ainda menino, com cerca de 12 anos, dominava os três tambores - grande, médio e crivador.

Mestre Felipe foi carpinteiro, lavrador, oleiro, tirador de caranguejo e trabalhou em corte de madeira para construção de casas. Hoje, aposentado, vive exclusivamente de sua paixão pelo tambor de crioula.

O tocador afirma não se lembrar a data e a idade com que chegou a São Luís. O certo é que por aqui firmou-se rapidamente nas rodas de tambor como exímio tocador e, em 1973, quando morava na Vila Passos, organizou uma turma de brincantes, denominada Tambor de Crioula União de São Benedito. Desde então, o grupo passou a ser destaque nas festas populares do Maranhão, apresentando-se durante o ano todo, seja em pagamentos de promessas, festejos de São Bendito, São João ou Carnaval.

Apesar da saúde debilitada, mantém, até hoje, o costume de menino de não perder uma festança sequer de tambor. "Toda festa que existe eu vou. Um tambor é muito bom. Para quem conhece, bem batido, bem cantado, bem dançado e organizado é bom e é bonito. Não existe coisa melhor. É no tambor que me sinto realizado", afirma.

HERANÇA

Mestre Felipe não teve a mesma sorte de seus pais. Seus oito filhos - um homem e sete mulheres - não se dedicaram à arte da família. Sua companheira de rodas de tambor é a esposa, Raimunda do Carmo Figueiredo, 79 anos, chamada carinhosamente de Mundica. Ela é a coreira número 1 do Tambor de Mestre Felipe. "Mundica é danada que nem eu. Ela pode estar doente, mas acompanha e dança tambor", diz.

Em 1978, Mestre Felipe realizou a primeira oficina de tambor de crioula de São Luís. O evento aconteceu no Laborarte. De lá para cá, já perdeu a conta do número de pessoas que ensinou a tocar. "Quem me levou para o Laborarte foram os olhos de Nelson Brito, que me viu tocando e gostou. Até hoje estou lá. Gosto muito de todos do Laborarte", frisa.

Após a união com o grupo, teve a oportunidade de participar de vários eventos na área da música, como o Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (Fitei), na Cidade do Porto, Portugal; o Temporadas Populares, em Brasília e Mato Grosso do Sul; e o Percpan, em Salvador.

Em 1996, Mestre Felipe, os integrantes de seu grupo e alguns de seus alunos gravaram, ao vivo, o primeiro registro fonográfico da manifestação. O CD Tambor de Crioula do Maranhão foi lançado em 1998. Em 2002, Felipe de Sibá, a convite da VCR, fez seu segundo registro em CD, com 11 composições de sua autoria, e o primeiro registro em vídeo, ao lado dos tambores de Seu Chico e de Mestre Leonardo.

DEVOÇÃO

Quem já viu Felipe tocando tambor impressiona-se com seu talento. Para quem dança, então, é inspiração certa. Que o diga Maria da Graça Mota, 50 anos, conhecida como Roxa, uma das coreiras mais antigas do tambor comandado por ele. "Felipe tem muito tocador bom, mas nenhum se iguala a ele no 'grande'. Quando ele toca, parece que fico hipnotizada e é aí que danço mesmo", diz Roxa.

Dona Teté, do cacuirá, também é coreira de Mestre Felipe há muitos anos. No São João, divide seu tempo entre as apresentações do cacuriá e do tambor. "Considero ele como um irmão, pois é uma pessoa muito boa, de quem gosto muito. Não vou deixar nunca de dançar no tambor dele", afirma. (I.R.)

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