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COLUNA
Marcos Silva
Marcos Silva é assistente social, historiador, geógrafo e sociólogo. É mestre em Desenvolvimento Socioespacial e Regional PPDSR pela UEMA.
Marcos Silva

Por que o Maranhão é um dos estados mais desiguais do Brasil?

Essa condição não é resultado do acaso nem apenas de administrações ruins em momentos pontuais.

Marcos Silva

O Maranhão está entre os estados brasileiros com os piores indicadores de desenvolvimento humano e desigualdade social. Essa condição não é resultado do acaso nem apenas de administrações ruins em momentos pontuais. Trata-se de um processo histórico e estrutural, marcado pela exclusão, concentração fundiária, ausência de políticas redistributivas e um modelo econômico dependente e excludente. Para enfrentá-lo, é fundamental compreender suas raízes, desdobramentos e as possibilidades concretas de superação.

A origem do problema reside na própria formação histórica do Maranhão, que foi profundamente impactada pelo modelo escravocrata e agroexportador implantado desde o período colonial. A estrutura fundiária concentrada — herança do latifúndio — moldou um padrão de desenvolvimento que é socialmente desigual e territorialmente excludente. A abolição da escravidão ocorreu sem reparações ou inclusão efetiva, deixando amplas camadas da população negra, pobre e rural à margem da economia. Até hoje, trabalhadores rurais, comunidades indígenas, quilombolas e grupos tradicionais enfrentam grandes obstáculos para acessar a terra, assistência técnica e crédito agrícola.

Essa herança desigual foi agravada por um modelo econômico que continua dependente de atividades primárias — como soja, eucalipto e mineração — que têm baixa agregação de valor, geram poucos empregos e causam forte impacto socioambiental. Projetos como os da ALUMAR, da Vale e do Porto do Itaqui operam em regime de enclave, com ganhos majoritariamente transferidos para fora do estado e poucos vínculos com a economia local. Embora sejam relevantes para a arrecadação estadual, esses empreendimentos não têm conseguido promover um desenvolvimento regional sustentável e socialmente justo.

O ex-governador Flávio Dino, ciente desses desafios estruturais, iniciou um processo de reconstrução das bases democráticas do Estado, enfrentando com responsabilidade a precariedade dos serviços públicos e promovendo importantes avanços nas áreas de educação, saúde, infraestrutura e segurança alimentar. Seu governo também proporcionou espaço para o surgimento de novas forças políticas progressistas e instituiu com os recursos do empréstimo do BNDES contratados pela ex-governadora Roseana Sarney importantes programas Escola Digna, Mais IDH e Água Para Todos e Mais Saneamento no Maranhão, além da ampliação da rede de saúde pública e os Restaurantes Populares. Entretanto, Dino enfrentou um contexto nacional extremamente adverso: os governos federais entre 2016 e 2022 adotaram uma postura de negligência e preconceito em relação ao Nordeste, especialmente ao Maranhão, impondo cortes orçamentários e sabotando políticas públicas fundamentais.

Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva e a continuidade do governo estadual sob a liderança de Carlos Brandão, surgiu uma nova janela de oportunidades. A parceria entre os governos estadual e federal pode permitir a retomada de investimentos, a execução de obras estruturantes e o fortalecimento de políticas públicas integradas. Contudo, o grande desafio que persiste é transformar essa conjuntura favorável em um projeto duradouro de desenvolvimento com justiça social e ambiental, capaz de retirar o Maranhão da condição de permanência nos piores indicadores sociais do país.

As desigualdades se aprofundam também devido à precariedade da infraestrutura básica. Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS, 2023), mais de 85% da população maranhense não tem acesso a esgotamento sanitário, e cerca de 40% vivem sem acesso regular à água potável. Essa exclusão compromete diretamente a saúde, a qualidade de vida e o potencial de desenvolvimento humano das populações afetadas.

Do ponto de vista econômico, o estado apresenta um dos menores PIBs per capita do país (IBGE, 2024), reflexo de uma economia reprimida, da informalidade predominante e da baixa produtividade do trabalho. A dependência de transferências federais — como FPE, SUS e FUNDEB — ainda responde por mais de 60% da receita estadual, o que reduz a capacidade autônoma de investimento público. Além disso, a estrutura tributária estadual é regressiva e penaliza especialmente os mais pobres, com alta incidência sobre o consumo de bens essenciais.

Diante desse cenário, é necessário e possível construir um novo modelo de desenvolvimento. Isso exige não apenas força política institucional, mas também força social, ou seja, um governo com base popular e ampla participação cidadã. O combate às desigualdades não será eficaz sem protagonismo popular, conselhos ativos, orçamento participativo e controle social sobre as políticas públicas.

Entre as medidas urgentes, destaca-se a necessidade de uma reforma agrária democrática, que inclua regularização fundiária, apoio à agricultura familiar e estímulo à agroecologia. A valorização dos saberes tradicionais, o fortalecimento das cadeias produtivas locais e a integração com o mercado interno são indispensáveis. A educação pública deve ser priorizada, com expansão das escolas técnicas, universidades interiorizadas e currículos voltados às vocações regionais.

No campo econômico, o Estado precisa fortalecer a economia solidária, o cooperativismo, os empreendimentos populares e os arranjos produtivos locais. A industrialização deve ser pensada de forma descentralizada e sustentável, a partir de cadeias como agroindústria, biotecnologia, pesca, turismo comunitário e reflorestamento. As compras públicas podem servir como um vetor de dinamização do mercado interno.

Por fim, a transição ecológica deve ser um pilar central, com foco em energias renováveis, recuperação de ecossistemas, saneamento básico e proteção das bacias hidrográficas. Esses setores têm o potencial de gerar empregos verdes e restaurar o equilíbrio socioambiental do estado.

Conclusão

O Maranhão precisa e tem condições de superar seu histórico de exclusão e desigualdade. Para isso, é fundamental consolidar os avanços institucionais já realizados, superar os entraves estruturais que persistem e ampliar a participação social na gestão do Estado. O desenvolvimento com justiça social e ambiental não é uma utopia, mas uma urgência histórica. Contudo, só será possível alcançá-lo por meio de vontade política firme, consciência coletiva, articulação efetiva entre Estado e sociedade, e compromisso real com o futuro das próximas gerações. A solução está em reverter as desigualdades — nunca as aprofundar. Retroceder não pode ser uma opção. Na atual conjuntura, o caminho mais adequado para o governador Carlos Brandão é fortalecer a aliança política com o governo Lula, implementando no Maranhão o Projeto Nacional de Desenvolvimento Econômico com Justiça Social e Ambiental, adaptado às particularidades e necessidades do estado.


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