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COLUNA
Diogo Gualhardo
Diogo Gualhardo Neves advogado e historiador.
Diogo Gualhardo

A guerra mundial que há de vir: de qual lado o Brasil estará?

Leio com verdadeira preocupação a notícia divulgada pela Folha de São Paulo de que o novo chefe militar da OTAN, no dia 17 último, disse acreditar em uma guerra aberta e conjugada contra a Rússia e a China a partir de 2027.

Diogo Gualhardo

Leio com verdadeira preocupação a notícia divulgada pela Folha de São Paulo de que o novo chefe militar da OTAN, no dia 17 último, disse acreditar em uma guerra aberta e conjugada contra a Rússia e a China a partir de 2027. Por causa disso, os assessores mais extremados do presidente Putin têm defendido um “ataque preventivo” contra o Ocidente. Isso não é nada mais, nada menos, que a dissuasão nuclear direta. Vários analistas entendem que a Rússia cogita atacar, de início, países europeus menores, a título de aviso às grandes potências. Seriam sacrificados, por exemplo, as nações bálticas ou a própria Ucrânia, antes que Berlim, Paris ou Londres se tornem alvos. Seja como for, seria o caos.

Os Estados Unidos já enterraram a postura isolacionista. A política tarifária do presidente Donald Trump deve ser vista sob uma perspectiva mais ampla, de realinhamento geopolítico mundial. Por muitos anos, o grupo dos BRICS transitou sem oposição mais contundente dos norte-americanos. Isso começou a mudar gradativamente a partir da anexação da Criméia pela Rússia, e, de forma mais clara, a partir da invasão de 2022. A política externa do Brasil também mudou nos últimos anos. Desde a ascensão dos militares ao poder em 1964, adotou uma postura de distanciamento controlado tanto frente aos Estados Unidos quanto à Europa, posto que ambos recusavam apoiar o regime em razão da violação dos direitos humanos. Ao mesmo tempo, óbvio, rejeitava a influência soviética. Esse lugar criado foi inovador e mesmo invejado a nível internacional. Era o auge da Guerra Fria. 

O quadro não mudou mesmo com a redemocratização e o colapso do bloco comunista. Isso, pelo menos, até o primeiro mandato do presidente Luís Inácio. Desde 2003, os governos do Partido dos Trabalhadores procuraram se aproximar da potência chinesa no campo econômico, e, no ideológico e militar, da Rússia. Em 2008, o Brasil adquiriu seus helicópteros de ataque MI-35, e, nos anos seguintes, modelos civis para serem operados pela Petrobrás. Havia planos para aquisição de baterias antiaéreas e outros equipamentos bélicos. 

Com a deposição da senhora Dilma Rousseff, essa aproximação foi abandonada, o que não significou, por infeliz que fosse, o retorno à postura construída no século passado. A eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro trouxe o alinhamento direito aos Estados Unidos, mas de uma forma nunca antes vista. Não se falaria mais em acordo entre estados, mas de indivíduos. Ele e o presidente Trump subsidiariam politicamente um ao outro. Pode ser incluído nesse pacto, inclusive, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. O terceiro mandato de Lula da Silva elaborou uma curva de cento e oitenta graus, retornando ao paradigma antiocidental. Agora, mais radicalizado. Uma das primeiras medidas do atual presidente foi receber o caudilho venezuelano Nicolás Maduro, preposto russo, a tapete vermelho em Brasília. Passou panos quentes na eleição fraudada por ele. Não satisfeito, em maio deste 2025, se sentou ao lado de ditadores mundiais nas comemorações do fim da Segunda Guerra Mundial em Moscou.

Quando ela eclodiu, em setembro de 1939, o país vivia sob o Estado Novo, a ditadura do ignominioso Getúlio Vargas e suas cores fascistas. É pouco sabido, mas a maior parte do alto oficialato brasileiro era favorável a uma aliança com a Alemanha de Hitler. Um de seus mais proeminentes defensores foi o ministro – e mais tarde presidente – general Eurico Gaspar Dutra. Por pouco o Brasil não integrou o Eixo. E só não o fez porque tomou um choque de realidade. Estava o país geograficamente muito distante dos nazistas e sem equipamentos militares. Os americanos aproveitaram o momento e invadiram a costa do Nordeste para a instalação de bases suas. Não exagero. Parnamirim, no Rio Grande do Norte, começou a ser demarcada por uma divisão anfíbia sem anuência do governo do Rio de Janeiro. 

Pois que estamos às portas da Terceira Guerra Mundial. Por uma coincidência nefasta do destino, sem armas. A FAB não voa, a Marinha sem navios, o Exército carece de meios. Bomba nuclear nem pensar. Por sua vez, os continentes ainda não se deslocaram o suficiente para aproximar nosso território da Rússia e da China. No entanto, os Estados Unidos estão próximos e muito mais armados do que nos anos 1940. Não duvido nem um pouco que, se o presidente Donald Trump achar necessário, requisitará nossas praias, e talvez todas as nossas terras. Como é sabido, não poderemos recusar o pedido. Nem GPS temos. Nem o Zé Carioca. 

Por fim, desconheço de que lado o Brasil estará no conflito que se avizinha. Porém, se eu pudesse dar um conselho a quem nos governa, recomendaria aproveitar a posição longínqua em que nos encontramos e adotar a política tradicional que tínhamos e que por ela éramos reconhecidos, isso sob pena de sofrermos uma intervenção militar, só que dos yankees. Não seria a primeira vez. 


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