Se a meia-entrada é tão boa, por que custa caro para todos?
A meia-entrada é um exemplo claro de intervenção que, sob o pretexto de inclusão, atrapalha o mercado.
Lendo o jornal, me deparei com uma notícia que me chamou a atenção: "Câmara aprova meia-entrada para mulheres em jogos de futebol". A proposta, da deputada Helena Lima (Roraima), justifica a medida dizendo que as arquibancadas não são acolhedoras para as mulheres, e que a meia-entrada facilitaria seu acesso.
Antes de discutir a proposta em si, vamos aos fatos matemáticos da meia-entrada, válidos para qualquer lugar. Pense num espetáculo de teatro que custa 50 mil reais por apresentação, considerando o pagamento de artistas, aluguel, som, transporte, e a diluição do custo inicial da produção.
Se o teatro tem capacidade para 250 pessoas e o produtor quer cobrir os custos e ter um lucro bruto de 10% (5 mil reais por show), cada ingresso deveria custar 200 reais. Mas, se 40% do público paga meia-entrada (100 pessoas), os outros 60% que pagam inteira teriam que desembolsar 266 reais para manter o mesmo lucro. Caso o ingresso inteiro continue a 200 reais e a meia-entrada a 100 reais, o resultado seria um prejuízo de 5 mil reais (45 mil arrecadados contra 50 mil de custo).
Essa matemática é inegável e se repete em qualquer setor: cinema, estádio de futebol, transporte etc.
Diante disso, a pergunta é: quem, em sã consciência, investiria num negócio desses, sabendo que não terá lucro e ainda pode ter prejuízo? Você aceitaria? Eu, com certeza, não. Respeito meu trabalho, como ensina a Bíblia. Fazer caridade é importante, mas deve ser com o que colhemos a mais, para ajudar quem tem menos.
Fábio Giambiagi, economista e professor da UFRJ e PUC-RJ, no livro "Capitalismo: Modo de Usar", mostra como certas políticas no Brasil desestimulam o empreendedorismo. A meia-entrada é um exemplo claro de intervenção que, sob o pretexto de inclusão, atrapalha o mercado. Ao tabelar o preço pela metade, ela distorce a precificação, reduz a receita dos produtores e, no fim das contas, desestimula o investimento, a inovação e a oferta de serviços de qualidade. Isso pode levar a menos opções e pior qualidade para todo mundo, inclusive para quem teoricamente se beneficiaria.
Eu ainda acrescento: em vez de ajudar a todos – pois a matemática mostra que o tal "benefício" é pago pelos outros – a meia-entrada acaba prejudicando. O espetáculo terá menos público, porque muitos dos 60% não aguentarão o preço mais alto. E o produtor vai pensar duas vezes antes de investir em algo mais elaborado ou em instalações melhores, já que o custo elevado pode impedir a participação de quem deseja ir.
Fiz uma busca rápida e vi que o ingresso de cinema no Brasil custa entre 12 e 80 reais, dependendo da cidade, cinema, sala e dia. Será que não teríamos mais gente no cinema se todos pagassem um valor menor e igual, sem meia-entrada? Pessoas com menor poder aquisitivo, que não são estudantes, jovens de baixa renda, deficientes, idosos, professores (e tem mais categorias por aí com leis locais de meia-entrada) também não seriam beneficiadas? Não pagaríamos todos menos? A matemática, de novo, diz que sim.
E depois dessa longa introdução, chegamos ao novo "direito" de meia-entrada do projeto de lei que, tenho certeza, será aprovado (no Brasil, político nenhum abre mão de pedir esmola com o chapéu dos outros). Essa lei dará meia-entrada às mulheres nos estádios de futebol.
É óbvio que os ingressos vão subir. O dono do time terá que contar com 40% de meia-entrada no planejamento de custos – mesmo antes de qualquer aumento na participação feminina. E nem sei se aumentará o número de mulheres nos estádios. Deixe-me explicar isso.
Mulheres são diferentes de homens, sim. Por isso, defendo cotas em alguns aspectos – mas isso é assunto para outro artigo. Essa diferença faz com que tenhamos gostos diferentes. Veja a quantidade de homens em um desfile de moda ou em uma apresentação de balé: a presença massiva é de mulheres.
E aí, a pergunta final: vamos dar meia-entrada para os homens em desfiles de moda e apresentações de balé? Acho que, na esmagadora maioria, eles continuarão sem ir.
Se a questão da meia-entrada nos estádios tem a ver com segurança, então que se coloquem mais seguranças, e não se prejudique a maioria, principalmente o mais pobre, que muitas vezes tem no futebol sua única opção de lazer.
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