(Divulgação)
COLUNA
Dr Hugo Djalma
Médico nutrólogo e neurocientista
Dr Hugo Djalma

A mágica da distração e a ilusão da consciência

Cada caminho seguido, inúmeros deixados para trás. Assim para cada palavra falada ou calada, pensamento reprimido ou alimentado, perspectivas positivas ou negativas, amizades que somam ou subtraem.

Dr Hugo Djalma

Para cada sim, infinitos nãos. Cada caminho seguido, inúmeros deixados para trás. Assim para cada palavra falada ou calada, pensamento reprimido ou alimentado, perspectivas positivas ou negativas, amizades que somam ou subtraem. A linearidade temporal da vida demanda decisões em praticamente tudo que fazemos; e assim construímos quem somos de forma quase automática. 

Porém, o grande ponto de inflexão é transitar nos bordos da voluntariedade; orbitar entre levar-se ou ser levado, entre ser piloto da própria vida ou, por vezes, ter a sensação de passageiro. Na tendência natural de pouparmos energia, inclusive cognitiva (aquela preguiça de pensar), a imensa maioria do comportamento coletivo humano é tão intuitivo quanto de outros mamíferos. Por essa fragilidade seus olhos são guiados intencionalmente para gerarem pontos de vistas previsíveis, desejos comuns, o jeito de tratar os cachorrinhos e, principalmente, as moedas de valores sociais materiais e comportamentais com finalidades capitalistas e de dominação de massa. 

No mundo da mágica, a lógica é uma só: direcionar a sua atenção! Distraí-lo e desviá-lo do que realmente interessa. A arte de distrair de outras distrações para escolher as suas distrações. O que os olhos não veem as mentes não concluem e o coração não sente.  

A cada segundo seu cérebro adiciona e deleta dados para filtrar o que considera mais adequado para a sobrevivência; e isso depende do que viveu. Ele calcula ininterruptamente com seu banco de dados e usa seu universo mental de possibilidades para os pensamentos automáticos que irão açoitar sua mente o tempo todo, inclusive nos sonhos. Então sua consciência pega essas informações e alimenta algumas delas projetando acontecimentos, riscos, dores, alegrias, desejos ou aversões. Por isso é extremamente difícil dizer a alguém sobre merecimentos que ele jamais imaginou viver. Mas a pergunta é: o quanto de sua consciência usa dados reais para conclusões reais? Ou será ela hoje mais vítima dos excessos abstratos? 

Para alguém do século XIX quando a música só podia ser reproduzida com partituras em tempo real, as histórias contadas em leituras de livros, podcasts em lições com mestres presencias, entretenimentos com teatros ao vivo, sedentarismo impossível para transportes diários e alimentação ultra processada ainda inexistente; o mundo fabricava gênios de forma circunstancialmente natural. Nos vem a dúvida: que tipo de mentes são construídas pelo mundo atual? 

Agora algo sobre os dias de hoje: o que você pensa, deseja ou expecta tem uma enorme chance de ser manipulado e, mesmo que saiba disso, ainda assim essa manipulação é maior que sua consciência. Há duas tendências no seu DNA que sobrepõem sua razão: a busca por recompensas com menos esforços e a mania irrevogável de categorizar tudo, até mesmo os copos da sua cozinha. 

Sabendo disso fica fácil dominar a mente de quem acha que tem direitos com pouquíssimos deveres. -Você merece tudo mesmo não tendo feito nada para isso e quem tem o que você quer é seu inimigo. Na contramão de quem não enxerga sua vida em perspectivas melhores, há quem acredite que merece tudo simplesmente porque existe e desconsidera o julgamento de méritos pelas suas atitudes. Criam-se grupos de tipos sexuais imaginados, dietas religiosas sem nutrientes, grupos políticos autoproclamados vítimas e até movimentos de sapiens conscientes fingindo possuir a consciência de cavalos e gatinhos. Tudo exercendo suas duas lacunas evolutivas: categorizar-se em algo coletivo e dali extrair benefícios parasitários. Bem-vindos à natureza humana. 

Imagine o final do dia de alguém que passou vendo danças no tik tok, vídeos engraçados no instagram ou fúteis no youtube. Que recursos esses cérebros têm para simular caminhos reais de prosperidade se ele dormiu meia-noite vendo a Virgínia dançando. A fábrica dos fantasmas da própria identidade; vagueiam sem saber. E isso pode ser intencional e você nem percebe. Quanto menos recurso de dados e emocionais temos, menos podemos criar coisas de nossa autoria. Funciona assim, quanto mais figurinhas vejo, mais desenhos posso criar. O oposto também é válido. 

Semelhança intencional temos nas religiões, políticas e na natureza humana interpessoal: precisamos fazer o outro não ver o que pode fazê-lo crescer. Criar verdades ilusórias na consciência do freguês para que consigamos parasitá-lo de alguma maneira. Algo como um purgatório se não der dinheiro ou não for bonzinho. Algo como “esconder seus livros e mostrar-lhe um brinquedo lúdico enquanto sua casa pega fogo”. A cada informação adicionada, um tijolinho a mais nos muros desordenados da vida de quem não controla seus olhos e sua mente. E você acaba não construindo sua casa e tendo que habitar na dos outros. Deixa de viver seus projetos de vida para ser munição na vida de alguém. Nem os santos têm ao certo a medida da maldade. 

Porém, ressaltaremos algo que não é sobre o homem explorando o homem, e sim, sobre você e você: os seus pensamentos. Quanto de sua mente automática influencia seu destino? Santo agostinho já falava sobre a ordem interior da disciplina onde o homem que domina a si encontra sua liberdade.  

Talvez agora alguém precioso a você está sendo assaltado ou ganhando dinheiro; talvez esteja comprando um carro novo ou se envolvendo em algum acidente; talvez esteja sendo diagnosticado com alguma doença ou iniciado programa de corridas e treinos. Em todos os casos, tudo que você produz e alimenta são pensamentos. Eles irão inevitavelmente gerar respostas físicas e de outros pensamentos e conclusões que guiarão sem comportamento. Assim você escreverá seu destino baseado nas suas verdades perceptivas. 

A sua vida é um presente contínuo de eventos ininterruptos que não voltam atrás. Por isso a primeira vez é sempre a última chance. Seu reloginho de vida não para e, dessa maneira, não decidir é sempre uma decisão. Dentre suas decisões, a melhor de todas é controlar seus pensamentos. Os monstros ou deuses, as possibilidade ou impossibilidades, as esperanças ou desesperos que você irá nutrir. Saber usar sua consciência para escolher o que deve alimentar sua mente e não deixar que o seu cérebro automático guie o que alimenta sua alma. Como dizia o imperador Marco Aurélio: “escolha suas batalhas sabiamente, nem tudo merece seu tempo e energia”. 

Porém já temos nossos problemas sedimentados e que devemos enfrentar por muito tempo ainda. A patologia mundial mais comum não começa no corpo físico e sim, na mente: a ansiedade e o medo excessivo da incerteza. Provavelmente você já experimentou ou conhece alguém que se entope de medicamentos para “tratar” seu transtorno generalizado. Alguém que passou décadas de vida encarando sua notas baixas em matemática sem precisar se anestesiar com sertralina ou fluoxetina e hoje não dorme sem o Rivotril. Mas quando a ansiedade deixa de ser “normal” para ser patológica? Quanto dos alimentos de sua ansiedade são ilusão? Ou melhor, distração? 

A ansiedade é um estado emocional caracterizada por medo, aflição e desconforto relativa a coisas futuras incertas ou que já até passaram (sim, podemos sentir ansiedade só de lembrar algo que nem existe mais). A forma como você percebe os estímulos externos carrega uma correspondência interior. Ela é um estado emocional filtrado evolutiva e essencialmente por seus benefícios pois sempre foi importante se concentrar no risco de ser atacado por leão ou de faltar comida na mesa. Quem era desprovido de prevenção acabou sucumbindo mais cedo. Porém, a principal função da ansiedade é exatamente uma: seu foco atencional! Sim, ficar ansioso por algo real nos leva a concentrar energia mental voluntária com presunções sobre os acontecimentos reais e que podem realmente salvar sua vida naquele momento. 

O problema é que a ansiedade pelas imaginações veio como culatra de um mundo muito mais presumido que real. Então com ansiedade focamos em coisas supostas que, geralmente, só existem na nossa mente. Então você acaba usando sua energia vital em excessos imaginados e, de maneira irrevogável, abre mão de focar em coisas reais e importantes para a sobrevivência. 

Por isso não devemos deixar nosso cérebro automático dirigir a qualidade de nossos pensamentos e, principalmente, o quanto acreditamos neles. A todo tempo somos bombardeados por pequenas sementes de raciocínios e lembranças e “escolhemos” quais regar. Você será guiado pelas previsibilidades do que está criando e priorizará os mais emocionais, um critério escravizador. Mas a pergunta mais importante é: E se você se distrair com o que realmente interessa? O restante você sabe, bem-vindo à vida real.  


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