
Análise da PNAD Contínua – 1º Trimestre de 2025 – Maranhão
É inegável o esforço do governador Carlos Brandão em conduzir o Maranhão rumo à superação do atraso econômico.
É inegável o esforço do governador Carlos Brandão em conduzir o Maranhão rumo à superação do atraso econômico. No entanto, é necessário adotar estratégias de desenvolvimento que combinem crescimento com justiça social e ambiental, assegurando o bem-estar da população. Para tanto, é fundamental acompanhar de perto os indicadores econômicos, compreendê-los em sua complexidade e propor políticas públicas capazes de enfrentar os desafios estruturais do estado.
O informativo da PNAD Contínua referente ao 1º trimestre de 2025, divulgado pelo IBGE, revela um Maranhão ainda profundamente desigual, marcado por oscilações conjunturais e entraves estruturais históricos. Apesar de uma melhora relativa em relação ao mesmo período de 2024, especialmente no volume total de ocupações, uma leitura mais aprofundada expõe um cenário preocupante: precarização das condições de trabalho, aumento da informalidade, ampliação do desalento e intensificação da desigualdade de renda.
A taxa de desocupação subiu de 6,9% para 8,1% entre o último trimestre de 2024 e o primeiro de 2025. Embora inferior à registrada no mesmo trimestre de 2024, essa elevação aponta para a fragilidade das dinâmicas econômicas locais. O aumento da desocupação no Maranhão foi proporcionalmente mais intenso que a média nacional, evidenciando a vulnerabilidade de estados periféricos e dependentes de transferências federais e do consumo interno — como é o caso do Maranhão — frente à desaceleração da economia formal, sobretudo nos setores público e industrial.
A perda de 53 mil postos de trabalho no setor público é um dos aspectos mais alarmantes da conjuntura atual. Essa redução decorre da falta de reposição de servidores aposentados ou exonerados, do congelamento de concursos públicos em áreas essenciais e da retração dos investimentos em políticas sociais e infraestrutura. Muitos contratos temporários não foram renovados por prefeituras, especialmente em ano pré-eleitoral, afetando áreas-chave como educação, saúde e obras públicas — setores tradicionalmente responsáveis por absorver significativa parcela da força de trabalho formal. Essa retração compromete não apenas o combate ao desemprego, mas também o papel do Estado como agente indutor do desenvolvimento e garantidor de direitos.
No setor industrial, a queda de 12% no número de vagas revela a baixa resiliência do segmento às variações macroeconômicas, além de refletir a ausência de uma política estadual consistente de industrialização baseada na sustentabilidade e na agregação de valor aos recursos naturais. A retração dos investimentos públicos impacta diretamente setores estruturantes, como o saneamento básico. Investir em água, esgoto e drenagem urbana significa investir em saúde, meio ambiente, empregos de qualidade e adaptação climática, contribuindo para reduzir desigualdades territoriais. Retomar e ampliar obras de saneamento deve ser uma prioridade estratégica.
A informalidade no Maranhão atingiu 58,4% — a maior taxa do país —, reflexo da ausência de um ambiente regulatório e de apoio à formalização dos pequenos negócios. Essa realidade empurra milhares de maranhenses para condições de vulnerabilidade e baixa produtividade. Mais de 92% dos trabalhadores por conta própria não possuem CNPJ, inserindo-se em circuitos econômicos instáveis, de baixa capacidade de acumulação e rendimento. Não por acaso, o estado ostenta o menor rendimento médio mensal do Brasil: R$ 2.088.
Outro dado alarmante é a subutilização da força de trabalho, que atinge 26% da população economicamente ativa. Entre eles, destacam-se os desalentados — pessoas que desistiram de procurar emprego por absoluta descrença nas oportunidades. São 331 mil maranhenses nessa condição, o maior número do país (10,3%). O desalento é expressão do fracasso das políticas públicas em gerar esperança, especialmente entre jovens, mulheres e populações periféricas.
Apesar de avanços pontuais — como o crescimento do emprego no comércio, no serviço doméstico e na agricultura —, esses setores oferecem ocupações geralmente precárias, com baixa remuneração e escassa proteção social. A expansão desses segmentos, por si só, não representa transformação estrutural.
O Maranhão precisa urgentemente de um modelo de desenvolvimento econômico que una justiça social e sustentabilidade ambiental.
É necessário construir um projeto de futuro que articule trabalho digno, proteção dos ecossistemas e inclusão produtiva. Essa estratégia deve estar fundamentada em uma nova perspectiva de desenvolvimento regional, pautada na economia do cuidado, na transição ecológica, na universalização dos serviços públicos e na valorização das vocações territoriais.
A economia maranhense deve ser reorganizada a partir de uma lógica regenerativa, que supere o extrativismo predatório e aposte na agroecologia, na bioeconomia, nas energias renováveis e na cultura popular. A criação de polos agroindustriais nos territórios rurais, com apoio técnico e crédito, pode integrar cadeias produtivas locais, fortalecer cooperativas e gerar empregos com sustentabilidade e soberania alimentar.
As obras públicas de saneamento básico precisam ser tratadas como eixo estruturante, não apenas para enfrentar a precariedade urbana, mas também como vetor de geração de empregos, promoção da saúde coletiva e valorização das periferias. Essa agenda deve caminhar lado a lado com a revalorização do setor público, por meio da realização de concursos e da recomposição de quadros nas áreas de educação, saúde, assistência social, fiscalização ambiental e planejamento urbano.
Os programas de transferência de renda devem estar articulados a políticas de formação técnica, educação popular para o trabalho e incentivo à economia solidária, promovendo autonomia e emancipação, em vez de dependência assistencialista. A interiorização dos institutos de educação profissional e tecnológica, com cursos conectados às realidades locais e voltados à inclusão de jovens e mulheres negras, é fundamental.
A criação de um Observatório Estadual do Trabalho e da Renda é essencial para acompanhar, de forma territorializada, o comportamento do mercado de trabalho, subsidiando decisões públicas com base em dados atualizados e em diálogo com sindicatos, universidades e movimentos sociais.
Superar essa crise não será obra do acaso nem resultado exclusivo do mercado. Exige vontade política, participação popular, pactuação federativa e coragem para romper com a lógica da precarização. A dignidade do povo maranhense exige que o trabalho volte a ser reconhecido como fonte de direitos, emancipação e justiça social e ambiental.
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