Durante os últimos seis meses, tenho confidenciado às pessoas mais próximas a experiência que vivi no período em que fui internado na UTI, exatamente no dia 22 de abril de 2024. Cheguei na emergência do UDI Hospital na madrugada desse dia, sendo recebido pelo médico plantonista, que teve todo o cuidado de me ouvir e averiguar meu quadro clínico. De antemão, solicitou um hemograma completo e minha hidratação através de soro. Como não havia dormido até então, cochilei. No momento que despertei, o susto veio ao constatar que minha visão estava escura, motivada por uma baixíssima pressão arterial (6 por 4).
Começava ali uma luta árdua para minha sobrevivência. Um ser microscópio agia para vencer minha estrutura física, uma bactéria do gênero “Streptococcus” tinha partido da minha faringe para se alojar nos meus rins, originando um conjunto de manifestações graves em todo meu organismo produzidas por uma infecção (sepse). Naquele momento, tive a certeza da minha fragilidade humana. Não conseguia acreditar e aceitar a evolução tão rápida do meu quadro: rins praticamente parados, coração fraquejando e respiração cada vez mais inadequada. Para a competente equipe médica não havia outra alternativa, senão me entubar, para preservar meu pulmão e melhorar a minha respiração.
Procurei não entrar em desespero, pois em minha frente estavam: uma esposa, três filhas e um genro assustados com os boletins dos médicos, diante dos inúmeros exames realizados. O meu estado clínico era gravíssimo. Na minha mente vinha sempre a mesma pergunta: Meu Deus, será que irei morrer aos 61 anos de idade? Comecei a preparar todos para o pior, mas garanti que lutaria com unhas e dentes pela vida, mesmo desconhecendo a força devastadora desse adversário, aparentemente insignificante.
Durante os oito dias que fiquei inconsciente por sedativos e paralisantes para minimizar o desconforto do tubo orotraqueal, tive uma experiência quase morte (EQM). O episódio inicial vivenciado era perturbador, um enredo sem coerência, acredito que estava no purgatório, onde os meus pecados e suas consequências me levaram a um processo de grande reflexão e de purificação, no final eu acabava fazendo minha viagem, terminando o meu ciclo terreno. No segundo evento, estou em um ambiente sombrio, à margem de um mar revolto. Um equipamento estranho ornamentado com uma figura mais aterrorizante ainda me foi apresentado, subdividido em várias peças que tenderiam a cair para registrar os meus pecados e se manter intactas, para minhas virtudes. Ouço uma voz me passando as coordenadas de funcionamento de tal instrumento, cujas peças começam a cair de forma desenfreada causando-me uma grande aflição. Naquele momento, só me veio à lembrança alguém que sempre atendeu meus clamores e súplicas, apesar do meu afastamento dos seus ensinamentos: Nossa Senhora, Mãe do nosso Salvador. Subitamente, as peças deixaram de cair e, nesse instante, fui transportado para dentro de um grande prédio com dimensões enormes, sendo recebido por um casal que me explicava como seria o meu caminho a partir dali. De um andar para o outro, após terminar a audiência com meu julgador, subia dois lances de escada e era recebido por outro casal, com os mesmos nomes que os primeiros, passando por novos julgadores e repetindo a mesma situação nos pavimentos posteriores até chegar no último. Neste, diferente dos demais, eu ouço uma voz dizendo que minha vida estava chegando ao fim. Vejo-me em uma grande cama larga, em formato de maca, acima da minha cabeça e dos meus pés, duas forças elétricas desassociadas. Novamente na minha mente, veio a pergunta: Meu Deus, será que irei morrer aos 61 anos de idade? A senhora que sempre me recepcionava nos andares com um companheiro, em formas corporais e cores da pele diferentes, me questionou: você não conseguiu perceber o significado dos nossos nomes? Nesse instante, os prefixos dos nomes se unem, a força elétrica se fecha e surge uma voz de trovão exclamando: EI, A ÚLTIMA PALAVRA É A MINHA, ELE VAI VOLTAR!
De fato, voltei com a extubação e os olhares alegres das pessoas ali presentes, testemunhando “um milagre”. A essa altura, não importava o fato de estar muito debilitado, de precisar de um longo período para me restabelecer, de passar por três intercorrências (derrame pericárdico, formação de trombos e sangramento do meu nariz), e de necessitar de exaustivas sessões de fisioterapia para fortalecer meu pulmão e minha musculatura atrofiada. O mais importante era ter a certeza que Deus havia determinado que minha história não havia chegado ao fim. As inúmeras manifestações e correntes de orações de todos os lados (familiares, amigos, colaboradores e de até pessoas desconhecidas) fizeram a minha conexão com Deus se restabelecer. Sua misericórdia, sua atenção e os nossos laços afetivos foram definitivamente resgatados.
Gratidão é a expressão que transborda na minha mente e no meu coração. Deus foi generoso comigo ao me conceder uma nova chance.
Márcio Ribeiro Machado é engenheiro Civil, empresário e atualmente ocupando o cargo de Secretário de Governo do Maranhão
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