(Divulgação)
COLUNA
Dr Hugo Djalma
Médico nutrólogo e neurocientista
Dr Hugo Djalma

O tempo livre e a insanidade (parte 1)

A necessidade inegociável da previsibilidade deve ser utilizada irrevogavelmente pelo cérebro funcionante automático.

Dr Hugo Djalma

A necessidade inegociável da previsibilidade deve ser utilizada irrevogavelmente pelo cérebro funcionante automático. Em outras palavras: não conseguimos deixar a mente parada. Contudo, usamos para nossas conclusões e previsibilidades o repertório vivido por cérebros vistos de um único ponto.

Até décadas de 80 a 90 usávamos quase 100% de nossas ocupações com coisas reais e não nos comparávamos com o blogueiro de 5 anos milionário na China. Acontece que nossas capacidades e reservas potenciais de atitudes e conclusões eram usadas em tarefas domésticas capinando o quintal, fritando ovo, jogando bola ou esperando o leiteiro para nós mesmos esquentarmos o leite no papeiro e tomarmos com Nescau. Havia um balanço do esforço-recompensa.

Mas o cérebro é feito para criar e simular problemas e resolvê-los. Como a tendência evolutiva é evitar riscos e economizar energia, nosso cérebro usa sempre a inteligência para essas duas fundamentações. Ou seja, ele cria mecanismos e tecnologias para termos cada vez mais recompensas com menos esforço e, consequentemente, sobrando mais tempo. Em diminuir riscos, a tecnologia evita que você se queime no fogão enquanto pode apertar um botão na cafeteira automática ou ficar com as mãos enrugadas de sabão quando não havia máquina de lavar; além de economizar energia, é claro. Outro fator que você deve observar na natureza das atividades que fazia na infância anterior aos anos 2000: capinar quintal, ir na feira ou esquentar o leite são todas as atividades para a melhora da vida tribal, coletiva. E isso muda tudo: sua importância real e reconhecimento de posicionamento hierárquico e das tarefas naquela família dão a você um significado de existência (eu existo e sou útil). Além de ser útil de verdade para aquela tribo, você automática e inconscientemente exige o reconhecimento e contrapartida de responsabilidade e contribuições dos outros das tribos; no caso, seus irmãos e pais.

Mas o fator de culatra que inicia todo desenho da desestrutura tribal é quando confundiram alimentar a importância e os significados das refeições familiares diárias com a recomposição meramente nutricional. Desde então, assim como uma empresa ou um time de futebol, nenhum organismo coletivo se sustenta sem coesão. E é isso que existe nos almoços diários das famílias. Um pai que sabe se o filho jogou bola e se ralou pergunta pelo placar do último jogo ou sobre o coleguinha que caiu e quebrou a clavícula; neste universo compartilhado tornam-se cúmplices e torcedores de suas confidências mútuas. A mãe sábia em silêncio observa a autoridade do pai e o respeito do filho se calando quando ele fala e, assim, sedimenta aquela estrutura hierárquica. Os planos coletivos de viagens eram mais importantes que a própria viagem e todos os dias havia reuniões para projetar o que fazer. Imagine em quem ele vai confiar suas dificuldades e planos quando estiver com problemas. Certamente não em um amigo do Instagram nem no pastor de BMW que fala em línguas. Se sua tribo for numerosa, forte e coesa menos você precisará minguar do estado "assistencialista" que dilacera sua riqueza.

Mas o assunto aqui é sobre o que fazer com o tempo que sobra?

Imagine uma energia interna que deve ser extravasada todos os dias e que não tem outro caminho senão direcionar. Essa energia é tão necessária ser extravasada que não decidir já é uma decisão! Sim, fazer nada é um caminho decidido subconscientemente.

O problema é que o cérebro humano conseguiu resolver problemas demais. Então quanto mais problemas ele resolve, mais tempo e energia sobram e menos esforço você faz para desligar a luz do quarto falando com alexa ou preparando o café apertando um simples botão!!

Pimba!! Além da necessidade de criar previsões com tendências para evitar riscos e, portanto, mais negativas, temos o desvínculo com nossos instrumentos diários e menos significado damos ao que usamos, mesmo que inanimados. Talvez isso explique por que estamos "retornando" aos produtos gourmet ou à pizza feita na lenha custando mais cara que as esquentadas no micro-ondas. Afinal de contas precisamos ritualizar e valorizar o café feito na meia pela esposa e com o pão frito do fermento que ela preparou (hoje nem conseguimos sequer imaginar isso).

Mas a primazia em questão é: caímos em duas lacunas que estão, a passos largos, afundando o sapiens a uma esfera de necessidade de outra arca de noé! Acredite, você vai entender.

Se você produz qualquer coisa que forneça a grande número de pessoas, tudo que quer é mais lucro com menos custo. Nada contra, pois sempre se trata de sua sobrevivência e de sua tribo. Mas pense em alguém que conseguiu isso em escalas inimagináveis, escravizando sua mente e de seus filhos ditando como você deve tratar o vizinho, que modo se vestir, o que deve aversar e com o que gastar seu dinheiro. Transfira esse poder a um consórcio de "ilusionistas". A utopia está pronta e abrange as linhas de frente com “inocentes úteis” que usam suas profissões para alimentar esta escravidão como o judiciário que muito se baseia nos achismos e os professores dizendo aos alunos que possuidores de riquezas são maus, mas querem ser ricos.

Mas o que fazer com o tempo livre que a tecnologia e o home office nos deram?...

As opiniões, crenças e posicionamentos expostos em artigos e/ou textos de opinião não representam a posição do Imirante.com. A responsabilidade pelas publicações destes restringe-se aos respectivos autores.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.